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Resenha || Elric de Melniboné - A Traição ao Imperador

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Antes de iniciar a resenha, gostaria de deixar aqui registrada minha imensa frustração por não ver tanto a famosa Stormbringer em ação neste livro inaugural da saga de Elric de Melniboné. Feito isso, podemos ir ao que interessa 😜

  Título da Série: Elric de Melniboné
  Título do Livro: A Traição ao Imperador (1º livro)
  Autor: Michael Moorcock
  Editora/Tradução: Generale (Selo da Editora Évora)/Dario Chaves
  Páginas: 182
  Ano de Publicação: 2014
  Onde Comprar: Amazon || Submarino || Saraiva || Cultura || Compre aqui e ajude o MeL
  Recomendo também: Leitura Mania || Judão

Sinopse “A história de Elric de Melniboné, o imperador albino e feiticeiro, é uma das grandes criações de fantasia moderna. Um fraco e introspectivo escravo de sua espada, Stormbringer, ele é também um herói cujas aventuras e andanças sangrentas levam-no, inevitavelmente, a intervir na guerra entre as forças da lei e do caos. Um clássico do gênero espada e feitiçaria. Neste livro, Elric enfrentará a ameaça ao império de Melniboné e transitará entre o uso da magia e seus princípios morais, que o impedem de tomar algumas decisões. Além disso, sua amada Cymoril encontra-se em perigo, e ele não medirá esforços para salvá-la.” 

Elric de Melnibonéé um clássico, isso é fato inegável. A edição que li, do selo Generale – Editora Évora, em muitos aspectos enche os olhos do leitor. Com capa dura, uma folha de guarda com motivos melnibonéanos (pelo menos acredito que sim 😆), e papel amarelado com gramatura 70g, certamente pode ser definido como uma edição de luxo. A arte de capa também é muito bonita, possui verniz localizado e retrata o personagem que intitula a série. Pela sinopse, eu esperava que fosse ficar embasbacada com o livro e a história que ele conta. Também imaginei que ficaria encantada, pois todas as resenhas e opiniões que li colocaram o livro no mais alto pedestal. Logo, assim que comecei a leitura, pensei que estaria encarando uma das melhores leituras da minha vida... Ledo engano – mas isso fica para o final.


Como eu me senti quando vi que todo mundo gostou da obra - até chegar na minha vez de ler.

O primeiro livro da saga de Elric, cujo título é A Traição ao Imperador, narra justamente esse fato. Ele é dividido em três partes, e os capítulos têm nomes curiosos – eles quase dão spoilers do que acontecerá, semelhante à nomeação dos episódios de Dragon Ball, sabem?



“Sua pele tem a cor de um crânio esbranquiçado; e o longo cabelo que escorre abaixo dos ombros é branco como leite. Da cabeça afilada, dois olhos oblíquos observam, rubros e taciturnos, e das mangas largas de seu manto amarelo emergem duas mãos esguias, também da cor de ossos, descansando cada uma em um braço de uma cadeira esculpida em um único e enorme rubi.”



Enfim. Neste primeiro volume temos contato com Elric, o imperador albino e feiticeiro de uma raça aparentemente em decadência. Melnibonéé apenas um reflexo do que foi no passado, ao mesmo tempo em que é governada por um nobre mais preocupado em suas introspecções e leituras do que em seguir à risca as tradições e costumes de seu povo. Embora parte dos súditos aceite de modo passivo esse líder visto como fraco, alguns estão inquietos, e isso inclui o primo de Elric e Príncipe dos Dragões, Yyrkoon. Ele está bastante insatisfeito com o modo como o imperador lidera Melniboné, chegando inclusive a culpar o seu governo pela decadência dos melniboneanos. Por outro lado, Cymoril, a irmã de Yyrkoon e amante de Elric, oferece a seu amado todo o apoio que consegue, tentando consolá-lo e fazê-lo entender que é um ótimo governante, porém a seu modo, e que os melniboneanos apenas não estão acostumados ao seu modo de governar.
Aproveitando-se do momento de fraqueza que vive Melniboné, os Reinos Jovens tentam invadir a Ilha do Dragão, pois descobriram um caminho pelo labirinto marítimo que separa o império melniboneano do resto do mundo. Uma guerra acontece, os bárbaros humanos são dominados e o imperador supostamente acaba morto nas águas do labirinto. É aí que o enredo começa, eis que Elric, invocando o Rei Straasha, Senhor de todos os Elementais das Águas, consegue sobreviver àquilo que na realidade foi uma tentativa de assassinato, frustrando a auto-nomeação de Yyrkoon como o mais novo imperador de Melniboné. À semelhança do Rei Alfredo com seu sobrinho, Æthelwold, em As Crônicas Saxônicas, Elric decidiu por muito tempo perdoar as traições e comentários impróprios do primo contra si, acreditando que por ser da família, merecia um tratamento condescendente. Até mesmo quando deveria matá-lo de imediato, ao retornar para Melniboné após o príncipe ter tentado afogá-lo, Elric prefere ordenar que Yyrkoon seja aprisionado na própria torre até o dia seguinte. Claro que o príncipe foge, raptando a irmã e levando consigo mais cem cavaleiros imrryrianos, saindo de Melniboné e buscando refúgio em local desconhecido para Elric por muito tempo.
– Morra, seu demônio de pele pálida! Morra! Você não tem lugar nesta terra! – (...) Elric quase se distraiu por causa dessas palavras. Elas soaram como verdadeiras para ele. Talvez ele realmente não tivesse lugar na terra, talvez por isso Melniboné estivesse lentamente entrando em colapso. Por isso, menos crianças nasciam a cada ano, e até mesmo os dragões não estavam mais reproduzindo.





Apenas quando envolve outra entidade, um Senhor do Caos chamado Aorich, Elric consegue descobrir o local em que Yyrkoon está escondido. Muitos meses se passaram, e durante esse tempo o príncipe treinou um suposto exército para invadir Melniboné e tomar para si o título de Imperador da Ilha do Dragão.


O livro é curto, com menos de 200 páginas. Embora reconheça a importância da obra para a fantasia moderna, confesso que me decepcionei um pouco com a história criada por Michael Moorcock para esse primeiro livro (primeiro em ordem cronológica, mas não de publicação). Talvez seja injusto avaliá-lo depois de ler Bernard Cornwell, mas com certeza senti falta de uma descrição minimamente boa das cenas de batalha, além de achar que o enredo foi linear demais. Nada de plot twists nem revelações escandalosas. É um livro que você pode encarar em dois dias ou numa tarde, caso não tenha mais nada para fazer, e não precisa se preocupar em queimar alguns neurônios para tentar entender o que está acontecendo: ele possui apenas uma trama, sem subtramas escondidas. Acho que o que quero dizer, de modo resumido, é que Moorcock poderia ter sido um tanto mais criativo na trama de A Traição ao Imperador.


Nickelodeon reaction bored spongebob squarepants boring
O Bob resume bem meus momentos de leitura 😕

Se você espera um destaque maior aos dragões e a Stormbringer, irá se decepcionar. A trama política também não foi muito bem arquitetada, sendo bastante lisa, sem ranhuras. Não sei se os próximos livros são diferentes, mas espero que sim. Moorcock certamente é um gênio do gênero, e não à toa influenciou nomes com George Martin e Neil Gaiman, então a esperança de me deparar com um livro superior ainda dentro da saga de Elric é grande.
Não sendo injusta, dedico aqui um parágrafo para falar o quanto Elric foi bem construído, e o quanto é um personagem interessante. Fugindo do lugar-comum aos melniboneanos, conhecidos por serem duros e cruéis, o imperador, frágil de nascença, cresceu lendo e relendo os livros da biblioteca de seu pai, de modo que possui conhecimento teórico de quase tudo que o cerca. Enxerga a vida aristocrática como enfadonha, vendo em Cymoril uma grata válvula de escape à estressante vida de governar Melniboné. Se pudesse, entregaria o trono de bom grado à Yyrkoon no começo do livro, mas ao mesmo tempo respeita rigidamente os costumes no tocante a esse assunto específico. Melniboné em si, ora conhecida como A Ilha do Dragão, é bem interessante e deve ter sido gloriosa em seu passado, mas atualmente está em declínio – não que você consiga ver isso olhando para as orgulhosas estruturas do império. Os Senhores dos Caos são constantemente mencionados durante a obra, embora aquele que apareça efetivamente seja Arioch. Há também os Senhores Elementais, o que me faz acreditar que a saga de Elric possua um panteão curioso e interessante, que certamente deverá ser explorado nos próximos volumes.

“(...) Nosso mundo está envelhecendo. Houve um tempo em que os elementais eram poderosos em sua dimensão, e o povo de Melniboné partilhava desse poder. Mas agora o nosso poder diminui, assim como acontece com o seu. Algo está mudando. Há indícios de que os Senhores dos Mundos Superiores estão novamente tomando interesse em seu mundo. Talvez eles temam que o povo dos Reinos Jovens tenham se esquecido deles. Talvez o povo dos Reinos Jovens ameace trazer uma nova era, onde deuses e seres como eu já não terão mais lugar. Eu suspeito que haja certo mal-estar nas dimensões dos mundos superiores.” 




Minha palavra final é: leia A Traição ao Imperador, só não com muitas expectativas de se deparar com uma obra maravilhosa. Como é tão exaltada por ser clássica e ter inspirado grandes nomes da literatura fantástica contemporânea, eu esperava ler algo que fizesse jus à genialidade de Martin. Certamente, à época em que foi publicado, o livro de Moorcock deve ter abalado as estruturas da sociedade, mas atualmente já possuímos a nosso alcance livros com tramas mais profundas e elaboradas, de modo que acabam por eclipsar a trama deste volume específico. É um livro bom, mas apenas isso.
Um artigo que poderá interessá-los bastante, a propósito, é esse aqui do Whiplash, que conta a influência que a obra de Moorcock teve em bandas de rock e heavy metal.










Resenha || O Oceano no Fim do Caminho

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  Título do Livro: O Oceano no Fim do Caminho
  Autor: Neil Gaiman
  Editora/Tradução: Intrínseca/Renata Pettengill
  Páginas: 208
  Ano de Publicação: 2013
  Onde Comprar: Amazon (E-book) || Submarino || Saraiva || Cultura || Compre aqui e ajude o MeL
  Recomendo também: Nuvem Literária || Sobre Sagas

Sinopse “Foi há quarenta anos, agora ele lembra muito bem. Quando os tempos ficaram difíceis e os pais decidiram que o quarto do alto da escada, que antes era dele, passaria a receber hóspedes. Ele só tinha sete anos. Um dos inquilinos foi o minerador de opala. O homem que certa noite roubou o carro da família e, ali dentro, parado num caminho deserto, cometeu suicídio. O homem cujo ato desesperado despertou forças que jamais deveriam ter sido perturbadas. Forças que não são deste mundo. Um horror primordial, sem controle, que foi libertado e passou a tomar os sonhos e a realidade das pessoas, inclusive os do menino. Ele sabia que os adultos não conseguiriam — e não deveriam — compreender os eventos que se desdobravam tão perto de casa. Sua família, ingenuamente envolvida e usada na batalha, estava em perigo, e somente o menino era capaz de perceber isso. A responsabilidade inescapável de defender seus entes queridos fez com que ele recorresse à única salvação possível: as três mulheres que moravam no fim do caminho. O lugar onde ele viu seu primeiro oceano.” 

Neil Gaiman certamente ganhou seu espaço no mundo literário com obras de caráter infanto-juvenil e que ainda apresentam um lado mais obscuro.
Em O Oceano no Fim do Caminho, publicado aqui no Brasil pela Intrínseca, Neil Gaiman nos retorna para infância, porém não deixando de lado o tom sombrio presente em suas obras. No livro, o narrador (em torno dos 40 anos de idade) vive uma vida monótona e retorna para sua cidade natal para o enterro de um amigo.
Lá o homem pega seu carro e vai até o fim de uma estrada até chegar na fazenda Hempstock e, ao observar o lago da fazenda, começa a se lembrar de sua infância na qual era um garoto sem muitos amigos que adorava ler seus livros e quadrinhos e tinha uma vida tranquila e normal.
Tudo muda quando seu pai decide alugar um dos quartos da casa para um minerador de opala que certa noite rouba o carro do pai do garoto e comete um suicídio. Tal evento desperta uma força misteriosa, perigosa e sombria que passa a afetar o menino e a todos ao seu redor.
“Como você pode ser feliz nesse mundo? Você tem um buraco no seu coração. Um caminho dentro de você para terras além do mundo que você conhece. Esses caminhos vão te chamar, no decorrer da sua vida. Nunca haverá um segundo no qual você conseguirá esquecê-los, no qual você não estará procurando por algo que não pode ter, algo que você não consegue sequer imaginar direito, e a falta disto irá arruinar o seu sono e o seu dia e a sua vida, até que você feche os olhos pela última vez, até que os seus entes queridos lhe deem veneno e o vendam para anatomia, e ainda assim você morrerá com um buraco dentro de você, e você irá lamentar-se e praguejar por uma vida mal vivida.”



O livro é muito mais do que uma história de um garoto em um mundo fantasioso (e assustador), ele aborda a diferença entre o mundo de uma criança e o mundo de um adulto, fazendo uma crítica sobre como vamos ficando amargurados conforme crescemos, sobre como esquecemos de como é ser uma criança. E ele faz tudo isso sob o ponto de vista de um garoto (cujo o nome não é mencionado), o que talvez seja o ponto chave do livro. É muito fácil se identificar com o personagem, pois acabamos trazendo lembranças e experiências de nossa própria infância.


O livro é curto, com menos de 200 páginas. Embora reconheça a importância da obra para a fantasia moderna, confesso que me decepcionei um pouco com a história criada por Michael Moorcock para esse primeiro livro (primeiro em ordem cronológica, mas não de publicação). Talvez seja injusto avaliá-lo depois de ler Bernard Cornwell, mas com certeza senti falta de uma descrição minimamente boa das cenas de batalha, além de achar que o enredo foi linear demais. Nada de plot twists nem revelações escandalosas. É um livro que você pode encarar em dois dias ou numa tarde, caso não tenha mais nada para fazer, e não precisa se preocupar em queimar alguns neurônios para tentar entender o que está acontecendo: ele possui apenas uma trama, sem subtramas escondidas. Acho que o que quero dizer, de modo resumido, é que Moorcock poderia ter sido um tanto mais criativo na trama de A Traição ao Imperador.
“Existem monstros de todos os formatos e tamanhos. Alguns deles são coisas de que as pessoas têm medo. Alguns são coisas que se parecem com outras das quais as pessoas costumavam ter medo muito tempo atrás. Algumas vezes os monstros são coisas das quais as pessoas deveriam ter medo, mas não tem.” 

O autor brinca com nossa percepção sobre o que é real e o que é imaginação. Em alguns momentos somos levados a acreditar que monstros existem e que o perigo é real. Em alguns momentos, a sensação que dá ao ler o livro é de estar em um pesadelo onde um protagonista inocente e indefeso lida com uma “força” que não compreende e que parece ameaçá-lo toda hora. Outras vezes o monstro é – de fato – real, sendo ele a maldade presente no interior das pessoas.



“Vou dizer uma coisa importante para você. Os adultos também não se parecem com adultos por dentro. Por fora, são grandes e desatenciosos e sempre sabem o que estão fazendo. Por dentro, eles parecem com o que sempre foram. Com o que eram quando tinham a sua idade. A verdade é que não existem adultos. Nenhum, no mundo inteirinho.”
Por fim, o livro nos lembra de que não deixamos de ser aquela criança apenas porque crescemos, e que por mais que as coisas estejam ruins e complicadas, se soubermos onde procurar (ou seja, se chegarmos de volta ao nosso “oceano”) encontraremos ela – a nossa criança interior.

“As memórias de infância às vezes são encobertas e obscurecidas pelo que vem depois, como brinquedos antigos esquecidos no fundo do armário abarrotado de um adulto, mas nunca se perdem por completo.”

Fica aqui a recomendação da vez.

 Este post foi escrito por Fabio Otsuka.


5 mulheres incríveis que Game of Thrones não mostra

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Se você só assiste Game of Thrones, certamente percebeu a complexidade da trama, dos personagens e das interligações entre eles de modo geral, que são de cair o queixo. Se você leu os livros, sabe que a série é brincadeira de criança se comparada à obra literária: muito mais detalhada, com muitos mais questões intrínsecas e mensagens nas entrelinhas. Por fim, se você é aquele tipo de fã que procura consumir todo tipo de material que sai sobre a saga, tem a absoluta certeza de que a criação de Martin é de uma profundidade indescritível e inimaginável. São tantas tramas e subtramas unidas, tanto passado e presente, que não consigo nem começar a pensar em como alguém pôde criar isso tudo sem perder a cabeça no meio do processo.
Como hoje, 08 de março, é o Dia Internacional da Mulher, achei bem digno trazer aqui à vocês cinco personagens femininas do universo de As Crônicas de Gelo e Fogo que não foram exploradas nos livros da saga. São mulheres vez ou outra mencionadas pelos próprios personagens, e que nos são melhores apresentadas na enciclopédia do universo de Martin, intitulada Mundo de Gelo e Fogo. Todas são memoráveis e não estão aqui por serem virtuosas e perfeitas - algumas tinham seus momentos de bruxas e outros momentos de fadas, comprovando a máxima de George R. R. Martinseus personagens não se dividem entre bons ou maus, e sim fazem parte de um único grupo - o dos humanos.


Rhaenyra Targaryen


Rhaenyra ficou conhecida como a Alegria do Reino. Foi a primeira filha de Viserys I Targaryen, e a única a sobreviver do casamento deste com Aemma Arryn. Quando tinha apenas oito anos de idade, Viserys a nomeou sua herdeira, contrariando o Grande Conselho de 101 dC, quando se decidiu que o Trono de Ferro jamais teria uma rainha. Ainda que mais tarde tenham nascido outros herdeiros de seu segundo casamento, Viserys jamais reviu sua decisão de nomear Rhaenyra como sucessora. Ele inclusive destituiu Sor Otto Hightower de sua função como Mão do Rei quando este começou a importuná-lo, perguntando incessantemente sobre a questão. Rhaenyra continuou sendo herdeira ao trono até o momento em que seu pai pereceu.
Quando Viserys morreu, Otto colocou o meio-irmão mais novo de Rhaenyra, Aegon II, no Trono de Ferro. Foi o estopim da Dança dos Dragões, embora possamos afirmar que as sementes para essa guerra civil foram plantadas desde o momento em que Viserys optou por ignorar as deliberações do Grande Conselho. Quando o pai morreu e o irmão foi coroado, Rhaenyra estava em Dragonstone dando à luz o sexto filho (natimorto). À esta altura, todos os defensores e aliados da princesa em Porto Real (conhecidos como Negros) estavam aprisionados ou mortos.
Àquela época, as crianças Targaryen, ao nascer, recebiam ovos de dragão, então a maioria tinha a própria criatura. Lucerys Targaryen (segundo filho de Rhaenyra com Laenor Velaryon), acabou morto por Aemond Targaryen (filho mais novo da Rainha Alicent com o Rei Viserys). Aemond, montando Vhagar, matou Luke e seu dragão, Arrax, que despencaram dos céus no mar e nunca mais foram vistos. Esta ficou conhecida como a primeira morte na Dança dos Dragões, e para vingar-se, Daemon (à época marido de Rhaenyra) enviou um assassino à Fortaleza Vermelha, que tirou a vida do herdeiro e filho mais velho de Aegon II.
Enfim, Rhaenyra, que um dia foi conhecida como Alegria do Reino, mostrou-se um terror enquanto esteve no poder. Ainda que seu reinado tenha durado pouco, recebeu a carinhosa alcunha de “Rei Maegor de Tetas”. Foi um governo tão bruto, violento e truculento que os próprios plebeus voltaram-se contra a rainha. Revoltados, protagonizaram o Assalto ao Fosso dos Dragões, evento cruel que tirou a vida das quatro criaturas que estavam em Porto Real: Shrykos (que pertencia a Jaehaerys Targaryen), Morghul (que pertencia a Jaehaera Targaryen), Tyraxes (do príncipe Joffrey Velaryon, que morreu ao tentar resgatar o dragão) e Dreamfyre (pertencente à esposa-irmã de Aegon II, Helaena Targaryen, que à esta altura já havia cometido suicídio).


O ASSALTO AO FOSSO DOS DRAGÕES POR PAOLO PUGGIONI.
A princesa Rhaenyra, totalmente destroçada emocionalmente após o Assalto, correu para os braços daquele que imaginou ser seu refúgio, Dragonstone. O que ela não sabia é que durante o tempo em que esteve em Porto Real, após derrotar Aegon II, o meio-irmão estabeleceu-se em Dragonstone e pôde recuperar as forças. Quando a princesa chegou na ilha, foi traída por Sor Alfred Broomer e teve o restante de sua Guarda Real assassinada. Aegon II Targaryen entregou Rhaenyra para ser devorada por Sunfyre na frente do próprio filho desta, Aegon III, e assim a outrora Alegria do Reino encontrou seu triste fim.
RHAENYRA E SUNFYRE, ENQUANTO AEGON III É FORÇADO À ASSISTIR A MORTE DA MÃE.



Alicent Hightower


Alicent era filha de Otto Hightower. À época em que seu pai foi nomeado Mão do Rei pelo Rei Jaehaerys I (que governou anteriormente à Viserys I), chegou em Porto Real com apenas quinze anos. Quando o rei estava perto de morrer, Alicent tornou-se sua companhia (sem segundas intenções aqui), distribuindo-lhe cuidados e afeto, lendo todos os dias antes que Jaehaerys dormisse. Jaehaerys morreu, e Viserys I assumiu.
Quando a primeira esposa de Viserys faleceu, o Conselho recomendou que o novo rei tomasse Laena Velaryon como mulher, para assim fortalecer os laços entre as casas. O rei, porém, recusou-se, preferindo pedir a mão de Alicent. O casamento aconteceu e durante algum tempo, Rhaenyra e Alicent, madrasta e enteada, se deram muito bem. Até o momento em que a rainha teve os próprios filhos.
Veja bem, havia aí um conflito de interesses. Antes de ter herdeiros do sexo masculino, Viserys nomeara Rhaenyra como sucessora, como já dito acima. O fato de o rei não ter retificado a ordem mesmo depois de Alicent ter dado à luz a dois filhos homens a incomodou imensamente. A rainha começou a odiar a princesa, ódio esse que progressivamente foi sendo correspondido.
Quando Rhaenyra completou dezesseis anos, o pequeno conselho começou sua busca por alguém com quem a princesa pudesse casar-se. A rainha sugeriu o próprio filho mais velho, Aegon, mas Viserys recusou, pois sabia das verdadeiras intenções de Alicent – garantir o Trono de Ferro para seu herdeiro. Daí você pode imaginar a ambição da Hightower. As desavenças e provocações entre a rainha e a princesa perduraram até o fim da vida de ambas.Enfim, Rhaenyra, que um dia foi conhecida como Alegria do Reino, mostrou-se um terror enquanto esteve no poder. Ainda que seu reinado tenha durado pouco, recebeu a carinhosa alcunha de “Rei Maegor de Tetas”. Foi um governo tão bruto, violento e truculento que os próprios plebeus voltaram-se contra a rainha. Revoltados, protagonizaram o Assalto ao Fosso dos Dragões, evento cruel que tirou a vida das quatro criaturas que estavam em Porto Real: Shrykos (que pertencia a Jaehaerys Targaryen), Morghul (que pertencia a Jaehaera Targaryen), Tyraxes (do príncipe Joffrey Velaryon, que morreu ao tentar resgatar o dragão) e Dreamfyre (pertencente à esposa-irmã de Aegon II, Helaena Targaryen, que à esta altura já havia cometido suicídio).
Lembra daquele breve período em que Rhaenyra esteve no poder em Porto Real? Alicent foi aprisionada assim que a princesa tomou o controle. A linhagem da Hightower não prosperou. Aemond e Helaena, seus filhos, morreram durante a Dança dos Dragões, e Aegon II morreu um semestre depois de entregar Rhaenyra à Sunfyre. A sua única neta restante, Jaehaera Targaryen, que casou com Aegon III (filho de Rhaenyra, o mesmo que assistiu a morte da mãe) como parte de um acordo de paz, nunca teve filhos. Jaehaera tinha apenas oito anos quando casou, e dez quando cometeu suicídio ao jogar-se da Fortaleza de Maegor.

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Baela Targaryen



Baela foi a filha do príncipe Daemon Targaryen e da senhora Laena Velaryon, a segunda esposa de Daemon (antes de Rhaenyra). Nasceu em Pentos com a irmã gêmea, Rhaena, durante a fuga empreendida por Daemon e Laena logo após estes se casarem secretamente.
Apesar de Daemon e Viserys I Targaryen terem brigado há algum tempo, quando o casal retornou a Westeros com as filhas Daemon pediu que o rei as abençoasse, o que este fez sem pestanejar em razão de ainda amar o irmão. Pouco antes, a princesa Rhaenyra Targaryen havia dado à luz Jacerys Targaryen, de modo que Baela ficou prometida a ele, seu primo.
O que mais chamou atenção na história de Baela, apesar de seu pouco tempo de vida, foi exatamente a coragem que herdou da mãe e do pai, ambos domadores de dragões. Enquanto Daemon se tornou conhecido pela valentia, ficou reconhecido que Laena Velaryon, em seus últimos instantes de vida, tentou montar seu dragão, Vhagar, antes de sucumbir. Baela não chegou a conhecer a mãe, que morreu três dias após dar à luz, mas certamente herdou dela toda a garra que possuiu.
Baela Targaryen quase pereceu aos catorze anos durante um “duelo de dragões” com seu primo, Aegon II Targaryen, e o dragão deste, Sunfyre, conhecido como a mais bela das criaturas a voar sob o céu westerosi. O embate ocorreu logo após o final da guerra civil conhecida como Dança dos Dragões, em Dragonstone. Enquanto Aegon conseguiu saltar das costas de Sunfyre no último instante, o que acabou por estilhaçar suas pernas, Baela não teve a mesma sorte e caiu com Moondancer, que morreu logo em seguida. Antes, no entanto, que a moribunda princesa fosse assassinada de vez por Sor Alfred Broome, Sor Marston Waters retirou a espada das mãos do homem e poupou a vida de Baela.
Sabe-se que Baela foi salva e curada, e que se casou com seu primo, Lorde Alyn Velaryon. Mereceu uma menção aqui justamente por sua coragem em enfrentar, aos catorze anos, o primo mais velho, completamente sozinha, pois todos já haviam passado para o lado de Aegon II Targaryen, traindo o pai da garota, Daemon.


Princesa Nymeria


Você já conhece Nymeria. E ao mesmo tempo talvez não conheça. Sim, a loba de Arya Stark recebeu esse nome, e foi exatamente por conta de Nymeria, que ficou conhecida como princesa/rainha guerreira*.
A roinar, princesa de Ny Sar, se fez notar num momento de conflito intenso entre os roinares e os valirianos. Os povos de Roine eram conhecidos por seu orgulho e independência, e foram essas duas características que arruinaram a todos. Enquanto os senhores de Valíria não hesitavam em pedir ajuda uns aos outros e mesmo a outras raças para travar as guerras, os roinares não prestavam auxílio nem entre si, cada um encarando sua própria luta. Com isso, mais perdiam as batalhas do que ganhavam. Foi então que o príncipe Garin de Chroyane propôs a todos os roinares que se unissem contra a ameaça valiriana. Tudo deu certo na primeira batalha, quando havia apenas três dragões... O problema foi na seguinte, quando os senhores de dragões trouxeram, segundo relatos, mais de trezentas das criaturas.
OS ROINARES ENCARANDO O PODER DA CIDADE FRANCA.

Nymeria foi a única princesa a se opor à ideia de Garin, já supondo que não daria certo. Quando recebeu a notícia da derrota do príncipe, a mulher reuniu o máximo de mulheres, crianças e idosos que conseguiu e colocou todos em mais de dez mil navios, segundo relatos, fugindo da ameaça dos dragões e seus senhores. Enfrentou muitas adversidades, tanto humanas quanto naturais, e mais uma série de pequenas guerras em cada lugar que tentava se estabelecer (por isso ficou conhecida como princesa guerreira), até enfim encontrar um novo lar definitivo para seu povo.
Foi apenas quando seguiu para Westeros e aportou em Dorne, com uma frota muito ínfima se comparada ao número original, que Nymeria sossegou. A princesa deparou-se com uma terra pobre, em que vários nobres e reis de menor porte brigavam entre si por cada metro quadrado da terra. Mors Martell, Senhor de Lançassolar, afastou-se das guerras assim que colocou os olhos em Nymeria, pois apaixonou-se pela princesa.
Nymeria e Mors Martell casaram-se, e assim fizeram os seus povos. Os súditos da princesa que chegaram em Dorne uniram-se aos dorneses, constituindo família e fincando raízes. O que Dorne é nos dias atuais deve muito àquela união entre a princesa de Ny Sar e o Senhor de Lançassolar. Mesmo após a morte de Martell, Nymeria ainda casou-se mais duas vezes, mas o que ficou incontestável nos anais da história foi o fato de que a princesa sempre tratou-se da verdadeira governante, enquanto seus maridos eram meros conselheiros.
NYMERIA E MORS MARTELL.
*Princesa/rainha eram títulos similares na cultura roinar, de modo que não fazia diferença chamar Nymeria de Rainha ou Princesa.


Shiera Seastar


Shiera foi a última dos Grandes Bastardos de Aegon IV, o Indigno; logo, foi irmã de BlackfyreBloodraven e Bittersteel. Nascida da última amante do rei, Serenei de Lys, Shiera foi considerada uma das mulheres mais lindas dos Sete Reinos – senão a mais bela de todas. Sedutora, além dos cabelos típicos de uma Targaryen, a mulher possuía uma singularidade: olhos bicolores, sendo um azul e o outro, verde. Como a sua mãe era uma conhecida manipuladora de artes das trevas, suspeitava-se que Shiera herdara essas habilidades, bem como que banhava-se com sangue de virgens para manter sua beleza e aparência jovem.
Shiera é mais conhecida entre os leitores como a possível única mulher que Brynden Rivers amou em vida. Em A Dança dos Dragões, o vidente verde afirma à Bran Stark que houve uma mulher que ele desejou. Poderia ser qualquer uma, não fosse o easter egg em O Cavaleiro dos Sete Reinos, quando Egg (Aegon V Targaryen) replica a crença de que Shiera banhava-se em sangue de virgens, acrescentando que ela era a paixão de Bloodraven/Brynden.
BRYNDEN RIVERS/BLOODRAVEN E SHIERA SEASTAR.

– Talvez eu não saiba sobre senhoras nobres, mas conheço um garoto que está pedindo por um bom tapão na orelha. – Dunk apertou a nuca. Um dia usando cota de malha sempre o deixava duro como madeira. – Você conhece rainhas e princesas. Elas dançam com demônios e praticam artes negras?
– A Senhora Shiera sim. Amante de Lorde Corvo de Sangue. Ela se banha em sangue para manter a beleza. E uma vez minha irmã Rhae colocou uma poção do amor na minha bebida para que eu me casasse com ela no lugar de minha irmã Daella.
Shiera nunca se casou de fato, embora muitos tenham lutado pelas suas mãos, inclusive matando uns aos outros, para estar ao seu lado. O mais apaixonado sem dúvida foi Bloodraven, que competia pela atenção e amor da bastarda com o próprio irmão, Bittersteel. Segundo Barristan Selmy, o fato de ambos amarem Shiera fez o reino sangrar.



Teorias sobre Shiera Seastar


Em que pese haver poucas informações da personagem, há muitas teorias que a envolvem. Uma delas é que pode ser a mãe de Melisandre. O primeiro argumento que embasa a tese é a semelhança óbvia entre as duas. Ambas são descritas como esguias, de seios fartos, com os rostos em formato de coração e possuindo uma beleza tão estonteante que é difícil desviar o olhar.
A teoria vai mais além. Como ninguém sabe exatamente o que aconteceu à Shiera, pode-se presumir que decidiu ir para o Leste, tentando chegar a Lys (de onde Serenei, sua mãe, era), ocasião em que foi capturada e vendida como escrava. Isso explicaria porque Melisandre, como sabemos, foi escrava na infância. Duas poderiam ter sido as motivações para a fuga de Shiera: a demonização e condenação de bastardos que se tornou comum na Era Blackfyre, ou a tentativa de esconder de Maekar e da corte no geral uma possível criança que carregava no ventre, quem sabe gerada por Bloodraven.
Aqui, vamos considerar um pouquinho da série. Apenas imagine que o que vimos na sexta temporada – uma Melisandre velha sem o colar de rubi – seja real também nos livros. Isso tornaria ainda mais provável a possibilidade de que a sacerdotisa vermelha seja filha de Shiera Seastar. Ademais, sua habilidade com as artes das trevas podem ser hereditárias. Talvez tenha herdado da mãe, que herdou de Serenei. Por que não? Manipular o oculto para manter a aparência jovial e bela recorda exatamente ao que se dizia sobre Shiera, e é o que Melisandre faz.
COMO ESQUECER, NÉ?
Enfim, há muita coisa a ser destrinchada sobre essa teoria específica. Se você quer saber um pouco mais sobre, comente aí embaixo ou mande um corvo. Quem sabe não tenha aqui uma postagem especial dedicada à Melisandre?

Há outra teoria, ainda, que diz que Shiera Seastar seria Quaithe. Como dito anteriormente, mãe e filha eram conhecidas por usar artes das trevas e o oculto para manterem-se belas e jovens. Havia rumores, inclusive, de que Serenei seria mais velha do que o próprio rei. A teoria alega que Shiera poderia muito bem ter utilizado feitiçaria para manter sua aparência por tantos séculos. A máscara de Quaithe nada mais seria que uma forma de Shiera ocultar a sua famosa aparência – afinal, seus cabelos Targaryen e os olhos descombinados continuam conhecidos como sendo apenas seus, de modo que seria facilmente reconhecida. Quaithe conhece muitos idiomas e é inteligente – características estas que eram atribuídas à Shiera desde a infância.


A parte mais legal dessa teoria é que, se ela se confirmar, temos dois amantes aconselhando os lados mais importantes da guerra que está por vir, talvez manipulando-os para travar a própria guerra. De um lado, Bloodraven guia Bran; de outro, Quaithe conduz Daenerys. Ainda nesse viés, estariam presentes no contexto atual Bittersteel (através da Companhia Dourada) e Blackfyre (através do jovem Aegon). Os Grandes Bastardos de Aegon, de um modo ou de outro, ainda vivem. Talvez isso seja o mais interessante na teoria, e o motivo de eu preferi-la à anterior, ainda que tenha menos evidências.
A última teoria – e mais engraçada, em minha opinião – diz que Shiera Seastar seria a Velha Ama. É... Acho que podemos encerrar por aqui.

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COMO NUNCA PENSEI NISSO ANTES?


As fontes para esse post lindão, que eu particularmente amei fazer, foram: Reddit, A Wiki of Ice and Fire Wiki, Game of Thrones BR Wiki e, claro, O Mundo de Gelo e Fogo. Se você gostou da postagem, deixa um comentário e uma curtida aí pra gente saber e sempre trazer esse tipo de material para o Me Livrando 💜




Resenha || A Guerra Que Salvou a Minha Vida

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  Título do Livro: A Guerra Que Salvou a Minha Vida
  Autor: Kimberly Brubaker Bradley
  Editora/Tradução: DarkSide Books/Mariana Serpa Vollmer
  Páginas: 240
  Ano de Publicação: 2017
  Onde Comprar: Amazon || Submarino || Saraiva || Compre aqui e ajude o MeL
  Livro cedido em parceria com a editora.


Sinopse “A Guerra que Salvou a Minha Vida é um daqueles romances que você lê com um nó no peito, sorrisos no rosto e – entre um parágrafo e outro – lágrimas nos olhos. Uma obra sobre as muitas batalhas que precisamos vencer para conquistar nosso lugar no mundo. Ada tem dez anos (ao menos é o que ela acha). A menina nunca saiu de casa, para não envergonhar a mãe na frente dos outros. Da janela, vê o irmão brincar, correr, pular – coisas que qualquer criança sabe fazer. Qualquer criança que não tenha nascido com um “pé torto” como o seu. Trancada num apartamento, Ada cuida da casa e do irmão sozinha, além de ter que escapar dos maus-tratos diários que sofre da mãe. Ainda bem que há uma guerra se aproximando. Os possíveis bombardeios de Hitler são a oportunidade perfeita para Ada e o caçula Jamie deixarem Londres e partirem para o interior, em busca de uma vida melhor.” 

A Guerra Que Salvou A Minha Vida é um livro publicado por Kimberly Bradley em 2015, arrebanhando desde então uma série de prêmios e indicações, muito bem aclamado pela crítica. Para você ter uma ideia, a média da obra no Goodreads está em 4,4. Tornou-se leitura obrigatória em muitas escolas pelo mundo – aliás, não acho que seria má ideia adotá-lo no Brasil também. É um livro que trata sobre diversos temas, envolvendo preconceitos e até uma pitadinha de sexualidade (explico no final do texto porque acho isso).
Ada Smithé uma inocente garotinha de dez anos – ou talvez onze ou doze, mas com certeza não catorze. Outrora, seu mundo sempre se resumiu ao que conseguia ver da janela de sua casa, e o horizonte que se estendia até perder de vista era tudo o que conhecia. Vivia uma vida miserável, mas sem saber o quão miserável era. Aprisionada dentro do próprio lar e do próprio corpo, vivia com uma mãe que não apenas não a queria, como também tinha nojo da filha que colocara no mundo. Todo aquele preconceito, desprezo, humilhação, ódio, pavor e abuso psicológico eram parte da rotina de Ada, nesta obra inicialmente ambientada em uma Londres não muito bonita, lá em 1939.

Detalhes: a folha de guarda imita a rachadura na parede sobre a qual Ada comenta no livro 
Acontece que Hitler e sua Segunda Guerra Mundial parecem se aproximar cada vez da cidade, onde Ada e sua família residem. Ironicamente, é com a iminência da guerra que Ada consegue alcançar sua própria liberdade. Ela toma conhecimento de que todas as crianças serão levadas embora para o interior por conta da ameaça de bombardeio em Londres, e mesmo que sua mãe diga que ela não irá, Ada resiste. A garota, que nasceu com uma doença congênita vulgarmente conhecida como "pé torto" (e por isso é desencorajada a sair de casa e até, em última instância, a viver), decide por conta própria arriscar os primeiros passos. Acostumada a rastejar pelo apartamento, até suas costas doem quando fica ereta, mas entre tantas palavras que Ada não conhece, "desistência" nem passa perto de sua cabeça. Depois de muito sangue, feridas abertas e uma dor que quase a parte no meio, a menina parece estar pronta.
Quando os trens chegam para levar as crianças embora, Ada, agora arriscando passos incertos e dolorosos, embarca com seu irmão de seis anos, Jamie, sem o conhecimento da mãe. Cruel e brutal, a Mãe nunca deixaria que a filha defeituosa e "porcaria" fosse junto com as outras pessoas normais. Afinal, Ada era uma aberração. Um erro da natureza. Marcada por culpa própria com um pé defeituoso, que se arrastava pelo chão como o verme que de fato era – pelo menos assim a Mãe queria fazê-la crer. E Ada acreditava.

“Deixa de insolência”, ela disse. Sua boca se contorceu no sorriso que me apertava as entranhas. “Você não pode ir embora. Nunca vai poder. Está presa aqui, bem aqui nesta casa, com ou sem bombas.



Ada e Jamie desembarcam em um interior da Inglaterra como crianças evacuadas. Todos aqueles meninos e meninas de Londres maltrapilhos e fedidos não agradam os moradores do interior, mas esses dois, especialmente, são deixados por último porque ninguém quer levar Jamie e, a tiracolo, Ada. Lady Thorton, coordenadora do Serviço Voluntário Feminino, não tem muita opção senão alocá-los com Susan Smith – uma mulher que parece tão disposta a aceitá-los como aceitaria cuidar de uma dupla de gambás.
Mas, claro, as coisas mudam. Ada encontra no interior uma vida que não imaginava sequer existir, quanto mais ser sua. Jamie, Susan e a garota viram uma família, mas Ada recusa-se a acreditar que é amada simplesmente porque não conhece o amor. Cheia de traumas causados pelos abusos psicológico e físico provocados pela Mãe, não vai ser tão fácil assim fazê-la entender que não é uma aberração, que seu "pé feio" não a torna indigna de viver. Mas Deus sabe como Susan a ama e fará com que se sinta amada, bem como Jamie.

“Era como se eu tivesse nascido ali na vila. Como se tivesse nascido com os dois pés bons. Como se fosse realmente importante e amada.”



Este não é um livro sobre a Segunda Guerra Mundial. É uma ficção que a utiliza como plano de fundo, para dessa forma apresentar a guerra que realmente assola a vida de Ada  aquela contra a Mãe e todos os meios e anseios que a assolam. Ainda assim, dá um calorzinho no coração ver um evento tão trágico ser utilizado de modo a proporcionar uma coisa boa, ainda que seja fictício. A Guerra Que Salvou A Minha Vida não tem um final exatamente feliz, e sim agridoce, repleto daquele sentimento que nos arrebata a alma e faz com que fiquemos meio melancólicos, como se ao virar a última página, algo ficasse faltando dentro da gente depois.
A narração toda é feita pela Ada Smith, e é muito convincente em mostrar para o leitor todos os anseios que permeiam o coração de uma menina nova demais para suportá-los. As cenas que envolvem Manteiga, o cavalo que se torna o refúgio de Ada, são as melhores para mostrar a sua persistência e insistência em nunca desistir. A inocência com que encara a própria condição – "aleijada", como sempre ouviu – contrasta com a maturidade que precisa ter para cuidar do irmão mais novo e aguentar a guerra.


“Vai cavalgar o Manteiga quando chegar em casa?”
“Acho que sim. Ainda não consigo fazer ele trotar.”
“Persistência. É o que a Lady Thorton diz.”

Eu tinha perguntado. Persistência era não desistir de tentar.

Sobre a questão da sexualidade que comentei acima, os meninos chegam a Susan num momento em que ela está bem fragilizada por conta da morte da moça com quem residia, a Becky (a quem pertencia o Manteiga). Você verá que Susan deixa nas entrelinhas que talvez tenha havido um relacionamento amoroso entre as duas, embora não afirme isso. Foi o que entendi, pelo menos. Enfim eu não li todos os livros do selo #DarkLove, mas entre os que li, esse com certeza consegue ser o melhor.

“Eu nunca quis ter filhos porque a gente não pode ter filho sem se casar, e eu nunca quis me casar. Quando a Becky morava aqui comigo, eu era a pessoa mais feliz do mundo. Não teria trocado aquilo por nada, nem por filhos.”


Agora uma seçãozinha para mostrar a vocês o quanto de amor veio no pacotinho que entregou esse livro lindo na minha casa. Derreti sim!

Olha só quanta coisa!

Em breve num quadro bonitão pra se tornar parte do meu quarto <3

O kit mais necessário que você respeita! Uma alusão à atividade que Ada tenta dominar <3

Também veio com três fotos dessa, tiradas realmente na Segunda Guerra Mundial.

💓


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Resenha || Sobre a série Os Treze Porquês

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Os Treze Porquês

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  Título da Série: Os Treze Porquês/Thirteen Reasons Why
  Criador: Brian Yorkey
  Emissora original: Netflix
  Episódios: 13 (1ª temporada)
  Estreia: 31 de março 2017
  Adaptação da obra Os Treze Porquês de Jay Asher.


Sinopse “Baseada no best-seller de Jay Asher, a série original Netflix 13 Reasons Why acompanha Clay Jensen que, ao voltar da escola, encontra uma caixa misteriosa com seu nome na porta de casa. Dentro dela, ele encontra fitas-cassetes gravadas por Hanna Baker - sua colega de classe e paixão secreta - que cometera suicídio duas semanas antes. Nas fitas, Hanna explica as treze razões que a levaram à decisão de acabar com a própria vida. Será que Clay foi uma delas?” 
Eu não sou o único viajante
Que não reembolsou a sua dívida
Eu tenho procurado por uma trilha para seguir novamente

Qual o motivo do tamanho sucesso da série? O que ela tem para causar tanto impacto na internet?
Roteiro excelente, direção e edição sensacionais, atuações primorosas e uma ótima trilha sonora se fazem presentes, mas o ingrediente especial que a torna única é o fato de abordar um tema que atinge milhares de pessoas ao redor do mundo: o bullying.
A trama gira em torno de uma escola de ensino médio dos EUA e começa com o personagem Clay Jensen lidando com o suicídio de uma colega de escola, Hannah Baker. Ao chegar em casa, Clay encontra uma caixa com sete fitas cassete gravadas por Hannah e que narram os 13 porquês de ela ter se suicidado, sendo que cada motivo foi causado por uma pessoa da escola. Ao todo, 13 indivíduos contribuíram para o suicídio de Hannah, incluindo o co-protagonista Clay Jensen. Confesso que quando vi a sinopse não fiquei muito empolgado e a razão foi o núcleo adolescente da série, logo de cara já pensei nas crises existenciais estereotipadas que vemos em Malhação. Resolvi deixar meu preconceito de lado e ver o primeiro episódio; descobri que não poderia estar mais errado e não consegui parar de ver a série. E quando não a estava vendo, me peguei pensando nela, simplesmente não saía da cabeça.
Vale ressaltar que a série é uma adaptação do livro Os 13 Porquês do autor Jay Asher. Como não li o livro não abordarei a questão da adaptação e diferenças entre as duas mídias.


Leve-me de volta para a noite que nos conhecemos
E então eu posso dizer a mim mesmo
O que diabos eu tenho que fazer
E então eu posso dizer a mim mesmo
Não andar junto com você

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O motivo de Hannah ter gravado as fitas é para que todos os responsáveis soubessem o que eles causaram. Com a aparência inicial de um jogo, ela entregou cópias dessas fitas para uma pessoa de sua confiança e as fitas originais para o primeiro responsável que deveria ouvir e passar para o segundo responsável, o segundo ouviria e passaria para o terceiro, assim por diante até completar os treze. Caso alguém da lista se recusasse a ouvir ou a passar adiante as fitas, a pessoa de confiança da Hannah entregaria os áudios para as autoridades. Com medo de serem expostos, todos os indivíduos que recebem as fitas as escutam até que elas chegam ao Clay.
A história é contada por dois pontos de vista narrativos, Hannah mostra o passado e Clay o presente. As edições dos episódios deixaram a alternância temporal perfeita, a troca entre os ponto de vista ficou fluída e nítida, o passado conversa com o presente e aos pouco vamos desvendando a complexidade dos personagens, não só dos protagonistas, mas dos coadjuvantes também. No primeiro episódio odiamos um dos alunos, no final já não temos certeza sobre o que sentir sobre ele. Os personagens são cinzas.

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Eu tinha tudo e, em seguida, a maioria de vocês
Alguns e agora nenhum de vocês
Leve-me de volta para a noite que nos conhecemos


O bullyingé uma recusa ao diferente, consequência da incapacidade em lidar com o diverso e inexistência do respeito. Através do bullying, a escola reflete aquilo que existe de errado em nossa sociedade. Por retratá-lo, consequentemente a série aborda temas delicados e difíceis de serem trabalhados em uma história, como suicídio, violência, assédio sexual, entre outros. Nada é romanceado e nenhum tema está ali por acaso, tudo contribui para a trama e aqui vemos outro acerto primoroso.
Mais do que um excelente entretenimento para maratonarmos, Os 13 Porquêsé uma série de que precisamos, a faísca para incendiar uma discussão necessária. Muito se fala, mas pouco se faz para impedir o bullying nas escolas. A série é uma ficção que se enquadra perfeitamente em nossa realidade, constantemente vemos notícias desastrosas cujo plano de fundo é o bullying e de uma forma ou de outra todos já fomos atingidos pelas agressões na época da escola, seja como vítimas, como agressores ou como passivos (aqueles que veem as agressões, mas nada fazem).

Clay Jensen e Hannah Baker


Eu não sei o que eu tenho que fazer
Assombrado pelo fantasma de você
Leve-me de volta para a noite que nos conhecemos
 Quando a noite estava cheia de terrores
 E seus olhos estavam cheios de lágrimas
 Quando você não tinha me tocado ainda
 Leve-me de volta para a noite que nos conhecemos

Espero que a série dê força para aqueles que sofrem lutar contra o bullying. Que conscientize os agressores sobre as consequências de suas agressões. Que impulsione as vítimas passivas a agirem. Bullying não é uma brincadeira normal de alunos, ele é diferente daquela zoação comum e Os 13 Porquês mostra muito bem isso.
A série possui alguns gatilhos emocionais como suicídio, depressão, violência e assédio sexual, incluindo estupro. Caso você seja sensível a algum desses gatilhos ou se não se encontra em um momento emocional e psicológico muito bom, eu não recomendo assisti-la.
As frases espalhadas ao longo do texto é de uma música da trilha sonora da série, The Night We Met da banda Lord Huron [https://www.youtube.com/watch?v=bNgUyJTuA0].

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Como denunciar o bullying? 
Além de conversar com os pais e profissionais da escola, existe um serviço de denúncia via telefone pelo Disque-100. Mais informações pelo site http://www.disque100.gov.br/ 
Depois do lançamento da série, o CVV (Centro de Valorização da Vida) registrou um aumento de 100% na procura de apoio. Você pode entrar em contato através via e-mail, chat, Skype, endereço (só procurar no Google por um Centro na sua cidade) ou telefone – 141. Qualquer dúvida só acessar o site http://www.cvv.org.br/.
Alguns sites para se informar melhor sobre o assunto: http://www.bullyingnaoebrincadeira.com.br/ e http://www.bullyingcyberbullying.com.br/


Este post foi escrito por Alex Almeida da Silva.


Resenha || O chamado de um monstro e a perda da inocência para a realidade

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  Título do Livro: Sete Minutos Depois da Meia-Noite
  Autor: Patrick Ness
  Editora/Tradução: Novo Conceito/Paulo Polzonoff Junior
  Páginas: 160
  Ano de Publicação: 2016
  Onde Comprar: Amazon || Submarino || Saraiva || Compre aqui e ajude o MeL
  Livro cedido em parceria com a editora.


Sinopse “Conor é um garoto de 13 anos e está com muitos problemas na vida.
A mãe dele está muito doente, passando por tratamentos rigorosos. Os colegas da escola agem como se ele fosse invisível, exceto por Harry e seus amigos que o provocam diariamente. A avó de Conor, que não é como as outras avós, está chegando para uma longa estadia. E, além do pesadelo terrível que o faz acordar em desespero todas as noites, às 00h07 ele recebe a visita de um monstro que conta histórias sem sentido.
O monstro vive na Terra há muito tempo, é grandioso e selvagem, mas Conor não teme a aparência dele. Na verdade, ele teme o que o monstro quer, uma coisa muito frágil e perigosa. O monstro quer a VERDADE.
Baseado na ideia de Siobhan Dowd, Sete minutos depois da meia-noite é um livro em que fantasia e realidade se misturam. Ele nos fala dos sentimentos de perda, medo e solidão e também da coragem e da compaixão necessárias para ultrapassá-los.”
 
Histórias são criaturas selvagens. Quando você as solta, quem sabe o que podem causar?


Sete Minutos Depois da Meia-Noite, pelo menos na edição que li, foi lançado em 2016 pela Editora Novo Conceito, tendo em vista a estreia da adaptação da obra. Um livro bem curtinho, do tipo que você consegue ler em um dia ou menos, e totalmente envolvente.
Patrick Ness, autor do livro, avisa já no prefácio que sua obra foi inspirada pela ideia original de Siobhan Dowd, uma escritora inglesa cujas poucas obras publicadas foram suficientes para marcá-la como um grande nome da literatura do Reino Unido.


A obra conta a história de Conor O'Malley, um garoto que se vê obrigado a amadurecer rápido demais em razão da doença da mãe. Doença esta que, quando lhe acometeu, mudou as coisas para Conor não apenas dentro de casa, mas também em todo o resto. Ele passa a ser obrigado a ver a mãe não melhorar com um tratamento que deveria curá-la, a suportar o peso da ausência constante do pai que já possui outra família, a lidar com a avó de quem não gosta, a ser traído pela única amiga, a ser perseguido por um trio de bullies no colégio, a ter um maldito pesadelo toda noite que lhe tira o fôlego e a vontade de viver.... Ufa. É muita coisa para uma criança, mas é o peso que Conor tem de suportar.
Até que uma coisa diferente surge: um monstro. Mas não o monstro do pesadelo, aquele que o aterroriza até o fundo da alma. Conor não teme essa criatura que surgiu, pois sabe que há coisa pior. E esse novo monstro é um teixo, mais precisamente o teixo que sua mãe adora e que os dois podem ver da janela da cozinha, o mesmo que repousa há tanto tempo no terreno da igreja. De repente, a árvore adquire vida e visita Conor, insistindo que o garoto o chamou. O monstro não irá embora até que cumpra sua missão.

— Tive tantos nomes quanto os anos do tempo! — rugiu o monstro. — Sou Herne, o Caçador! Sou Cernunnos! Sou o eterno Homem Verde! (...) Sou a coluna na qual as montanhas se apoiam! Sou as lágrimas que os rios choram! Sou os pulmões que sopram o vento! Sou o lobo que mata a lebre, o falcão que mata o rato, a aranha que mata a mosca! Sou a lebre, o rato e a mosca comidos! Sou a serpente do mundo devorando a própria cauda! Sou o tudo indomado e indomável! — O monstro aproximou Conor dos próprios olhos. — Sou a terra selvagem vindo atrás de você, Conor O'Malley.

Título do capítulo 01 - O Chamado do Monstro
Assim, durante muitos dias, o teixo dotado de vida aparece exatamente às 00h07min. Conor conta ansioso as horas e minutos para vê-lo. Enquanto todo o seu mundo desmorona, com a mãe indo de mal a pior, e se sentindo cada vez mais invisível e sozinho no colégio, a existência do monstro é a única certeza da vida à qual pode se agarrar. Mas e se for um sonho?
Sendo imaginação ou não, o monstro aparece. Ele conta três histórias, histórias que refletem de algum modo o momento em que Conor está vivendo. Então chega a vez de Conor contar a quarta história – que culmina na verdade que não quer aceitar, mas precisa dizer em voz alta.
Aí o outro monstro, aquele do pesadelo, surge. Eu não posso ir muito além disso para não dar spoilers, mas é o que acontece. Enquanto o teixo esteve ali e contou suas três histórias, Conor se sentiu seguro. Mas então chegou a sua vez de contar a quarta história, e foi nesse exato momento que seu mundo desmoronou – e se acertou ao mesmo tempo.

— Você não escreve sua vida com palavras — explicou o monstro. — Você escreve com ações. O que você pensa não é tão importante. Só é importante o que você faz.


Daqui a vinte anos, as pessoas irão perguntar qual foi o livro que mais me marcou. Aquela obra com a qual fiquei tão profundamente envolvida que finalizar a leitura equivaleu a levar um soco no estômago e ter o coração arrancado à faca cega. O livro que me destroçou porque estabeleceu uma conexão tão íntima que jamais irei esquecê-lo.
Eu responderei: Sete Minutos Depois da Meia-Noite. Sem pestanejar.
Veja bem, o livro não é fantástico. Não tem uma escrita tão maravilhosa quanto a de Patrick Rothfuss, para mim, ou um worldbuilding invejável. Não possui personagens profundos, à exceção de Conor, ou todas aquelas outras coisas que geralmente apontamos em nossos livros favoritos. Mas ele tem uma mensagem.
Devorei as páginas em menos de 24h. Na última parte do livro, eu li com olhos marejados e um nó na garganta. Quando o livro acabou e me vi obrigada a fechá-lo, estava ali no quarto, sozinha, duas horas da manhã e todo um dia de trabalho pela frente. E então caí em lágrimas, chorei como não fazia há muito, e de repente pareceu que eu estava de volta ao dia 01 de janeiro de 2012, acariciando o rosto sem vida daquela que foi uma das pessoas que mais amei e amarei para todo o sempre.



Conversando com mais pessoas que leram o livro, vi que não fui a única a ser tocada dessa forma. Não fui a única a ser arrebatada pelas cenas descritas, pelo sentimento envolvido e pelo significado da jornada do monstro. As histórias que ele conta, que me fizeram voltar as páginas para reler uma a uma e entender cada entrelinha. Se eu pudesse discutir sobre essa obra com vocês sem dar spoilers, faria agora. Tanta coisa a ser dita...
Enfim... Não direi que você deve ler, nem tentarei convencê-lo a embarcar na leitura porque de repente um livro tão despretensioso se tornou meu favorito, apenas pela singular mensagem que traz. Não. Direi apenas que é uma obra boa, com uma mensagem delicada e que mostra uma criança vivendo o pesadelo que nenhum adulto gostaria de viver. É uma história sobre perder a inocência para a realidade nua e crua, e sobre ter de lidar cedo demais com todas as crueldades que a vida real possui

— A resposta é que não importa o que você acha, porque sua mente vai se contradizer cem vezes a cada dia. (...) Sua mente vai acreditar em mentiras agradáveis e ao mesmo tempo vai reconhecer as verdades dolorosas que tornam essas mentiras necessárias. E sua mente vai puni-lo por acreditar nas duas coisas.


“Mas o que é um sonho, Conor O'Malley? Quem pode dizer que a vida real é que não é um sonho?



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#RelendoKvothe || Releitura de O Nome do Vento - Introdução

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As melhores mentiras a meu respeito são as que eu contei.

Olá, gente linda. A postagem de hoje irá inaugurar uma aba do blog que deixei de stand by desde que troquei o layout: a seção projetos literários. E para começar com o pé direito, decidi que o primeiro livro que apareceria por aqui seria o meu favorito. Então sim, começarei com O Nome do Vento. O #RelendoKvothe terá início oficialmente no próximo sábado (amanhã), 22/04. A ideia é postar uma vez por semana uma espécie de resenha do que li até então. No final teremos uma mega-resenha dividida em partes, o que pode facilitar a vida dos leitores quando o terceiro livro finalmente (!) sair. Além disso, permite uma análise mais detalhada dos fatos, e quem sabe até teorias que possam surgir durante a leitura.
Você, claro, está mais do que convidado a embarcar nessa leitura comigo. Seja a sua décima releitura ou a primeira, você é bem-vindo a participar do #RelendoKvothe. Duas cabeças pensam melhor que uma, certo? E com certeza dois leitores veem mais nas entrelinhas do que apenas um. Então pegue seu exemplar de O Nome do Vento e se aproxime, vamos explorar Os Quatro Cantos da Civilização mais uma vez!



Como a leitura será dividida?
Dez capítulos por semana. Considerando que são 92 capítulos, além de prólogo e epílogo, serão 9 semanas e meia de leitura – aproximadamente 70 páginas por semana, ou 10 por dia. A ordem das postagens no blog ficará assim:

  • 29 de abril – Parte 1 – Análise do Prólogo ao Capítulo 10 
  • 06 de maio – Parte 2 – Análise do Capítulo 11 ao Capítulo 20 
  • 13 de maio – Parte 3 – Análise do Capítulo 21 ao Capítulo 30 
  • 20 de maio – Parte 4 – Análise do Capítulo 31 ao Capítulo 40 
  • 27 de maio – Parte 5 – Análise do Capítulo 41 ao Capítulo 50 
  • 03 de junho – Parte 6 – Análise do Capítulo 51 ao Capítulo 60 
  • 10 de junho – Parte 7 – Análise do Capítulo 61 ao Capítulo 70 
  • 17 de junho – Parte 8 – Análise do Capítulo 71 ao Capítulo 80 
  • 24 de junho – Parte 9 – Análise do Capítulo 81 ao Capítulo 90 
  • 01 de julho – Parte 10 – Análise do Capítulo 91 ao Epílogo
Você pode ler como bem entender, mas se quiser me acompanhar, eu vou ficar extremamente feliz! Sei que a maioria dos fãs de O Nome do Vento leu a obra em muito menos tempo, mas ler devagar permite que a gente veja as coisas com outros olhos, e perceba detalhes que passaram despercebidos. Então ir com calma é a melhor opção, além de permitir que você leia outros livros com mais avidez durante o mesmo período. Minha dica para você é fazer o que eu decidi fazer: ler um pouquinho durante a semana antes de dormir. Durante o dia, mergulhe em outras aventuras – e de quebra adquira o hábito de conseguir ler mais de um livro ao mesmo tempo. Pelo menos é o que eu vou tentar fazer!
Caso você não tenha um exemplar de O Nome do Vento e decidir comprar, usando esse link (http://amzn.to/2pDR19C) você ajuda o Me Livrando a manter a hospedagem e ainda garante um possível brinde a ser sorteado no final dessa aventura entre os participantes– porque sim, quem me conhece sabe o quanto eu amo sortear coisas entre os meus leitores!
Então é isso, gente. E aí, cês vão participar do #RelendoKvothe? Se sim, manifestem-se aqui ou nas redes sociais – basta usar essa hashtag pra gente se encontrar 💛


“É por isso que as histórias nos atraem. Elas nos dão a clareza e a simplicidade que faltam à vida real.”


Aproveite e curta a Kvothed, estarei postando por lá minhas citações favoritas, junto com uma fanart pertinente, durante toda a semana!

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Aproveite o Feriadão: Na compra de um eBook, ganhe R$ 5 para comprar o próximo

Maratona Shield Wall – conheça Abominação, de Gary Whitta!

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“(...) As palavras de Alfredo repetiam-se incessantemente na cabeça de Wulfric enquanto ele se mexia, desconfortável, embaixo dos lençóis. Eu vi coisas que me levaram a questionar minha fé. Wulfric sabia que a fé de Alfredo em Deus fazia parte de sua essência. (...) Se todos os horrores da batalha, de ver camaradas ensanguentados e destroçados ao redor dele, não puderam abalar a crença desse homem, então, em nome de Deus, o que poderia? (...)

Oi, você! Tudo bem? Certo, certo. Eu sei que ontem postei sobre o projeto #RelendoKvothe– que, aliás, está tendo uma resposta maravilhosa de vocês, pelo que sou extremamente grata (e estou pensando inclusive em criar um grupo só pra gente), mas hoje venho fazer mais um convite. Juro que ele não irá atrapalhar nossa releitura de O Nome do Vento.
Para quem não sabe, o Me Livrando costuma realizar maratonas literárias 24h. Tudo bem, elas de fato já foram melhores/mais ativas, com muito mais prêmios, mas infelizmente fazia tempo que eu não conseguia organizar uma bacana (culpa da vida adulta, né?). Acontece que finalmente encontrei uma brecha para retomar essa marca registrada do MeL... Que casou direitinho com a época de lançamento do livro Abominação, de Gary Whitta, cujo tema é vikings! Personagens pelos quais tenho estado muito apaixonada... Pronto. Após tantas conexões, surgiu a #MaratonaShieldWall!


 tv vikings battle history channel GIF
Duas paredes de escudo (shield wall) chocando-se na série Vikings.

Como funcionará a Maratona?
Bom, é bem simples: no próximo sábado, 29 de abril, a partir da meia-noite (ou 23h59min do dia 28 de abril, para ficar mais fácil de entender), estaremos reunidos no grupo do blog para a Maratona Shield Wall. O que você deve fazer para participar? Assistir ou ler qualquer coisa relacionada a vikings. Sim, assistir também! Devido ao grande número de leitores no grupo que afirmou não possuir literatura do gênero, resolvi ceder e abrir uma exceção a séries que tenham vikings também. Afinal, foi uma delas que me fez ficar realmente apaixonada por esses personagens históricos... E ainda abre-se a chance de todo mundo participar. Sem restrições, né?
Continuando, as Maratonas Literária Me Livrando duram 24h e envolvem uma série de desafios – eu chamo assim, mas não são desafios de fato. São apenas perguntas que faço no decorrer dessas 24h para promover interação no grupo. Além disso, é um jeito bacana de criar laços também!
Durante toda essa semana, até o dia 29 de abril, pretendo fazer postagens aqui no blog com curiosidades sobre vikings, dicas de séries e livros para assistir e ler na Maratona, bem como apresentar melhor Abominação e o autor, Gary Whitta. No dia 29 de abril em si, acontecerá a maratona – e no dia seguinte sortearei um exemplar do livro enviado diretamente da DarkSide Books. Bom demais, né não? Vem com a gente pra #MaratonaShieldWall!
Agora, abaixo, cê conhece um pouco mais essa edição maravilhosa com selo Caveirinha de qualidade.

Sinopse “O primeiro romance de Gary Whitta, também autor do aclamado Star Wars: Rogue One, é uma aventura para os leitores mais valentes. Whitta transforma o gore em momentos de grande beleza. Abominação é uma mistura épica entre fantasia histórica, ficção científica e a magia da cultura nórdica.
A era medieval é muito mais conhecida por seus mistérios do que por seus registros históricos. Talvez seja melhor assim. Há quem acredite que estaremos mais seguros enquanto não soubermos de toda a verdade. Mas quem disse que as lendas não podem ser mais reais do que você imagina? Abominação reconta um dos capítulos mais sangrentos da história da Inglaterra: as invasões vikings do século IX. Apresentando personagens e batalhas reais, sua narrativa vai muito além do que poderíamos encontrar nos livros de história. Com influências de Lovecraft a Game of Thrones, vem sendo recebido mundo afora como um novo clássico para fãs do gênero.
O reino de Wessex foi o único da Inglaterra que escapou dos invasores nórdicos. Seu rei, Alfredo, negocia um acordo com os bárbaros do Mar do Norte, mesmo sabendo que eles não são adeptos da paz. É preciso estar preparado, a guerra pode recomeçar a qualquer momento. O arcebispo da Cantuária oferece proteção ao reino, através de feitiços descobertos por ele em velhos pergaminhos. O rei só não poderia imaginar que a magia seria ainda mais perigosa que os próprios vikings.”
 



















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Maratona Shield Wall – Livros e séries sobre vikings e mitologia nórdica

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Aí você finge que o box de As Crônicas Saxônicas aí na foto não está de cabeça para baixo, certo?

Olááá, tudo bem? O post de hoje é uma extensão do último, que foi o anúncio da Maratona Shield Wall. Atendendo a apelos, resolvi selecionar e escolher livros para você, que quer participar da Maratona mas diz que não tem nada para ler. Dessa vez, decidi também incluir séries. Assim, caso você não tenha nenhum dos livros abaixo, basta começar (ou continuar) uma das séries que listarei abaixo. Decidido, então pode vir participar com a gente!



Livros sobre vikings e mitologia nórdica


Resultado de imagem para abominação capaAbominação, de Gary Whitta, é o livro que fez a #MaratonaShieldWall existir. Segundo o site oficial, "é um romance de fantasia dark que reconta um dos capítulos mais sangrentos da história da Inglaterra: as invasões vikings do século IX. Apresentando personagens e batalhas reais, sua narrativa vai muito além do que poderíamos encontrar nos livros de escola. Com influências que vão de H.P. Lovecraft a Game of Thrones, Abominação vem sendo recebido mundo afora como um novo clássico para fãs do gênero."



Resultado de imagem para o último reino cornwellClássico da ficção histórica, Bernard Cornwell nos apresenta a saga do desgraçado Uhtred (quando tudo parece ir bem, as coisas ficam realmente mal para o guerreiro). "O Último Reinoé o primeiro romance de uma série que contará a história de Alfredo, o Grande, e seus descendentes. Aqui, Cornwell reconstrói a saga do monarca que livrou o território britânico da fúria dos vikings. Pelos olhos do órfão Uthred, que aos 9 anos se tornou escravo dos guerreiros no norte, surge uma história de lealdades divididas, amor relutante e heroísmo desesperado."



Resultado de imagem para a guerra da rainha vermelhaPrince of Fools não é propriamente um livro sobre vikings ou mitologia nórdica, mas tem o personagem Snorri ver Snagason, herói honrado e sensato, para contrastar com o egoísta Jalan Kendeth. Então está valendo, pode mergulhar de cabeça nessa outra faceta do universo criado por Mark Lawrence em Trilogia dos Espinhos. "Mark Lawrence novamente cria um anti-herói irresistível. Por que mesmo estamos torcendo por eles? – é uma pergunta comum entre os cada vez mais numerosos leitores de suas aventuras. A resposta, certamente, está no talento com que o autor conduz seus personagens e narrativas. E desta vez, a violência e o rancor de Jorg Ancrath, da Trilogia dos Espinhos, é substituída pela astúcia e charme do Príncipe dos Tolos."


Resultado de imagem para como treinar seu dragão livroComo Treinar o Seu Dragão é um livro delicioso com uma narrativa hilária e ilustrações fofas. "Soluço Spantosicus Strondus III foi um extraordinário herói viking. Chefe guerreiro, mestre no combate com espadas, era conhecido por todo o território viking como "O encantador de dragões", devido ao poder que exercia sobre as terríveis feras. Mas nem sempre foi assim..."





Mitologia nórdicaMitologia Nórdica de Neil Gaiman foi um dos lançamentos mais aguardados do autor nos últimos tempos. "Fascinado por essa mitologia desde a infância, o autor compôs uma coletânea de quinze contos que começa com a narração da origem do mundo e mostra a relação conturbada entre deuses, gigantes e anões, indo até o Ragnarök, o assustador cenário do apocalipse que vai levar ao fim no mundo. Às vezes intensos e sombrios, outras vezes divertidos e heroicos, os contos retratam tempos longínquos em que os feitos dos deuses eram contados ao redor da fogueira em noites frias e estreladas."


Deuses americanosDeuses Americanos, também de Neil Gaiman, é um de seus títulos mais aclamados. Apesar de não ser uma obra que foque na mitologia nórdica, apresenta deuses desse panteão. "A saga de Deuses americanos é contada ao longo da jornada de Shadow Moon, um ex-presidiário de trinta e poucos anos que acabou de ser libertado e cujo único objetivo é voltar para casa e para a esposa, Laura. Os planos de Shadow se transformam em poeira quando ele descobre que Laura morreu em um acidente de carro. Sem lar, sem emprego e sem rumo, ele conhece Wednesday, um homem de olhar enigmático que está sempre com um sorriso no rosto, embora pareça nunca achar graça de nada."


Resultado de imagem para magnus chase e os deuses de asgardMagnus Chase e os Deuses de Asgard é uma nova série de Rick Riordan, ainda em publicação. As histórias focam em Magnus, primo de Annabeth, que já conhecemos desde Percy Jackson. "A vida de Magnus Chase nunca foi fácil. Desde a morte da mãe, em um acidente misterioso, ele vive nas ruas de Boston, usando todo o seu jogo de cintura para sobreviver e ficar fora das vistas de policiais e assistentes sociais. Até que um dia ele reencontra Randolph – um tio que ele mal conhece e de quem a mãe o mandou manter distância. Randolph é perigoso, e revela um segredo improvável: Magnus é filho de um deus nórdico."


Sangue dos Deuses é uma série que, até onde pude ver na Amazon, possui cinco livros. Escrita pelo autor nacional Michel Duarte, é um modo bacana de você aproveitar a nossa literatura - afinal, #celebreoqueénosso. "Ordem e Caos: desde o início do universo esses opostos sempre estiveram em permanente conflito. Agora a batalha final entre essas duas forças parece estar cada vez mais próxima, pois Loki, o deus trapaceiro, escapou de seu cativeiro e utilizará de toda a sua astúcia para vingar-se dos deuses que o aprisionaram, iniciando a batalha final entre os opostos definitivos.Ordem e Caos: desde o início do universo esses opostos sempre estiveram em permanente conflito. Agora a batalha final entre essas duas forças parece estar cada vez mais próxima, pois Loki, o deus trapaceiro, escapou de seu cativeiro e utilizará de toda a sua astúcia para vingar-se dos deuses que o aprisionaram, iniciando a batalha final entre os opostos definitivos."


Capa do livro Lobos de LokiLobos de Loki é o primeiro livro da série infanto-juvenil Crônicas de Blackwell. "Para Matt Thorsen, o fato de ser um dos descendentes de Thor, o deus do Trovão, não fazia muita diferença. Junto com vários outros descendentes de Thor ou seu meio-irmão, Loki, o garoto levava uma vida normal em Blackwell, pequena cidade em Dakota do Sul. (...) Seguindo a linha de Rick Riordan e seu Percy Jackson, K. L. Armstrong e M. A. Marr trazem as incríveis lendas nórdicas para nosso tempo em uma aventura fantástica cheia de surpresas e com personagens cativantes. Um início arrasador para uma saga única."


Estações de Caça: Haakon I (Alvores, #2)Estações de Caça é o segundo livro da série Alvores, e o primeiro do núcleo de Haakon, publicado pelo autor brasileiro Lauro Kociuba  opa, temos mais um #celebreoqueénosso aqui! "Estações de Caça conta a história de Haakon, um menino de linhagem nórdica no antigo Reino Unido do século X, em quatro fases distintas de sua infância. Ambientada no universo Alvor, com toques e requintes das mitologias nórdica e celta, o autor traz nesta novela uma nova experiência narrativa, diversificada em seus quatro episódios distintos."



Adquira aqui na Amazon qualquer um dos livros acima (a maioria em e-book) a tempo de participar da #MaratonaShieldWall!

Séries sobre vikings e mitologia nórdica
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Vikings merece uma postagem especialmente para si. Nossa, que série fascinante! Certo, na quarta temporada fiquei um pouco entediada, mas já retomei o ritmo e estou amando cada vez mais. Personagens cativantes, enredos interessantes... Vale a pena. Demais. Você pode assistir na Netflix.



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The Last Kingdom, adaptação de As Crônicas Saxônicas, é menos aclamado do que Vikings, talvez por ser menos conhecido. Atualmente passa somente no canal History e está em sua segunda temporada. Que Odin me mate, mas eu jamais direi que há vários sites por aí com os torrents dos episódios da série em alta qualidade, além das legendas. Eu particularmente assisti alguns episódios e não gostei tanto, pois não achei que a infância do Uhtred e a relação dele com Ragnar tenham sido abordados de modo fiel, o que me irritou. Talvez eu dê outra chance no futuro.



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Deuses Americanos é a adaptação do livro homônimo de Neil Gaiman. Infelizmente, estreará apenas dois dias após a #MaratonaShieldWall - mas precisou aparecer aqui por conta do furor e da ansiedade geral com a Amazon, que deverá liberar a série aqui no Brasil no dia 01 de maio. Você poderá assistir na Amazon Prime Video, o serviço streaming do site.
Mas e aí, você curtiu as sugestões? Há outras que acrescentaria na lista? Conta pra gente!


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Editora da Semana Rocco

Maratona Shield Wall – Explorando o universo de Abominação

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E aí, tudo bem? Como falei nas últimas postagens, no sábado agora, dia 29 de abril, acontecerá a #MaratonaShieldWall em homenagem a um dos mais recentes lançamentos de dark fantasy da DarkSide Books. Sim, estou falando de Abominação! Se você já escolheu sua leitura ou série pelo último post, e não vai ler a obra de Gary Whitta porque ainda não adquiriu um exemplar, fique por aqui até o final – e vamos explorar juntos um pouquinho mais desse universo, só pra você ter certeza de que quer concorrer a um Abominação no final da Maratona.
Para participar, basta entrar no grupo do blog e ficar atento, pois às 00h de sábado já estarei por lá para inaugurar a #MaratonaShieldWall e conto com sua ilustre presença. Além de sortearmos um exemplar de Abominação, também haverá sorteio de O Rei do Inverno, de Bernard Cornwell, e do livro de RPG de A Guerra dos Tronos.



Gary Whitta: mil e uma utilidades
Whitta não se contentou em ser apenas um roteirista, designer de jogos e jornalista, isso era pouco para ele. Decidiu que também lançaria um livro. Então, basicamente, além de ser parcialmente responsável pela existência de filmes como O Livro de Eli, After Earth e Star Wars: Rogue One, bem como pela série animada Star Wars Rebels, e pelos jogos de The Walking Dead – The Game e 400 Days, ele também publicou em 2015 Abominação, que foi trazido recentemente ao Brasil pela editora brasileira DarkSide Books. Toda as suas experiências citadas anteriormente influenciaram muito na escrita do livro, de modo que temos uma narrativa que equilibra a dose certa de tensão e detalhes, sem pecar no exagero de drama ou descrições desnecessárias. Além disso, tem uma pegada gore bem interessante, cujas cenas foram escritas de modo a fazer com que você imagine exatamente o que está se passando. Se você normalmente tem nojo de cenas gore, talvez em alguns momentos seu estômago revire, mas duvido que conseguirá parar de ler.

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Esse sorrisinho de bom moço até faz parecer que Whitta tem coração!

Sobre o enredo
A história se passa em Wessex, o único reino da Inglaterra que resistiu e permaneceu de pé perante as invasões vikings do século IX. Alfredo, o Grande, atual soberano, firmou uma aliança com o líder dos daneses para garantir a paz para ambos os lados por alguns anos. Um pedaço de terra foi cedido aos invasores, que ali se estabeleceram e se acomodaram. A calmaria, porém, parece estar se encaminhando ao seu fim, pois há rumores de que o líder dos vikings adoeceu e está à beira da morte. Temeroso de que a nova liderança dos daneses se recuse a permanecer nas terras que lhes foram dadas e avance para Wessex, retomando a carnificina típica do povo, Alfredo está disposto a aceitar qualquer luz que possa iluminar a sua causa.
É aí que surge Aelthered, arcebispo da Cantuária, que encontrou pergaminhos antigos cuja tradução indica a existência de feitiços que podem transformar a sorte dos ingleses. Alfredo autoriza que o arcebispo realize suas experiências e teste o que traduziu, apesar de ficar horrorizado com o resultado – pois Aelthered está transmutando animais em bestas horrendas e irracionais, tão tenebrosas que provocam pesadelos em quem quer que as veja. Quando o arcebispo inicia seus testes em humanos, Alfredo ordena que os pergaminhos sejam destruídos e que cessem os experimentos, além de mandar prender Aelthered. Porém, detentor de todo um novo conhecimento obscuro, o homem torna-se feiticeiro e escapa de sua prisão. É a partir daí que o enredo cria forma.



Sobre os personagens
Wulfric é um guerreiro lendário que, ainda jovem, salvou a vida do rei Alfredo numa das batalhas travadas contra os vikings. Depois de lutar tão bravamente pelo seu senhor, Wulfric ganha a sua tão merecida recompensa. Um terreno bom, com uma casa confortável e uma esposa linda, grávida da primeira criança do casal – o que mais poderia querer? Apesar de sua infância tê-lo levado à guerra, e de muitos terem morrido na ponta de sua espada, Wulfric é mais um homem de plantar e semear do que lutar. Porém, ao salvar a vida do rei, tornou-se seu amigo e protegido, além de achar-se em eterno débito por tudo o que ganhou depois. Por isso, quando Alfredo o convoca e o envia numa espécie de Cruzada atrás de Aelthered e de todas as criaturas inomináveis que este cria enquanto avança em direção ao terreno danês, Wulfric se vê obrigado a concordar. Assim, na companhia dos cem melhores guerreiros escolhidos a dedo por ele, o homem parte em sua jornada, quebrando a promessa que fizera à esposa de que estaria lá quando a criança enfim nascesse.
Quando enfim retorna para casa, após ter cumprido sua tarefa, já louco por conhecer seu(a) primeiro(a) herdeiro(a), Wulfric está louco de felicidade e jura que nunca mais irá retornar à vida de guerreiro, muito menos afastar-se da família, de sua fazenda e do vilarejo, cujos moradores tanto o amam. Não obstante, não é esse o futuro que espera por Wulfric, e as coisas mudam abruptamente para todo o sempre.

Karl lindberg abomination 04
Wulfric e Aelthered se enfrentam. Arte de Karl Lindberg.
Quinze anos depois, conhecemos Indra, que é a outra protagonista de Abominação. Ainda jovem, partiu em uma Provação para afirmar-se a si mesma e a todos os outros que disseram que não era capaz, incluindo o pai super-protetor. Ela basicamente é uma espécie de peregrina no reino de Wessex, e só retornará para casa após ver uma abominação. Quando Wulfric perseguiu Aelthered e sua turba de criaturas, muitas se afastaram e se espalharam por toda a Inglaterra, vivendo como espécies de bicho-papão nas aldeias que encontravam pelo caminho. A jornada de Indra é justamente para encontrar e matar abominações – espécie de vingança pessoal, até onde pude entender.


Karl lindberg abomination 01
Indra e uma abominação. Arte de Karl Lindberg.

Além deles dois, outros personagens importantes são o próprio rei Alfredo, o arcebispo Aelthered, e Cuthbert, antigo subordinado de Aelthered, que se mostra de suma importância e peculiar coragem na jornada de Wulfric.

Sobre as criaturas
As criaturas, ou abominações, são criadas a partir da recitação dos feitiços proferidos por Aelthered. Apesar de os pergaminhos terem sido queimados logo no começo do livro, o arcebispo gravou suas palavras, o que lhe deu a capacidade de criar milhares de abominações num curto espaço de tempo. A maioria foi morta pela equipe de Wulfric, mas um grande número fugiu e sobreviveu.
Há duas espécies de abominações: aquelas criadas a partir de animais, que são selvagens e irracionais; e aquelas criadas a partir de homens, que parecem possuir certo grau de inteligência. Ambas têm apenas um objetivo: matar qualquer coisa com vida que veem pela frente. As abominações “humanoides” possuem um nível peculiar de crueldade, e atacam homens, crianças e mulheres, porém de forma comedida, para assim infligir mais sofrimento tanto às vítimas quanto a quem está assistindo.

Frog abomination by FirstKeeper
Noção aproximada de uma abominação transformada a partir de um sapo. Arte de FirstKeeper.

O que estou achando até agora?
Li pouco mais de cem páginas de Abominação, só por curiosidade, e estou gostando bastante. Apesar de ter torcido o nariz diante da infância de Wulfric (detalhe que explicarei melhor na resenha em si), o livro me cativou e trouxe aquele clichê bom de primeiro ambientar e mostrar o que está acontecendo, depois fazer a gente se acostumar com certas coisas e viver a alegria do protagonista, para enfim jogá-lo num poço sem fundo de desgraça, sofrimento e tristeza, o que reflete psicologicamente no leitor. Então você quer continuar a leitura porque precisa ver um final feliz – o que eu duvido que tenha, mas tudo bem. Com certeza vou continuar e espero terminar no máximo até semana que vem.


Enfim, é isso. E aí, você ficou curioso com Abominação? Divide com a gente a sua opinião!


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Editora da Semana Rocco

#RelendoKvothe || Releitura de O Nome do Vento – Parte 1

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Hoje é dia de compartilhar as minhas impressões sobre os dez primeiros capítulos lidos de O Nome do Vento. A primeira coisa que eu gostaria de pontuar é que vi muita coisa que deixei passar batida nas leituras anteriores. Ponto para mim! É sempre bom descobrir detalhes nas entrelinhas. Expande nossa visão sobre a obra, especialmente em se tratando de uma que a gente tanto gosta.
Enfim, vamos lá aos comentários. Primeiro farei uma breve análise, e depois os capítulos serão comentados um a um. Preparados?


Uma breve análise
Estes dez primeiros capítulos são provavelmente os mais difíceis para quem nunca teve contato com a saga. Não sei explicar exatamente o motivo, mas aconteceu comigo. Já falei várias vezes que me apaixonar por O Nome do Vento não foi fácil – tentei ler três vezes a obra e sempre desistia quando Kote ainda estava na Marco do Percurso. Curiosamente, várias pessoas já alegaram ter vivenciado o mesmo – enquanto outros chegaram a comentar na página do Me Livrando que não conseguiam avançar na leitura.
Penso eu que o motivo para isso acontecer é que sete dos dez primeiros capítulos são narrados em terceira pessoa. Afinal, Kote ainda não começou a narrar sua história, e vemos tudo acontecendo pelo ponto de vista de um narrador onisciente. Ainda que as coisas abordadas nestes capítulos iniciais sejam interessantes e revelem muito do enredo atual do universo da série, penso que não cativa tanto quanto quando Kote está narrando. Por este motivo talvez eu não tenha conseguido ir adiante na leitura nas primeiras vezes em que coloquei as mãos no livro.
Enfim, esses primeiros capítulos são cruciais para fazer a gente entender como anda a situação dos Quatro Cantos da Civilização. O narrador faz um apanhado geral através do cotidiano que Kote e Bast vivem na Marco do Percurso, escutando as conversas dos poucos frequentadores da pousada, assim como conversando entre si. Além disso, o narrador, por ser onisciente, entra na mente dos dois personagens e acaba revelando o que eles escondem em seu íntimo. Necessário não só para entendermos o presente do universo criado por Patrick Rothfuss, mas também para voltarmos ao passado do que já aconteceu na vida de cada um.
Mas, claro, esses capítulos não se tratam apenas do que mencionei acima. Eles também nos apresentam a figura do Cronista, sua motivação para seguir até a Marco do Percurso e porque Kote decidiu começar a contar a história de sua vida, além de nos introduzir à infância de Kvothe e do primeiro contato que este teve com o que lhe despertou a vontade de nomear o vento.



Prólogo – Silêncio em três partes
A primeira coisa a me chamar atenção no prólogo foi uma observação peculiar do narrador. Quando ele começa a falar do silêncio que rege a Marco do Percurso, ele menciona, logo no segundo parágrafo:

“Se houvesse uma multidão, ou pelo menos um punhado de homens na pousada, eles encheriam o silêncio de conversa e riso, do burburinho e do clamor esperados de uma casa em que se bebe nas horas sombrias da noite. Se houvesse música... Mas não, é claro que não havia música.

Então daqui depreendemos que Kote, que também é Kvothe, que um dia conquistou sua Gaita de Prata na Eólica cantando e tocando (em condições excepcionais) uma das mais difíceis canções existentes, simplesmente abandonou a música e passou a ignorar a sua existência. Concluímos também que nunca houvera música na Marco do Percurso, sendo o motivo óbvio para o narrador. Mas, se você notou bem, em um dos capítulos mais adiante, Kote resolve aventurar-se e cantar – o que quase arruína o seu disfarce. A questão que restou sem resposta, em minha opinião, foi a seguinte: por que Kote abandonou algo que tanto prezava, que era a música, e a retomou naquele momento específico do capítulo mais a seguir? Teria algo a ver com ele, aos poucos, estar abandonando a identidade de Kote, para assumir a original? Há mais sinais para se acreditar que sim – falarei um pouco mais à frente.


Outra coisa a se destacar no prólogo é a frase final.

“Era o som paciente – som de flor colhida – do homem que espera a morte.”


Este, segundo o narrador, é o “som do silêncio” de Kote. Por que ele está aguardando a morte? Foi uma metáfora ou uma afirmação literal? Quando decidido a contar sua história ao Cronista, ele é bem enfático ao dizer que precisará de três dias... Por que três dias?É realmente necessário esse tempo para que conte sua experiência nos pouco mais de vinte anos vividos? Ou ele sabe que tem apenas três dias para, quem sabe, encarar a morte? Porque da afirmação do narrador podemos depreender duas coisas: ou ele está à espera da morte para literalmente morrer, ou está aguardando para enfrentá-la de queixo erguido através de algum personagem (ou personagens) que o esteja perseguindo.
Aliás, você provavelmente deve conhecer a famosa passagem das Portas da Mente. Kote está ali, à espera da morte, e se isso quer dizer que ele já aceitou que quer morrer (o que não é muito difícil de se imaginar, dada a atitude depressiva do personagem), quer dizer que talvez já tenha passado todas as outras portas da mente – a do sono, do esquecimento e da loucura. A morte seria, portanto, a última que precisa ultrapassar para superar sofrimento tão intenso que lhe foi infligido, qualquer que tenha sido este. Peguemos, porém, o último trecho da famosa passagem:

Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos,ou assim nos disseram.


“Ou assim nos disseram”... Um comentário que nos leva a crer que Kote não está muito certo de que a morte represente o descanso final. Por quê?

Kote x Kvothe

Capítulo 1 – Um lugar para demônios
O primeiro capítulo se inicia com um grupo de companheiros da pequena Nalgures contando uma história enquanto alguns comem, outros bebem e um resmunga. Sentados ao redor de uma mesa, vemos o mais velho dos homens, Cob, contar ao aprendiz de ferreiro (aparentemente o único que não nasceu no vilarejo) estórias sobre os supostos mitos dos Quatro Cantos. No caso, aqui seriam o Chandriano e o Grande Taborlin.
Quando lemos o livro pela primeira vez, obviamente não apreendemos a importância do Chandriano na história. Cob conta ao aprendiz, e por tabela a todos os demais sentados na mesa, sobre um famoso feito do Grande Taborlin, resumindo o mito da figura e destacando três objetos que serão de suma importância quanto à personagem da Auri, a aparecer muito mais adiante:

“Quando acordou, o Grande Taborlin descobriu-se trancado numa torre alta. Tinham levado sua espada e tirado suas ferramentas: chave, moeda e vela, tudo se fora. Mais isso não era o pior, vocês sabem... – Cob fez uma pausa para aumentar o efeito  ...porque as lamparinas da parede emitiam uma chama azul!”

Só no trecho acima, temos os objetos (chave, moeda e vela) que você deve guardar em mente, tão associados ao Grande Taborlin, e um dos sinais da presença do Chandriano, no caso a chama azul. A propósito... Esse tal Chandriano... Eles só podem ser demônios, certo?
Errado.
Não se sabe o que são. Essa discussão, aliás, logo toma conta da mesa de Cob. Seriam demônios, espíritos ou condenados? Segundo um dos homens, Jake, o Chandriano é composto pelas primeiras seis pessoas que recusaram-se a escolher o caminho proposto por Tehlu (divindade máxima desse universo), e por isso foram amaldiçoados por ele, que condenou todos a vagarem eternamente na terra. Cob, porém, tira o crédito dessa hipótese logo em seguida. O quanto ela pode ser real? Não sabemos.
Logo o clima muda na pousada, pois Carter, um amigo dos homens, chega ensanguentado e carregando nos braços algo de formato estranho. Logo ele revela ser uma criatura que o atacou na estrada, e acabou matando sua melhor égua, Nelly. Kote revela meio sem querer o que é aquela criatura – um scrael–, e acaba falando demais quando comenta que não esperava que eles estivessem tão perto. Aqui fica a minha dúvida: seriam os scrael, bem como outras criaturas, o presságio do aparecimento de algum personagem místico em particular? Kote não esperava que eles já estivessem tão próximos... Teria então se assustado por este motivo, e dado os três dias ao Cronista porque, com o surgimento do scrael, tomara consciência de que possuía menos tempo ainda para enfrentar o que está por vir?
A discussão logo rodeia a criatura, e os homens decidem testar se é um demônio ou não. Segundo o ditado, há três coisas que os demônios temem: o ferro frio, o fogo vivo e o santo nome de Deus. A conclusão é a seguinte:

“Kote comprimiu o gusa de ferro na lateral negra da criatura e houve um estalido curto e sorridente, como uma tora de pinho estalando na fogueira. Todos se assustaram, depois se acalmaram, vendo a coisa negra permanecer imóvel. Cob e os outros trocaram sorrisos trêmulos, feito meninos assombrados por uma história de fantasmas. Os sorrisos murcharam quando a sala se encheu do aroma adocicado e acre de flores em putrefação e cabelo queimado.”


E assim chegou-se à conclusão de que se tratava sim de um demônio – embora Kote já soubesse disso, mesmo que na página 20 tenha induzido Bast a acreditar que não era. Uma coisa me pareceu certa: Kote não foi irresponsável ao provar para Cob e seus companheiros que as histórias que eles imaginaram ser apenas fantasia se tratavam de realidade. Acho que ele os chocou de propósito, para que ficassem alertas, inclusive buscando modos de se proteger de acordo com as lendas. Mais um sinal de o hospedeiro sabe que alguma coisa está a caminho e garantiu àqueles homens que se mantivessem protegidos.
Ainda no capítulo 1, vemos pela primeira vez o baú que Kote guarda. Feito de roah, ele é extremamente peculiar e possui uma fechadura que não se pode ver. Acima de tudo, Kote o teme em demasia. Por quê? O que pode existir lá dentro? Essa é uma grande incógnita e merece um post à parte. Só terei teorias mais concretas após reler também O Temor do Sábio.


Por fim, no capítulo 1, após tantos sinais deixados na entrelinha, a situação atual dos Quatro Cantos foi abordada:

“Por isso, ainda era cedo quando a discussão se voltou para assuntos de maior peso. Os homens remoeram os boatos que haviam chegado à cidade, quase todos perturbadores. O Rei Penitente vinha enfrentando dificuldades com os rebeldes em Resavek. Isso causou certa apreensão, mas apenas num sentido geral. Resavek ficava muito longe, e até Cob, o mais experiente deles, teria dificuldade para encontrá-la no mapa.”


Certo, está havendo uma guerra. Mas a transcrição do narrador acima se tratou apenas de um apanhado do que aqueles homens, um tanto ignorantes, conversavam entre si. O que disso tudo podemos tirar como real? Será que eles realmente sabem o que está acontecendo? Os boatos podem ser verdadeiros? Sabemos apenas que sim, uma guerra está ocorrendo. E, aliás, quem é o Rei Penitente? Não sei nem por onde começar a pensar.

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Planta da Pousada Marco do Percurso, localizada em Nalgures.


Capítulo 2 – Um lindo dia
O segundo capítulo nos apresenta ao Cronista, ou Devan Lochees, parente do duque e parte da família Lackless. Apenas isso? Com certeza não. Se há uma coisa que aprendemos lendo A Crônica do Matador do Rei, é que os nomes são de extrema importância. Há muito mais por trás do Cronista do que ele quer nos fazer acreditar.
Aqui, aliás, seria um capítulo absolutamente desnecessário – exceto se fosse a intenção de Rothfuss nos mostrar logo o quão ardiloso e inteligente o Cronista pode ser. Assaltado por ex-soldados, o homem conseguiu ludibriá-los e levá-los a pensar que se deram bem, quando na realidade o Cronista se saiu muito menos prejudicado do que eles julgavam. Além de agradar os homens, restou inteiro e repleto de uma confiança a ponto de pensar, no final, que aquele estava sendo um lindo dia. Quer maior demonstração da esperteza do Cronista do que esse capítulo? Apesar de parecer bobo, Rothfuss não o colocou ali à toa, apenas para aumentar o número de páginas.



Capítulo 3 – Madeira e Palavra
Aqui assumimos que a madeira do título do capítulo seja a do suporte da espada de Kvothe, sendo o suporte feito de roah, mesmo material do baú misterioso citado anteriormente. A palavra, por outro lado, é exatamente o nome da espada: Insensatez. Por que esse nome? Por que ela é tratada com tanta deferência, e ao mesmo tempo tanto temor? Quais feitos pode ter protagonizado? Levando em conta que ela não apareceu em O Nome do Vento, exceto na Marco do Percurso, nem em O Temor do Sábio, só há suposições sobre como Kote a adquiriu, e o motivo de tê-la nomeado assim.
A propósito, destaquemos aqui que Abenthy, que surgirá mais adiante, alertava o tempo todo Kvothe para ter cuidado/atenção com a insensatez. Você dirá que é coincidência, aposto... Mas deixe-me mostrar uma das cartas do baralho oficial de A Crônica do Matador do Rei:

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A carta de Abenthy deixada para Kvothe dizia: "Defenda-se bem na Universidade. Deixe-me orgulhoso. Lembre-se da canção de seu pai. Cuidado com a insensatez." Noutras palavras, temos uma pequena pista da escolha do nome da espada, que foi confirmada através de um material extra da trilogia. Obrigada, Rothfuss.

“(...) Kote permaneceu no bar, deslizando displicentemente as mãos pela madeira e pela palavra. Pouco depois, Bast veio da cozinha e olhou por cima do ombro do mestre.
Houve um logo momento de silêncio, como num tributo aos mortos.



Uma das definições de tributo é a seguinte: expressão ou ato público como mostra de admiração e respeito por alguém; homenagem. O trecho acima deixa bem claro que o silêncio que se seguiu se assemelhava a um tributo, à uma homenagem aos mortos. Disso podemos supor duas coisas: Insensatez tirou a vida de alguém importante para Kote, bem como não vitimou apenas uma pessoa. Paira a dúvida no ar do que deve ter acontecido, pergunta que será respondida no Terceiro Dia.


Ainda neste segundo capítulo, preciso que você lembre dos comentários que fiz a respeito do prólogo. O narrador havia afirmado que é claro que não havia música, como se tal hipótese fosse óbvia, como se existir música na Marco do Percurso fosse impossível. Mas não é que Kote, num dia particularmente agitado da hospedaria, recobrando um pouco do Kvothe que um dia foi, cantou uma cantiga conhecida do povo, Latoeiro curtumeiro, fazendo seus próprios acréscimos?
Tal trecho me deixou o seguinte questionamento: será que Kvothe ter mudado sua identidade para Kote foi muito além da simples troca de nome? Será a mudança ocorreu contra sua vontade e obrigou a deixar para trás todos os traços do Kvothe que um dia foi, talvez por estar tão arrasado que não conseguia mais sê-lo? O que aconteceu para deixar Kote tão diferente, e o que está acontecendo para torná-lo capaz de, aos poucos, retomar seu antigo eu?
Logo essa alegria toda tem fim, pois ao cantar, um dos frequentadores da hospedaria o reconhece como Kvothe e o questiona. Aliás, ele dá uma pista curiosa sobre o futuro dos livros, que se trata do passado de Kvothe:


“Vi o lugar em que você o matou, em Imre. Perto da fonte. Todas as pedras do calçamento ficaram estilhaçadas – disse, franzindo o cenho e se concentrando nessa palavra. – Estilhaçadas. Dizem que ninguém é capaz de remendá-las.

Kvothe matou alguém, e essa pessoa foi do sexo masculino, perto de uma fonte em Imre. Recordou de onde possa ser? Sim, muito provavelmente a fonte em frente da Eólica, que se localiza no centro do coração de Imre. Quem ele teria matado? Por quê? O que o deixou com tanta raiva, tanto descontrole emocional sobre seus poderes, a ponto de estilhaçar o calçamento?


Outra coisa que eu gostaria de destacar é um detalhe na página 36. Ao se despir, o narrador comenta sobre a luz do fogo desenhando as linhas finas, cicatrizes, nas costas e braços de Kote. Algumas nós sabemos como ele adquiriu – porém ali não há apenas cicatrizes velhas, mas novas também. Como elas foram adquiridas? O quanto são novas? Afinal, Kote não está em Nalgures há muito tempo – talvez não esteja ali nem há um ano. As cicatrizes são anteriores ao estabelecimento de Kote na cidade, ou ele as ganhou após ter chegado ali? Por que as tem?

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As cicatrizes de Kote/Kvothe.

Capítulo 4 – A meio caminho de Nalgures
Aqui temos a confirmação da natureza dos scrael: sim, são demônios. Não sei exatamente porque Kote fez Bast acreditar que não eram; eu também fiquei pensando que não até chegar a este capítulo. No entanto, o Cronista acaba topando com Kote e sua fogueira durante a noite, na estrada para Nalgures, e acontece o seguinte diálogo:

“– Por quê? O que há ali? (...)
– Para ser franco? (...) Demônios sob a forma de grandes aranhas negras. (...)
– Demônios não existem.
(...) O homem ruivo soltou uma gargalhada incrédula. – Bem, então acho que todos podemos ir para casa! – E deu um sorriso maníaco para o Cronista. – Escute, você me parece um homem instruído. Respeito isso e, na maioria dos casos, você teria razão. (...) Mas aqui e agora, nesta noite, está errado. Tão errado quanto se pode estar. É melhor que não esteja do lado de lá da fogueira quando descobrir isso.

Então podemos afirmar que sim, demônios estão se aproximando de Nalgures, e sabe-se lá por qual motivo escolheram um vilarejo tão pequeno e sem importância para atacar. Seria por conta de determinado ruivo, com um passado tão escuro quanto é possível? Mais uma vez penso que a presença dos demônios pode ser um presságio de que algo muito pior está para surgir.

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Kote enfrentando scraels.


Capítulo 5 – Notas
Ah, se você ficou em dúvida quanto ao motivo de tantos scrael terem surgido e atacado Kote, logo adiante Bast fica furioso afirmando que o hospedeiro guardou um pedaço do demônio que apareceu lá no primeiro capítulo para si. Kote confirma, e entendemos que ele o fez especificamente com o objetivo de atrai-los.
No final do curto capítulo também vemos o carinho com que Bast cuida de Kote. Então me veio à mente como ambos se conheceram, como ficaram tão amigos, como podem saber tanto um do outro. Será que isso tudo será revelado no próximo livro? Espero muito que sim.

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Bast e Kote.


Capítulo 6 – O preço da recordação
É aqui que o Cronista se revela como sendo Devan Lochees, bem como amigo do Skarpi– se essa não é sua primeira vez lendo, sabe muito bem de quem estamos falando. Também somos apresentados à famosa característica do Cronista: desmascarador. Não é de se espantar que Kote passe a ficar tão na defensiva. O Cronista também revela que sempre foi sua intenção ir atrás de Kote, e que apenas Skarpi sabe de sua ida até ali.
Acredito que você tenha notado que durante todo o texto até aqui eu tenha considerado que Kote está em Nalgures há pouquíssimo tempo. Aqui está o trecho responsável por essa minha convicção:

“- Sou o primeiro a admitir que talvez minha vinda aqui tenha sido um erro. – Fez uma pausa, dando a Kote a oportunidade de contradizê-lo. Ele não o fez. O Cronista deu um pequeno suspiro tenso e prosseguiu: - Mas o que está feito está feito. Você não quer ao menos considerar...
Kote abanou a cabeça.
– Isso foi há muito tempo...
 Não faz nem dois anos – protestou o escriba.

Para persuadir o hospedeiro a contar-lhe sua história como Kvothe, o Cronista joga no ar todas as teorias que existem ao respeito do ruivo. Dizem que foi apenas um mito, que nunca existiu; é retratado como pouco além de um assassino; que não é tratado como o herói que imagina ser, ainda que afirme ter merecido a alcunha de assassino após ter matado homens e “coisas que eram mais do que homens” que mereciam esse destino... E, por fim, ele menciona a teoria mais curiosa:

 Há até quem diga que existe um novo Chandriano. Um novo terror na noite. Ele tem o cabelo vermelho como sangue que derrama.

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É assim que o Cronista consegue convencer Kote a contar a sua história, como um modo de mostrar às pessoas o que realmente aconteceu, pelo que podemos assumir que todas as teorias mencionadas acima são irreais – embora eu realmente goste da que o coloca como um membro do Chandriano.
Outra coisa curiosa é que quando o Cronista se aproxima de mencionar que houve uma mulher, Kote fica imediatamente na defensiva. Logo em seguida, temos o trecho abaixo:

“O Cronista se viu pensando numa história que tinha ouvido. Uma dentre muitas. A história de como Kvothe saíra em busca do desejo de seu coração. Precisara enganar um demônio para alcançá-lo. Mas, depois de tê-lo nas mãos, fora obrigado a lutar com um anjo para conservá-lo. Eu acredito, descobriu-se pensando o escriba. Antes era só uma história, mas agora acredito nela. Esse é o rosto de um homem que matou um anjo.”

Gostaria de sugerir levemente duas personagens para você brigar consigo mesmo e imaginar quem seria o anjo, quem seria o demônio e quem seria o desejo de seu coração: Auri, Devi e Denna. Mas não se atenha a obviedades. Por exemplo, sei que Auri é tão pura e doce que dificilmente imaginaríamos que ela seria um demônio, com todos os sinais que Rothfuss deixa na história. Mas quer coisa mais surpreendente que essa? Por outro lado, tenho uma inclinação natural a não gostar da Denna – e por isso não a descarto como o possível demônio. Sabemos que Kvothe foi traído da forma mais cruel possível... Assumindo que amou Denna, quer maior traição do que ela nunca tê-lo amado e, pior ainda, se mostrar uma serva do Chandriano que existe apenas para atormentá-lo e segui-lo?



Capítulo 7 – Sobre primórdios e os nomes das coisas
Neste capítulo temos o início de Kote narrando a própria história, e o primeiro momento em que há a narração em primeira pessoa. Após surpreender o Cronista e dominar rapidamente o código que este inventou para que pudesse escrever rápido sem precisar colocar no papel palavra por palavra, o próprio Kote nos dá espécies de pequenos spoilers sobre o que virá pela frente. Ele fala sobre seu primeiro encontro com Denna, sobre ter entrado na Universidade, sobre o que levou até lá... Tudo isso numa rápida sucessão de afirmações. Há, depois, um trecho que nos dá spoilers de algumas coisas que sequer apareceram em O Temor do Sábio, e que provavelmente virão no terceiro livro:

“Já resgatei princesas de reis adormecidos em sepulcros. Incendiei a cidade de Trebon. Passei a noite com Feluriana e saí com minha sanidade e minha vida. Fui expulso da Universidade com menos idade do que a maioria das pessoas consegue ingressar nela. Caminhei à luz do luar por trilhas de que outros temem falar durante o dia. Conversei com deuses, amei mulheres e escrevi canções que fazem os menestréis chorar.
Vocês devem ter ouvido falar de mim.”



Por fim, vale destacar também essa citação:


“Esta, sob muitos aspectos, é uma história sobre o Chandriano.”

Há várias formas de se interpretar a afirmação, e eu queria sugerir uma para você: que é literalmente uma história sobre o Chandriano, pois está sendo contada pelo mais novo membro do grupo.



Capítulo 8 – Ladrões, hereges e prostitutas
É a partir daqui que o livro será narrado totalmente em primeira pessoa, através dos olhos e palavras de Kote, que contará sobre sua vida como Kvothe. É quando a narração fica mais pessoal por motivos óbvios, e vemos o personagem incutir em seu modo de narrar toda aquela habilidade teatral adquirida com os Edena (Edema no original) Ruh. Então sim, há muito dramaticidade e exageros, e é exatamente disso que eu gosto em O Nome do Vento.

“Meu pai era melhor ator e músico do que qualquer um que você já tenha visto. Minha mãe tinha um talento natural para as palavras. Ambos eram bonitos, de cabelos pretos e riso fácil. Eram Ruh até os ossos, e isso, a rigor, é tudo o que precisa ser dito; exceto, talvez, que mamãe tinha pertencido à nobreza antes de participar da trupe. Ela me contou que papai a seduziu a deixar “um inferno enfadonho e miserável” com melodias doces e palavras mais doces ainda. Só posso presumir que se refere a Três Encruzilhadas, onde estivemos visitando parentes uma vez, quando eu era muito pequeno.”

Arliden e Laurian, pais de Kvothe.

Aqui temos também o aparecimento de uma figura que foi de suma importância para o crescimento de Kvothe em todos os aspectos possíveis: Abenthy. Não fosse pelo arcanista, talvez Kvothe jamais tivesse entrado na Universidade. O próprio afirma:

“Havia ainda Abenthy, meu primeiro verdadeiro professor. Ele me ensinou mais do que todos os outros juntos. Não fosse por ele, eu jamais teria me transformado no homem que sou hoje.
Peço a você que não o censure por isso. Suas intenções foram boas.”

Após essas últimas frases, é preciso que a gente assuma uma coisa: Kvothe talvez não seja o herói que imaginamos. Aliás, essa seria a maior surpresa em toda a Crônica do Matador do Rei: descobrir que na realidade, ele ocupará a posição de vilão. Afinal, mesmo sendo tão arrogante, o personagem admite que não é bom – ou do bem. Que Abenthy o transformou no que é, o que foi um erro, embora não tenha sido essa intenção.
Neste capítulo foi a primeira vez que vimos a magia sendo feita, à exceção do momento em que Kote se irrita com o Cronista e uma das garrafas quebra na Marco do Percurso. Foi o que incentivou Kvothe a se aproximar de Abenthy, a atrai-lo para os Edena Ruh. Como ele mesmo afirma, apesar de ver muita utilidade em ter um arcanista no grupo, sabia que no fundo sua motivação era completamente egoísta. Ele queria chamar o vento exatamente como vira Abenthy fazer.
O encontro entre os dois, a propósito, exibe um momento de preconceito que parece ser bem comum para com os arcanistas, vistos quase como demônios pelos mais leigos, e para com os artistas itinerantes, mesmo renomados como os Edena Ruh, que eram tidos como prostitutas, ladrões e hereges.

“Essa era a parte mais difícil de crescer entre os Edena Ruh. Éramos estrangeiros em toda parte. Muitas pessoas nos viam como vagabundos e mendigos, enquanto outras nos julgavam pouco mais do que ladrões, hereges e prostitutas. É difícil sofrer acusações injustas, mas é pior quando quem nos olha com desdém são grosseiros que nunca leram um livro nem viajaram para mais de 30 quilômetros do lugar em que nasceram.”

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Abenthy e Kvothe.


Capítulo 9 – Andando de carroça com Ben
No nono capítulo vemos um pouco da nova rotina de Kvothe na companhia de Abenthy. O garoto passa a viajar na carroça do arcanista com frequência, e ambos fazem uma troca: o conhecimento do velho pela música dedilhada por Kvothe no alaúde emprestado do pai.
Kvothe se mostra uma criança inquisitiva e curiosa, sempre ávida por saber mais sobre todas as coisas, características que já havia mencionado no capítulo anterior. Há uma passagem que gosto muito nesse capítulo atual:

“Abenthy me olhou com ar avaliador. Era um olhar que dizia: ‘A sua fala não é tão jovem quanto a sua aparência’. Torci para que ele não se prolongasse nessa questão. É cansativo as pessoas se dirigirem a nós como se fôssemos crianças, mesmo quando por acaso o somos.”


Aqui temos a primeira olhadela ao sistema de magia que rege o universo de A Crônica do Matador do Rei, que não é exatamente uma magia: estamos falando das simpatias. Elas são muito mais exploradas nos capítulos em que Kvothe frequenta a Universidade.
É com Abenthy, e nesse capítulo, aliás, que o garoto toma conhecimento de como funciona o Arcanum e a Universidade, destino de Kvothe se ele quiser seguir seus novos objetivos de ser um arcanista e nomear o vento. O que se segue são verdadeiras aulas lecionadas por Abenthy ao garoto. Ele aprende muitas coisas, dentre as quais possivelmente não imaginou que aprenderia um dia, e teve um progresso rápido, mas não surpreendente se acreditarmos nas histórias que descrevem-no como prodigioso.




Capítulo 10 – Alar e diversas perdas
Aprendemos, com Kvothe, muito mais sobre as simpatias. É como o próprio Kote-narrador afirmou no final do capítulo passado: Abenthy está preparando o garoto para enfrentar o que está por vir na Universidade (que começará a frequentar muito mais cedo do que o próprio Kvothe imaginava). É também a primeira vez que é chamado de E’lir, “alcunha” essa que só recebia de Bem quando estava sendo teimoso de propósito.
No capítulo dez, Kvothe tem seus primeiros exercícios envolvendo a simpatia, basicamente são suas primeiras lições e com certeza, as mais desafiadoras. Afinal, aprender a lidar com a simpatia e o alar pela primeira vez é ir contra tudo o que lhe foi ensinado na vida até então. Trata-se, em síntese, de controlar as coisas com a força do pensamento – e Kvothe descobre que é infinitamente mais difícil do que foi um dia capaz de imaginar. Além de aprender o conceito básico do alar, Ben também ensina ao garoto o famigerado Coração de Pedra, que tanta importância terá não apenas nos livros já publicados, como aqueles que já leram notaram, mas muito provavelmente no terceiro livro também.

“Houve muitas outras lições, mas nenhuma tão axial quanto a do Alar. Ben me ensinou o Coração de Pedra, um exercício mental que permitia ao sujeito pôr de lado as emoções e preconceitos e pensar com clareza no que bem entendesse. Disse-me que o homem que realmente dominasse o Coração de Pedra seria capaz de ir ao funeral da própria irmã sem verter uma lágrima.”



Lanre e Kote

Eu gostaria mesmo de enfatizar a possibilidade de Kote ser um Chandriano, ou estar a meio caminho de assim tornar-se.
Lanre, de muitos modos, acaba por ser responsável pela tragédia que ocorre com Kvothe nos capítulos a seguir. Arliden estava focado numa canção sobre ele, mas Kvothe só descobre a história completa de Lanre muitos anos depois. A história do homem - ou mito, se você preferir assim - é sobre alguém que um dia foi visto como um herói, como uma pessoa virtuosa e cheia das melhores qualidades. E, de modo bem resumido, ele acabou perdendo o amor da sua vida (eu entendi que ele a matou num acesso de loucura), passando por um sofrimento indescritível, o que acabou por desvirtuá-lo completamente. Revoltado, seu novo objetivo passou a ser destruir o mundo. E adotou um novo nome.

“(...) Mas sabia a verdade. Já não sou o Lanre que conheceste. A mim pertence um novo e terrível nome. Sou Haliax, e nenhuma porta é capaz de barrar minha passagem. Está tudo perdido para mim: nem Lyra, nem a doce fuga do sono, nem o abençoado esquecimento; até a loucura foge ao meu alcance. A própria morte é uma porta aberta para meu poder. Não há como escapar. Resta-me apenas a esperança do vazio, depois que tudo se for e que o Aleu cair do céu, anônimo.”

Sim. Lanre, um dia considerado o melhor guerreiro e mais virtuoso dos homens, tornou-se o líder do Chandriano, capaz de incutir medo no próprio Gris/Cinder. Vamos compará-lo à história de Kvothe/Kote? Ambos foram pessoas prodigiosas com feitos memoráveis. Ambos amaram mulheres, e possivelmente acabaram por matá-las (e se isso for o que mais atormenta Kote?). Ambos, por isso, passaram por um sofrimento indizível. Até aí, está tudo certo. Nada indica, a propósito, que a transformação de Lanre tenha ocorrido conscientemente, ou através da própria vontade.
Poderia estar o mesmo acontecendo com Kote? Será que no fundo ele sabe disso, e por isso tem rompantes de fúria em que parece um vilão, especialmente com o Cronista, e se sente culpado por ser quem é? Será que não é o Chandriano que está atrás dele, mas os Amyr? Abre-se aqui uma possibilidade. Meio louca, certo? Mas é uma possibilidade. Como eu disse, as semelhanças entre Lanre e Kote são imensas, e todos já podemos assumir que nosso protagonista ruivo não é a melhor pessoa que existe na face dos Quatro Cantos da Civilização. E voltando a falar um pouquinho dos scrael: e se eles estiverem sendo atraídos por Kote como um ímã? Isso, claro, contradiz a teoria de que eles pressagiam algo ruim chegando... Exceto se quem está chegando é Haliax, determinado a matar Kote e acabar com a ameaça de que nosso ruivo possa ser o novo líder do Chandriano. Sim, mereço o selo viagem de teorização.

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Haliax, que segundo as lendas deve sua aparência a Selitos.

Esses foram os dez primeiros capítulos de O Nome do Vento, além do prólogo. Os comentários estão abertos a sugestões, críticas e opiniões de toda sorte. E, acima de tudo, quero que você responda a seguinte pergunta: essa postagem foi capaz de fazê-lo refletir mais acerca da história? Se sim, meu papel aqui foi cumprido e as horas dedicadas a escrever essa postagem não foram em vão. :p.


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#RelendoKvothe || Releitura de O Nome do Vento – Parte 2

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Oie, tudo bem? Então aqui estamos nós com a segunda parte do projeto #RelendoKvothe. Dessa vez, a leitura abrangeu os capítulos 11 – 20. Reler esses capítulos, incluindo os que eu falei na parte 1, me fez compreender o motivo de eu ter demorado tanto a engatar na leitura: exceto se você já conhece a história, provavelmente os quinze primeiros capítulos parecerão maçantes demais. Afinal, não se pode negar que O Nome do Ventoé um livro com pouca ação, se destacando muito mais pela narração de Kote e pelo sofrimento de Kvothe do que por momentos de tensão e cenas épicas. Então dois pontos positivos para você começar a se apaixonar pela história a partir daqui: além de a narração ter mudado em definitivo, passando a ser em primeira pessoa na maioria dos capítulos, os acontecimentos começaram a ficar mais interessantes para quem está tendo um primeiro contato com o universo de Patrick Rothfuss. Porém, se você chegou nessa altura do campeonato e continua sem gostar da história, recomendo que deixe O Nome do Vento de lado por um tempo e tente retomar a leitura em outra oportunidade. Sério, não force a barra.
Agora, se você está relendo ou se é a sua primeira vez mas já está apaixonado, vem aqui comigo para a análise capítulo a capítulo dessa história fascinante.


Capítulo 11 – A conexão do ferro
Aqui temos mais do aprendizado de Kvothe com Abenthy quanto às simpatias. Kote, em sua narração, nos dá breves explicações sobre como funciona a simpatia e as conexões. Nada de muita novidade ou material para teorias, até que finalmente pulamos para a parte interessante do capítulo: a origem da mãe de Kvothe.
Antes de tudo, sei que no último post chamei-a pelo nome de Laurian. É como, de fato, ela se chama. Só que isso não é revelado no primeiro livro, apenas no segundo, então meio que dei spoiler e me desculpo por isso :p Mas fique tranquilo, não estraguei absolutamente nada ao falar o nome de Laurian. Isso não influencia em muita coisa na história.
Enfim. Destaquemos aqui o momento em que ela flagra Kvothe cantarolando algo que escutou outras crianças cantarem. A música se refere a uma tal Lady Lackless.


“Lady Lackless tem sete coisas não reveladas
Sob o vestido negro guardadas.
Uma é um anel, não para enfeitar,
Outra, uma palavra ardente, não para xingar.
Bem junto à vela do marido, secreta,
Fica uma porta sem maçaneta.
Numa caixa que nem tampa ou chave tem
Ficam as pedras do marido também.
Há um segredo que ela anda guardando:
Lackless não vem dormindo, mas sonhando.
Numa estrada que não é para viajar
Agrada-lhe seu enigma enredar.”



Guarde bem estas rimas. Elas serão muito importantes especialmente em O Temor do Sábio– não lembro exatamente o porquê e preciso reler por isso.
De qualquer modo, a mãe de Kvothe o flagra cantarolando a cantiga. Num primeiro momento, parece que ela está repreendendo o filho por conta do teor sexual das rimas, além do “tom de fofoca” que aparentam ter. Mas se você reparar bem no diálogo que se segue, conseguirá pegar pequenas pistas que mostram que Laurian ficou incomodada com a canção por outros motivos. Kvothe tenta argumentar, alegando que há outras canções com teor sexual que fazem parte da rotina da trupe. A resposta de Laurian é a seguinte:

“– (...) lady Perial é só um personagem. Lady Lackless é uma pessoa real, cujos sentimentos podem ser melindrados.” 
“– Apenas se lembre de pensar no que faz (...) Acho que você poderia se redimir com Lady Lackless e comigo se fosse procurar umas urtigas-brancas para eu pôr na panela do jantar de hoje.”

No primeiro trecho, Laurian utilizou o tempo verbal no presente – o que pode indicar que ela assume que Lady Lackless existe até os dias atuais. No segundo trecho, ela diz que Kvothe poderia se redimir com ela mesma, Laurian, e com Lady Lackless ao mesmo tempo. Uma brincadeira ou algo mais sério que podemos ver nas entrelinhas? Não são poucas as teorias que apontam que Laurian seria, na realidade, parte da família Lackless.
Veja bem: logo no segundo livro você conhecerá um membro da família Lackless, que é da nobreza de Vintas. Essa mesma pessoa odeia os Edena Ruh, pois segundo conta, sua irmã mais nova fugiu com uma trupe itinerante porque apaixonou-se por um de seus integrantes. Então aqui temos pistas suficientes para acreditar que Laurian era/é a Lackless perdida. Mas isso, claro, será melhor discutido em O Temor do Sábio.

Pequena ironia: neste mesmo capítulo a mãe de Kvothe lhe diz para ter cuidado com o que canta... Um aviso que ela mesma e Arliden ignoraram.



Capítulo 12 – Peças encaixadas no quebra-cabeça

O décimo segundo capítulo foca numa conversa entre Abenthy, Laurian e Arliden sobre a música que o último está compondo, enquanto Kvothe escuta tudo escondido. Algumas coisas concretas sobre o Chandriano aprendemos com Ben: por exemplo, eles são sete.

“– Essa eu sei responder – afirmou Ben. – São sete. A isso você pode se ater com alguma certeza. Na verdade, faz parte do nome deles. Chaen significa sete. Chaen-dian significa ‘sete deles’. O Chandriano.”

Outra coisa importante a destacar aqui é que na página 86 está o provável motivo de o Chandriano ter ido atrás dos Edena Ruh. Arliden comenta com Ben que parece finalmente ter descoberto a razão deles. Não pode ser coincidência que algum tempo depois, aconteça o que aconteceu. Afinal, segundo Kvothe, faz um ano e meio que Arliden está compondo a música e pesquisando sobre Lanre, Lyra e o Chandriano e nada havia lhe acontecido. Não deveria apresentar grande perigo ao grupo até então – como ele mesmo dizia, tudo o que sabia eram fragmentos remendados que no final nem faziam tão sentido por apontar para diversos caminhos. Mas então ele declara saber a razão, aquilo que move o Chandriano, e parece estar perigosamente próximo de algo que eles não querem que seja descoberto...
Enfim, o restante da conversa gira basicamente em torno dos sinais do grupo, com Abenthy demonstrando um grande receio em falar do Chandriano em voz alta – algo tipo falar o nome de Voldemort no universo de Harry Potter, sabe?
Na página 89, Abenthy propõe uma reflexão interessante quanto a acreditar ou não em criaturas como demônios, encantados e no próprio Chandriano. Reiteremos aqui que todos encaram as histórias como lendas sem qualquer existência fática. É uma pena que descubram a verdade da pior forma...


Mais tarde, a conversa muda para Abenthy falando aos pais de Kvothe o quanto o garoto é inteligente e esperto demais para a sua idade, que de fato possui uma aptidão extraordinária para as coisas. É também a primeira vez que Kvothe ouve e considera a possibilidade de ingressar na Universidade como real.Sinais importantes a se destacar nesse capítulo, além do já mencionado: Laurian dá mais pistas sobre sua nobreza e seu passado em duas passagens. Quando Abenthy menciona que Kvothe possui mãos maravilhosas, Laurian afirma que “ele os herdou do pai (...), perfeitos para seduzir as filhas jovens dos nobres”. Logo em seguida, quando brincam sobre Kvothe ser filho de algum deus, ela afirma:

“– Pensando bem, houve uma noite, há mais ou menos 12 anos, em que um homem se aproximou de mim. Atou-me com beijos e acordes de canções. Roubou minha virtude e me raptou. – Fez uma pausa. – Mas ele não tinha cabelo ruivo. Não pode ter sido esse.”


Capítulo 13 – Interlúdio: Carne com sangue por baixo

O interlúdio serviu para nos mostrar quem Bast realmente é. Já vimos várias referências ao seu modo gracioso de andar, o que foi uma pista bem pequenininha de sua natureza, mas é aqui que a gente confirma nossas suspeitas.

O Cronista, Bast e Kote na Pousada Marco do Percurso.
“Para sermos justos, é preciso dizer uma coisa sobre Bast. À primeira vista, ele parecia um rapaz comum, embora atraente. Mas havia algo diferente. Por exemplo, usava botas pretas de couro macio. Pelo menos, era o que se via ao olhá-lo. No entanto, se por acaso você o vislumbrasse pelo canto do olho e ele estivesse parado no tipo certo de sombra, talvez você visse algo inteiramente diverso. E se você tivesse o tipo certo de mente, aquele tipo de mente que realmente vê aquilo para que se olha, talvez notasse que os olhos dele eram estranhos. Se sua mente tivesse o raro talento de não se deixar enganar por suas próprias expectativas, você notaria uma outra coisa neles, algo insólito e maravilhoso.”

Bast é pego bisbilhotando a história que Kote narra ao Cronista, e então o hospedeiro ordena que ele fique e ouça até o final. Mas um pequeno conflito acontece entre Bast e Devan. Foi útil para descobrirmos informações sobre os dois: Bast tem cento e cinquenta anos, está há dois com Kote, e é na verdade Bastas, filho de Remmen, Príncipe do Crepúsculo e dos Telwyth Mael. Devan, o Cronista, não é apenas um escriba e historiador, mas também membro do Arcanum, no mínimo Re’lar, e uma entre as poucas pessoas no mundo que conhecem o nome do ferro.
Agora vamos destrinchar um pouquinho as coisas.
Remmen é, óbvio, o pai de Bast, e rei dos Telwyth Mael, que parece ser uma espécie de sub-divisão dentro do reino dos encantados/fae. Não temos muitas pistas sobre, pelo menos ainda. Quanto ao título Príncipe do Crepúsculo, peço a você que já conhece os livros, que avance um pouco em suas lembranças e recorde que Feluriana é a Senhora do Crepúsculo. Apenas queria deixar isso aqui, bem frisado.
Quanto ao Cronista, ele conhece o nome do ferro, e por este motivo, ao proferi-lo, estabelece uma conexão que imobiliza e causa dor extrema a Bast. Será que ele realizou uma espécie de conexão com o ferro no sangue do fae?

“Ele tinha mudado. Os olhos que vigiavam o Cronista ainda eram de um impressionante azul marinho, mas agora pareciam ter uma cor só, como pedras preciosas ou lagoas nas profundezas da floresta, e suas botas de couro macio tinham sido substituídas por graciosos cascos fendidos.”


Capítulo 14 – O nome do vento

Aqui vemos que um momento de insensatez de Kvothe quase lhe custou a vida. As suas aulas com Abenthy continuaram, e o garoto tentou demonstrar ao arcanista que é espertinho e conseguia fazer algo semelhante ao que viu Ben fazer quando este chamou o nome do vento, alguns capítulos atrás.

“Em retrospectiva, o que fiz foi de uma estupidez gritante. Quando conectei minha respiração ao ar do lado de fora, isso me tornou impossível respirar. Meus pulmões não tinham força suficiente para mover tanto ar assim. Seria preciso que eu tivesse um peito como um fole de ferro. Minha sorte seria a mesma se eu tentasse beber um rio ou levantar uma montanha.”

O seu pequeno momento de grande insensatez viria a refletir e muito em toda a sua relação com Abenthy. Não que o arcanista tenha passado a odiá-lo – só pareceu ficar muito mais cuidadoso. Pergunto-me se Ben não começou a ficar preocupado com a hipótese de Kvothe tornar-se um segundo Haliax... Pois, neste mesmo capítulo, Ben afirma ao seu aprendiz que “conhecer a história de Lanre talvez lhe dê alguma perspectiva”. É por este motivo que acredito que, a partir do momento em que a insensatez de Kvothe quase lhe tirou a vida, Abenthy tornou-se três vezes mais cauteloso e até receoso quanto ao garoto. Aparentemente, Ben não tinha certeza quanto à natureza do ruivo. Kvothe, afinal, mostrou-se perigoso. Talvez perigoso demais para possuir tanto conhecimento. Imaturidade, insensatez, orgulho obstinado: nada disso é uma boa combinação. Por um momento, tenho certeza que Ben vislumbrou um péssimo futuro para seu aprendiz.

As aulas se reduziram até quase parar. Ben suspendeu meus estudos iniciantes de alquimia, restringindo-me à química. Recusou-se a me ensinar qualquer noção de siglística e, ainda por cima, começou a racionar as poucas simpatias que julgava seguras para mim.”



Capítulo 15 – Distrações e despedidas

O décimo quinto capítulo é como aqueles momentos de sua vida em que tudo está tão perfeito, mas tão perfeito, que você sabe que cedo ou tarde aparecerá uma bomba porque as coisas não podem ser tão maravilhosas assim o tempo todo. É um dos dias mais felizes da vida de Kvothe, ainda que marcado por uma triste despedida. Kote narra essa data com tão grande riqueza de detalhes que você entende o quanto aquele dia lhe foi importante. Não tratou-se apenas da comemoração do seu décimo segundo aniversário, mas e um momento de sorrisos fáceis, abraços calorosos, presentes queridos e lágrimas sinceras. É também a primeira vez que vemos alguém cantar o Lai de Sir Savien Traliard, no caso uma das únicas pessoas, segundo Kote, capaz de executá-la e declamá-la com perfeição – seu pai, Arliden.
O pai de Kvothe também dá uma pequena prova da canção que está construindo, cantando apenas o primeiro trecho:

Lanre, Lyra e Haliax.

“Sentem-se e ouçam todos, pois cantarei 
Uma história criada e esquecida em velhos 
E idos tempos. 
A história de um homem: 
O orgulhoso Lanre, forte como o flexível aço, 
Da espada que sempre tinha pronta à mão. 
Ouçam como ele lutou, caiu e tornou a se erguer, 
Para de novo tombar e à sombra padecer. 
Derrubado pelo amor, o amor à terra natal, 
E o amor por sua esposa, Lyra, a cujo chamado fatal 
Ele se ergueu e cruzou as portas da morte, ouvi dizer, 
Para pronunciar o nome da amada 
Como o sopro primeiro de seu renascer.”

Por fim, no dia seguinte à comemoração e despedida de Ben, Kvothe encontra um exemplar de Retórica e Lógica do arcanista, bem como um bilhete:

“Kvothe, 
Defenda-se bem na Universidade. Deixe-me orgulhoso. 
Lembre-se da canção de seu pai. Cuidado com a insensatez
Seu amigo 
Abenthy”

Considerando que a canção de Arliden se resumiu apenas ao trecho acima, ao que Abenthy poderia estar se referindo ao dizer para Kvothe lembrar da canção do pai? Referia-se ao orgulho de Lanre? Sobre como lutou, caiu, ergueu-se e mais uma vez caiu por conta de sua insensatez?
Aqui reitero o que afirmei na parte 1: a espada de Kote ter recebido esse nome não é mera coincidência ou um modo de homenagear Abenthy. Vai muito além disso, certamente.

Capítulo 16 – Esperança

Apenas a título de curiosidade, aqui temos mais uma dica da nobreza de Laurian, quando Kote narra que a mãe começou a ensiná-lo os modos e regras que deveria seguir quando estivesse em companhia de pessoas refinadas.

Enfim. Este capítulo é onde as coisas começam a dar errado para Kvothe. A primeira pista de que isso irá acontecer vem através de um comentário de Arliden, que certamente nenhum de nós deve ter levado a sério no momento da primeira leitura.

“– Francamente! – exclamou papai, virando a carroça em direção a uma clareira à margem da estrada. – Esta é ou não é a estrada real? É como se fôssemos as únicas pessoas nela! Há quanto tempo foi aquele temporal? Duas onzenas?”

Como você pode perceber, eles estão há muitos dias andando pela estrada real, e pelo visto sem encontrar nenhuma pessoa ou qualquer indício de que estejam alcançando o destino. E isso tudo há mais de dezesseis dias. Se Arliden, que há tanto tempo vive com os Edena Ruh e deve ter andado por aquela estrada centenas de vezes, se estressou com o tempo e a quantidade de árvores partidas que encontram no caminho, certamente a situação toda deve ser estranha. Será que já estavam sob influência de alguma espécie de poder do Chandriano, que os isolou momentaneamente do mundo real para fazer o que fizeram depois?
De qualquer forma, devido ao carvalho caído, a trupe é obrigada a parar. Laurian pede a Kvothe que vá procurar por uma espécie de planta nas redondezas de onde estão acampados. E assim, tão de repente, essa é a última vez que o garoto vê a única família que conheceu com vida.

“Espero que tenham aproveitado bem aquelas últimas horas. Espero que não as tenham desperdiçado em tarefas insignificantes, como acender a fogueira para a noite e picar legumes para o jantar. Espero que tenham cantado juntos, como faziam tantas vezes. Espero que se tenham recolhido à nossa carroça e passado um bom tempo nos braços um do outro. Espero que depois tenham-se deitado bem juntinhos e conversado em voz baixa sobre bobagens. Espero que tenham ficado juntos, ocupados em se amar, até chegar o fim. 
É uma pequena esperança, e inútil, na verdade. Eles estão mortos, de qualquer jeito. 
Mesmo assim, eu espero.”


Quando Kvothe retorna, tudo está destruído. As chamas consomem as carroças e rostos tão familiares fixam o céu logo acima com olhares vidrados e vazios. A cena de destruição é completa, e uma das coisas que Kvothe nota é que todas as chamas, sendo de fogueiras ou incêndios, tinham um toque azulado.
Outra coisa que ocorre é, quando o garoto se aproxima de uma carroça para ouvir melhor as vozes estranhas que escuta conversando entre si, apoia-se na roda. As tiras de ferro se esfarelam no mesmo instante, bem como a madeira da carroça, apodrecida, se desfaz em lascas. Quando isso acontece, a presença de Kvothe é notada por ninguém mais, ninguém menos que Gris.

“– Rapazinho, onde estão seus pais? (...) Alguém sabe onde estão os pais dele? (...) Esta é a fogueira dos seus pais? – perguntou, com terrível prazer na voz. Assenti com a cabeça, aturdido. (...) – Os pais de alguém andaram cantando o tipo inteiramente errado de canção.”
Então o que apreendemos deste capítulo: que quem está ali é, de fato, o Chandriano. Apenas Haliax e Gris se pronunciam. Haliax é uma entidade (por falta de palavra melhor) em torno do qual as sombras se acumulam, e é o líder dos sete. Parece guardar alguma piedade dentro de si, talvez dos tempos como Lanre, quando ordena que Gris mate de uma vez Kvothe, encerrando aquela tortura psicológica com alguém que não fez nada, como o próprio afirma. Gris é um servo de Haliax, embora pareça não gostar muito disso, e tem uma aparência que me fez recordar Bast – os olhos sem íris, o caminhar gracioso. Mas não apenas isso me remeteu imediatamente ao aprendiz de Kote: em um momento do capítulo, Haliax faz com Gris o mesmo que o Cronista fez com Bast. Então me veio a dúvida: seria férula o nome do ferro? Será que o Cronista e Haliax utilizaram a mesma conexão?

“― Você é um instrumento em minhas mãos — interrompeu gentilmente o homem envolto em sombras. ― Nada mais. 
Um toque de desafio se esboçou na expressão de Gris. Ele fez uma pausa. 
― Eu gos... 
Férula— disse a voz baixa, endurecendo-se como uma barra de aço de Ramston. 
A graça mercurial de Gris desapareceu. Ele cambaleou, com o corpo subitamente enrijecido de dor.

Logo em seguida, Haliax pressiona Gris, inquirindo-lhe sobre quem lhe protege dos Amyr, cantores, sithes e de todos os que gostariam de feri-lo no mundo. Os Amyr nós sabemos quem são (espécie de cavaleiros templários, conhecidos formalmente comoOrdem Sagrada dos Amyr, que segundo os mitos foi fundada por Selitos com o objetivo de caçar e destruir o Chandriano). Os cantores, imagino que sejam pessoas como Arliden. Agora dos sithes não temos muitas certezas, exceto que são uma facção formada por fae cujo objetivo é proteger e guardar Cthaeh, personagem icônico do segundo livro.
Enfim, o diálogo entre Haliax e Gris se encerra repentinamente, logo no momento em que Haliax começa a voltar sua atenção a Kvothe. Algo muda no ar e todos ficam em silêncio estático, enquanto o garoto afirma que tem a sensação de estar sendo observado. Haliax logo os chama para perto de si, envolve todos os outros seis nas sombras que cercam-no e desaparecem, não sem antes dizer “Eles estão vindo”.
Aí me pergunto: quem estava indo? E por que não apareceu? Kvothe permaneceu ali, afinal de contas. Até dormiu na carroça dos pais após enterrá-los em sepulturas que cavou até os dedos sangrarem. Sozinho, acordou apenas quando as velas que acendera provocaram um pequeno incêndio na carroça. Resgatou o que lhe era querido, incluindo o alaúde do pai e o exemplar do livro de Ben, e foi para a floresta. Se foi a presença dos Amyr ou até de Selitos que Haliax sentiu e se assustou, eles com certeza não apareceram para Kvothe.
Espero um dia ter uma resposta para isso, porque fiquei realmente curiosa.


“Meus dedos doíam, mas toquei assim mesmo. Toquei até sangrarem nas cordas. Toquei até o sol brilhar por entre as árvores. Toquei até ficar com os braços doloridos. Toquei, tentando não lembrar, até adormecer.”


Capítulo 17 – Interlúdio: Outono

Mais uma pausa na história de Kvothe para retornar ao presente, na Marco do Percurso. O interlúdio mostra um Bast preocupado com Kote: ao segurá-lo para interceptar o ataque de Bast ao Cronista, o hospedeiro acabou ferindo o pulso do primeiro. Bast, porém, não quer que Kote saiba disso, pois sabe que o homem se sentirá culpado. Aqui, portanto, a gente tem uma provinha do quanto Bast se importa com o ruivo – e eu não consigo imaginar o motivo, torcendo para que As Portas de Pedra finalmente explique como esse relacionamento teve início e o que está a sustentá-lo.
O interlúdio também mostra Kote tentando ser forte, até o momento em que dá uma desculpa para sair da hospedagem e se dirigir ao bosque nos fundos. É ali que chora, que se desmonta em lágrimas com as lembranças terríveis, sozinho e destroçado, com um orgulho férreo demais para permitir que vertesse ao menos uma lágrima diante de Bast e do Cronista.

Vale destacar uma fala de Kote neste interlúdio (que me deixou a dúvida: o que poderia ser pior?):

“– Agradeço seu interesse, mas isto é apenas um pedaço da história, nem sequer o pior, e não o estou contando para despertar piedade.”




Capítulo 18 – Estradas para locais seguros

No décimo oitavo capítulo temos a passagem mais linda e tocante de A Crônica do Matador do Rei, na minha opinião. É aquela que fala sobre as portas da mente, que eu pretendo um dia pintar em uma parede do meu quarto, tamanho é o amor que tenho por ela. Logo depois, em termos de partes favoritas, vem O silêncio em três partes (só por curiosidade mesmo hahaha).

“A maior faculdade que nossa mente possui é, talvez, a capacidade de lidar com a dor. O pensamento clássico nos ensina sobre as quatro portas da mente, e cada um cruza de acordo com sua necessidade. 
Primeiro, existe a porta do sono. O sono nos oferece uma retirada do mundo e de todo o sofrimento que há nele. Marca a passagem do tempo, dando-nos um distanciamento das coisas que nos magoaram. Quando uma pessoa é ferida, é comum ficar inconsciente. Do mesmo modo, quem ouve uma notícia dramática comumente tem uma vertigem ou desfalece. É a maneira de a mente se proteger da dor, cruzando a primeira porta. 
Segundo, existe a porta do esquecimento. Algumas feridas são profundas demais para cicatrizar, ou profundas demais para cicatrizar depressa. Além disso, muitas lembranças são simplesmente dolorosas e não há cura alguma a realizar. O provérbio “O tempo cura todas as feridas” é falso. O tempo cura a maioria das feridas. As demais ficam escondidas atrás dessa porta. 
Terceiro, existe a porta da loucura. Há momentos em que a mente recebe um golpe tão violento que se esconde atrás da insanidade. Ainda que isso não pareça benéfico, é. Há ocasiões em que a realidade não é nada além do penar, e, para fugir desse penar, a mente precisa deixá-la para trás. 
Por último, existe a porta da morte. O último recurso. Nada pode ferir-nos depois de morrermos, ou assim nos disseram.”

Eu acho que estas portas da mente têm um significado mais específico do que mera narrativa poética e palavras bonitas. Afinal, mais à frente, quando Kvothe ouve a história de Lanre, as mesmas portas são mencionadas. Em minha teoria, esta passagem tem um grande valor para a história como um todo. Descobriremos isso mais adiante, quem sabe?
Quanto ao capítulo, ele é curtinho e mostra o primeiro dia de Kvothe sozinho e andando a esmo, após ter perdido toda a sua família – tanto a de sangue quanto a de coração. Quando foge para a primeira porta, a do sono, acaba sonhando com todas as coisas importantes para a sua sobrevivência que já aprendera ao longo dos doze anos de idade. É interessante a forma que sua mente encontra para recordar coisas tão importantes que lhe garantiram que sobrevivesse tanto tempo ali, sozinho.


Capítulo 19 – Dedos e cordas

Aqui temos a rotina de Kvothe sendo apresentada. Uma nova rotina que inclui procurar o que comer, tocar alaúde e esquecer toda aquela tragédia. Conscientemente, o garoto evita lembrar da morte dos Edena Ruh, bem como de seu encontro com o Chandriano. Ele simplesmente come e toca. Mais tarde, quando esgota todo o seu repertório musical, inventa novas músicas e acrescenta pedaços àquelas que só ouviu uma parte.
Meses se passam, a primeira corda do alaúde de sete cordas se rompe. Persistente, Kvothe reaprende a tocar, até que mais duas também partem. Não é o fato de estar vivendo na floresta, nem a solidão, nem mesmo a fome pela comida insuficiente que levam o garoto a procurar alguma cidade: são aquelas três cordas partidas que ele precisa repor, pois a maior certeza que tem na vida é que o alaúde é seu bem mais precioso e que tocá-lo é a única coisa que pode, deve e irá fazer.
É apenas por isso que ele chega em Tarbean, na companhia de um aldeão caipira que, apiedando-se, encontra-o na estrada e lhe oferece carona. Após tanto tempo, o aldeão e seu filho são a primeira pessoa com quem Kvothe troca algumas palavras.


Capítulo 20 – De mãos ensanguentadas a punhos de dor lancinante

Este capítulo traduz as “boas-vindas” de Tarbean a Kvothe. Ou seja, é apenas a primeira noite das muitas em que o garoto sofre, quase morre de frio e de fome e é espancado nas ruas da cidade. Nesse vigésimo capítulo, ocorre o primeiro encontro do jovem Kvothe com Pike e seus amigos de rua imbecis. O primeiro encontro não termina muito agradável: o ruivo apanha até desmaiar e o alaúde, antes do pai, fica em pedaços. Esse é apenas um dos socos que a vida insiste em dar em Kvothe, achando que ele talvez não tenha sofrido o suficiente... Enfim, daqui não há muito o que se pescar em termos de teorias. Só sofrimento, dor e saudade.


Kvothe até tenta retornar à praça e encontrar de novo o aldeão que lhe deu carona e seu filho, conforme ele dissera para estar ali até o crepúsculo caso quisesse retornar para a sua fazenda e passar a morar com ele, mas o garoto chega tarde demais e tudo o que lhe resta é dormir nas ruas.


“As pedras do calçamento estavam perdendo o restinho do calor do sol e o vento foi ficando mais forte. Recuei até a porta da livraria para me proteger dele. Tinha quase adormecido quando o dono da loja abriu a porta e me deu um pontapé, dizendo para eu cair fora, senão chamaria o guarda. Saí capengando o mais depressa que pude. 
Depois disso, encontrei uns caixotes vazios numa ruela. Encolhi-me atrás deles, baleado e exausto. Fechei os olhos e procurei não lembrar como era dormir aquecido e farto, cercado por pessoas que me amavam. 
Assim foi a primeira noite dos quase três anos que passei em Tarbean.



Então, esta foi a segunda parte do projeto #RelendoKvothe. Conforme eu disse no comecinho da postagem, é a partir do capítulo 16 que as coisas ficam interessantes – pois os quinze primeiros não são tão emocionantes ou bacanas para quem está tendo um primeiro contato. A partir daqui, do capítulo 20, a história de Kvothe realmente terá início, com todos os seus infortúnios e desgraças, bem como com os momentos de felicidade momentânea.
Peço a você, que está se aventurando com Kvothe pela primeira vez, que não acredite muito em Kote e tenha em mente que ele é uma pessoa extremamente orgulhosa. Decida por si mesmo naquilo que acredita e o que não merece tanto crédito.
Mas e aí, você está gostando de ler? Sentiu alguma dificuldade ou a leitura fluiu lindamente? E você, que está relendo? Quanta coisa você achou agora que deixou passar batido na(s) primeira(s) vez(es)? Tem alguma teoria diferente para apresentar? Vamos conversar!

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O Nome do Vento || Confira ilustrações inéditas da edição de luxo de 10 anos da trilogia!

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Você com certeza sabe o quanto amo O Nome do Vento. Tanto que está até rolando um projeto de releitura do livro aqui no blog. Hoje não vim aqui para postar a parte 3, ou falar do #RelendoKvothe: nada disso. Vim trazer essas ilustrações MARAVILHOSAS de O Nome do Vento divulgadas neste site feitas pelo tantas-vezes-nomeado-ao-Hugo Dan dos Santos. A edição de luxo já apareceu na Amazon e tem previsão de lançamento para outubro de 2017. Provavelmente precisarei vender um rim para tê-la em mãos, mas já está na lista de futuras aquisições.
Vamos conferir as ilustrações? Claro, sem spoilers.



Quem está acompanhando o projeto, sabe que essa cena representa o momento em que estamos lendo. Não dá para mensurar a importância que o alaúde tem para o garoto. A cena representa, talvez, Kvothe encontrando Pike e seus asseclas pela primeira vez. Pouco antes de seu coração (e seu corpo) partir em mil pedacinhos no seu primeiro dia em Tarbean, cidade terrível que por muito tempo foi o único lar que Kvothe concebeu como seu. 



Aqui temos a aparência oficial de Denna. Pelo menos imagino que não seja apenas como Dan dos Santos a veja, mas Patrick Rothfuss também, já que provavelmente a arte passou por sua aprovação. Achei interessante porque não acho que ela está retratada como uma deusa da beleza, como Kvothe nos faz crer que é.



Aqui temos Kvothe e Denna sobre um monólito, ou Marco do Percurso. Me abstenho de fazer mais comentários e arriscar contar a vocês um pouco do que ainda está por vir.

Mas e então, o que acharam das ilustrações? Será que a Arqueiro vai trazer pra gente também a edição de 10 anos de A Crônica do Matador do Rei? Esperamos que sim!


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#RelendoKvothe || Releitura de O Nome do Vento – Parte 3

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Com o perdão pela demora, este final de semana foi bem intenso: faculdade, aniversários e dia das mães. A postagem acabou atrasando demais, além do fato de eu ter acrescentado um bocado de coisa enquanto a revisava. Peço desculpas, mas espero que valha a pena.


A releitura dessa semana trouxe uma grata lembrança que estava adormecida há algum tempo na minha mente. Eu realmente não recordei Trapis desde a última vez que li O Nome do Vento, coisa pela qual me culpo, pois tenho certeza que é um personagem importante – embora muito negligenciado por um grande número de leitores. Então esta releitura é meio que dedicada a ele, pois foi o que mais me marcou entre esses dez capítulos que li, assim como sua narrativa. Mas, claro, não podemos esquecer de modo algum do real destaque, deixando as emoções de lado, dos dez capítulos aqui abordados: Skarpi e suas histórias.
Vamos à análise?


Capítulo 21 – Porão, pão e pipa
O vigésimo primeiro capítulo nos apresentou a figura de Trapis. Kvothe, morto de fome e passando por maus bocados durante sua mendicância por Tarbean, seguiu dois meninos que se dirigiram a um porão de um prédio velho. Acabou por descobrir que aquele era o porão de Trapis, o local onde esse homem com a pele curtida pelo tempo cuidava dos desamparados de Tarbean – das crianças doentes, por exemplo, cuidava em condição permanente; já daquelas como Kvothe, que mendigavam pelas ruelas da cidade, oferecia abrigo, comida e um abraço quando necessário, em troca de ajuda nas tarefas do cotidiano. Assim estabeleceu-se uma conexão de confiança entre Kvothe e Trapis, ainda que o garoto estivesse um pouco receoso, e o porão tornou-se o primeiro lugar em muito tempo que se aproximou de um lar para o ruivo.
Eu ainda não parei para ler nada sobre Trapis em fóruns como o Reddit, mas sei que Rothfuss respondeu em seu blog a algumas perguntas sobre ele. O que sabemos com certeza, por exemplo, é que Trapis é um discípulo de uma religião variante do Tehlinismo. Em minha concepção pessoal, ele pode ser um anjo. Só quem o viu em ação no livro sabe que não é uma hipótese a ser descartada. Por este motivo, penso se Kvothe em algum momento pós-Segundo Dia não retorna a Tarbean e se vê obrigado a matá-lo. Lembram do Cronista e da face de um homem que matou um anjo ou coisa semelhante? Pois é. Eu tenho certeza que Trapis, que aparece tão pouco nesse primeiro livro e nenhuma vez no outro, tem um papel muito mais importante do que Rothfuss quer nos fazer crer.
Acho que entre todas as minhas frustrações e questões envolvendo Trapis, porém, a maior não tem nada a ver com os livros: apenas me pergunto por que diabos ninguém nunca fez uma fanart desse personagem tão fascinante?

Às vezes, Trapis parecia ser o único a cuidar de todas as criaturas desamparadas de nosso canto em Tarbean. Em troca, nós o amávamos com uma ferocidade silenciosa, à qual só a dos animais pode se equiparar. Se um dia alguém levantasse a mão contra ele, 100 crianças uivantes despedaçariam esse agressor em tiras ensanguentadas no meio da rua. 

Ah, ainda sobre esse capítulo, acho bacana quando Kvothe retoma um pouco da sua inteligência e perspicácia bem comuns na época da trupe.

Má circulação, pensou uma parte de mim que há muito não era usada. Risco maior de infecções e um incômodo considerável. Os pés e as pernas deveriam ser levantados, massageados e embebidos numa infusão morna de casca de salgueiro, cânfora e araruta.


Capítulo 22 – Um tempo para demônios

Um tempo para demônios foi um daqueles capítulos que retratam bem o que penso da humanidade atual: há muita gente desgraçada, mas nem por isso descarto aqueles que me dão esperança. Kvothe apanhou tanto que provavelmente foi o primeiro momento do livro em que mais se aproximou da morte (tirando o encontro com Gris), mas atitudes bacanas também aconteceram, o que acabou por dar um pouco de esperança ao garoto. Imagino que o encontro que Kvothe teve com o "Encanis" foi exatamente o que o salvou e motivou a não desistir de viver. Não dá nem para mensurar a real importância, na verdade, que uma atitude tão pequena teve na vida de Kvothe.



Levei um momento para identificar o que ele segurava. Um talento de prata, mais grosso e mais pesado que o vintém que eu havia perdido. Era tanto dinheiro que eu mal podia conceber. 
― Vamos, pegue. 

Ele era uma forma de escuridão ― capa negra com capuz, máscara negra, luvas negras. Encanis parou diante de mim, estendendo um pedaço luminoso de prata que captou a luz do luar. Aquilo me fez lembrar a cena de Daeonica em que Tarsus vende sua alma.
 
Peguei o talento, mas estava com a mão tão dormente que não pude senti-lo. Precisei olhar para ter certeza de que meus dedos o seguravam. Imaginei poder sentir o calor se irradiando por meu braço e me senti mais forte. Sorri para o homem da máscara negra.


Capítulo 23 – A roda ardente

Esse capítulo me trouxe duas coisas: aumentou o meu amor por Trapis e contou uma das histórias de Tehlu, que era Menda. Primeiro, me fez amar ainda mais esse personagem pelo simples modo como cuidou de Kvothe em seus dias de febre: com um carinho excepcional. Segundo, porque conhecemos essa história (de Tehlu que era Menda) que, numa primeira olhada, parece desimportante – quando na realidade só confirma o que a gente já sabe quanto à relevância de cada palavrinha inserida por Rothfuss no decorrer dos livros. Nada é por acaso, e a história narrada por Trapis com certeza é uma prova disso.
Aliás, essa história é de suma importância no segundo livro. Outra coisa que a gente nem imagina quando a lê, e só consegue associar com os fatos de O Temor do Sábio se realmente estivermos de sobreaviso.

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― Às cinzas tudo retorna, e assim também esta carne queimará. Mas eu sou Tehlu. Filho de mim mesmo. Pai de mim mesmo. Aquele que foi e que será. Se sou um sacrifício, sou unicamente um sacrifício a mim mesmo. E, se necessitarem de mim e me invocarem da maneira apropriada, retornarei para julgar e punir.

O mais curioso nisso tudo não é apenas o óbvio paralelo entre a história de Tehlu e a de Jesus, demonstrando a clara inspiração de Rothfuss ao compor um passado para o personagem. Não, é o paralelo entre Menda e Lanre: ambos passaram por sete cidades, sendo impedidos de destruir a oitava. Menda, porém, conseguiu salvar a sétima da onda de destruição de Encanis, ao passo que Lanre destruiu a sétima cidade (Myr Tariniel, de Selitos), entretanto ali foi detido de prosseguir e destruir a última. Em resumo, oito cidades aparecem na história de cada um, e por pelo menos sete delas ambos os personagens peregrinam. As semelhanças, porém, não morrem aí: quando reli a história de Menda/Tehlu e vi o momento em que ele separa as pessoas que querem seguir Seu caminho daquelas que assim não desejam, me lembrei imediatamente de uma das hipóteses da criação do Chandriano. Não foram eles supostamente condenados a viver eternamente por terem recusado o caminho proposto por Tehlu?

No final, sete permaneceram do outro lado da risca. Tehlu lhes perguntou três vezes se queriam atravessá-la, e três vezes elas recusaram. Depois da terceira pergunta, Tehlu saltou sobre a linha e desferiu em cada uma um grande golpe, prostrando-as no chão.
Logo na sequência, porém, descobrimos que uma das sete pessoas na verdade era um demônio usando pele humana, portanto os que realmente recusaram o caminho de Tehlu foram seis. Unindo a Lanre, que se tornou Haliax, temos sete. Chandriano? Se formos seguir essa lógica, porém, Gris não poderia ser um Encantado, como eu sugeri anteriormente em virtude de algumas semelhanças com Bast. Como estamos teorizando e nada aqui é certeza, porém, há de se considerar todas as hipóteses.

Depois disso, passei a alimentar uma suspeita que nunca me deixou por completo. Seria Trapis um sacerdote tehliniano? Seu manto era esfarrapado e sujo, mas talvez tivesse sido do tom cinza adequado muito tempo antes. Partes de sua história haviam se mostrado canhestras e hesitantes, mas algumas tinham sido imponentes e grandiosas, como se ele as recitasse de uma lembrança semi-esquecida. De sermões? De suas leituras do Livro do Caminho?

A suspeita de Kvothe, Rothfuss já respondeu para a gente, como falei no começo da análise: não, Trapis não é um sacerdote tehliniano. Mas assim, sem querer colocar coisa na sua cabeça, aqui vai algo que me deixou com a pulga atrás da orelha: uma lembrança semi-esquecida. Poderia, numa louca possibilidade, Trapis ser Tehlu, aventurando-se novamente como um dia foi Menda? Será que o fato de ter recordado tanto não teve nada a ver com sermões e o Livro dos Caminhos? P o s s i b i l i d a d e s. Amo essa palavra.


Capítulo 24 – As próprias sombras

As próprias sombras foi aquele capítulo que quando li pela primeira vez, me fez sentir raiva de verdade do protagonista. Tudo bem que eu tentei entender seus temores e compreender sua inércia, mas mesmo assim não consegui engolir. Trata-se de um capítulo que resume o que Kvothe aprendeu durante seus anos de mendicância em Tarbean, bem como nos é contado sobre o momento em que ele presencia um estupro contra um garotinho de oito anos e decide não fazer nada e ignorar o choro por motivos puramente egoístas: não revelar seu esconderijo, e não apanhar. O que alivia a falta de atitude é a culpa que, após tantos anos, continuou a perseguir Kvothe, mesmo enquanto Kote. E acredito que tenha sido aquele capítulo para mostrar para todos que não, Kvothe não era tão virtuoso, mas humano (e a covardia, no final das contas, é uma característica humana pra caramba, especialmente em crianças; além disso, depois de tudo que ele passou, nem dá para culpá-lo tanto assim). 

Larguei a telha. Voltei para o que se transformara em meu lar e me enrasquei no abrigo do nicho sob a projeção do telhado. Torci o cobertor nas mãos e trinquei os dentes, procurando barrar o murmúrio baixo da conversa pontuado pelas gargalhadas grosseiras e pelos soluços baixos e desamparados que vinham lá de baixo.


Capítulo 25 – Interlúdio: Ansiando por uma razão

Um diálogo especialmente interessante acontece logo no início do capítulo.

(...) ― Se você está ansioso por descobrir a razão de eu ter-me tornado o Kvothe sobre quem contam histórias, acho que talvez possa procurá-la aí. 
(...)
― Você sabe quantas vezes fui espancado no decorrer da minha vida? 
O Cronista abanou a cabeça. Erguendo os olhos, Kvothe sorriu e encolheu os ombros com ar displicente. 
― Nem eu. Seria de se supor que esse tipo de coisa ficasse gravado na memória da pessoa. Seria de se supor que eu me lembrasse de quantos de meus ossos foram quebrados. Seria de se supor que eu recordasse os pontos e os curativos ― completou. Abanou a cabeça. ― Nada disso. O que eu me lembro é daquele garotinho soluçando no escuro. Claro como um sino, depois de todos esses anos. 
O Cronista carregou o sobrolho. 

― Você mesmo disse que não havia nada que pudesse fazer. 

― Podia ― disse Kvothe, com ar sério ―, mas não fiz. Fiz uma escolha e me arrependo dela até hoje. Os ossos se consolidam. O arrependimento fica com a gente para sempre.

No capítulo, Kote também justifica a Bast o motivo de nunca ter saído de Tarbean, ainda que a cidade tenha trazido momentos tão traumatizantes e tenha causado tanta dor e sofrimento. Como o próprio afirma, somos criaturas do hábito, e a partir do momento que o garoto se habituou àquela mediocridade, ela passou a fazer parte da sua vida. Por fim, sua mente, segundo Kote, ainda estava um tanto adormecida, e precisava de alguém para despertá-la. Esta é, afinal, a introdução perfeita para conhecermos Skarpi (quem diria que esse aparente contador de histórias de Tarbean se tornaria tão importante?).


Capítulo 26 – Lanre transformado

Eis um dos meus capítulos favoritos em todo o livro (se bem que eu não sou muito bom parâmetro para isso, haja vista que devo ter uns quinze favoritos). Num primeiro momento, mostra o "fortalecimento" da rixa entre Kvothe e Pike, o garoto que o espancou no primeiro dia em Tarbean: para se vingar disso, Kvothe seguiu Pike, encontrou seu esconderijo e ateou fogo em tudo que o valentão tinha de importante na vida. Em retaliação, acabou esfaqueado na coxa direita, mas conseguiu escapar. Não muito satisfeito, foi mais além e ateou fogo no próprio Pike em outra oportunidade. Parecia uma rixa de sangue. E Pike morava nas Docas, lugar onde Kvothe precisava ir, mas passou a nutrir certo receio (por que será?).
De qualquer modo, neste capítulo é a primeira vez que Kvothe encontra Skarpi, um contador que se tornou conhecido em Tarbean por desafiar qualquer um a lhe pedir uma história que desconheça em troca de um talento inteiro. Certo, ele costumava contar as histórias numa taberna nas Docas, lugar que Kvothe tentava evitar a todo custo, mas por um talento quase certo de ser ganho valia a pena arriscar.
O raciocínio de Kvothe foi fácil de acompanhar: se Arliden, seu pai, levou tantos anos para desvendar a história de Lanre e escrever uma música sobre ele (o que nem conseguiu terminar), a probabilidade de pouquíssima gente saber qualquer coisa sobre esse personagem mítico era muito grande. Mas adivinhem o que acontece? Sim, Skarpi conhece a história. E com riquezas de detalhes. Bastaria um encontro entre Arliden e Skarpi para que o primeiro logo compusesse a música que levou tantos anos para chegar perto de ser escrita. Eu achei isso uma put* ironia do destino.

Rumormongers by PetaloMaM
O Cronista e Skarpi em arte de PetaloMaM.

Quando Kvothe chega à taberna e Skarpi pede uma sugestão de história a ser contada, vale mencionar as sugestões, pois podem aparecer ou ser importantes no Terceiro Dia: um conto de fadas (provavelmente os fae); Oren Velciter e a lutra em Mnat; Lartam; Myr Tariniel (que já conhecemos); Illien e o Urso. Kvothe sugere timidamente Lanre, e é essa a história escolhida da vez. 
 A história em si começa com uma introdução à Myr Tariniel, a cidade cintilante, cujo senhor era Selitos, nomeador poderoso que bastava olhar para alguma coisa para descobrir-lhe o nome. O momento da narrativa se passa durante a Guerra da Criação travada no império Ergen. Em virtude de todas as consequências que uma guerra traz, a maioria das cidades do império foi varrida da existência, restando oito: Belen, Antus, Vaeret, Tinusa, Emlen, Murilla e Murella, e Myr Tariniel, que permanecia intocada em razão dos poderes de Selitos, que previa ataques antes que acontecessem. Como as outras cidades não possuíam senhores com essas habilidades, confiavam em Lanre, um poderoso guerreiro, para protegê-las, bem como em sua esposa, Lyra, que era uma famosa nomeadora, cujo poder equiparava-se ao do próprio Selitos.
No segundo livro há uma menção ao campo de batalha de Blac de Drossen Tor, e existe uma teoria magnífica envolvendo este terreno e a música de Lady Lackless, que infelizmente não poderei abordar ainda. Enfim, esta batalha ocorrida em Drossen Tor durou três dias e foi a pior da Guerra da Criação. Num breve resumo, foi nela que Lanre morreu (ou deveria ter morrido). Também foi nela que Lyra o chamou de volta dos mortos, embora o guerreiro tenha retornado diferente.

Mas Lanre ouviu seu chamado. Virou-se ao som de sua voz e voltou para Lyra. De além das portas da morte, Lanre retornou. Disse o nome dela e a tomou nos braços para consolá-la. Abriu os olhos e fez o melhor que pôde para lhe enxugar as lágrimas com as mãos trêmulas. Depois inspirou um profundo sorvo de vida.


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Lanre e Myr Tariniel destruída nos fundos. Arte de emmgoyer7.

Anos se passaram, a Guerra da Criação estava a caminho de seu fim, até que as coisas mudaram drasticamente. Lyra morreu, não sabe-se como, e Lanre enlouqueceu. Foi encontrar-se com Selitos em Myr Tariniel. Conhecido outrora como grande guerreiro, mas jamais como nomeador, surpreendeu Selitos ao demonstrar grande domínio sobre a nomeação (domínio que se equiparou ao do próprio Selitos, quando só quem se aproximava dele eram Aleph, Iax e Lyra). Isso me fez pensar: para ter adquirido esta habilidade imensa tão de repente, será que Lanre teve algo a ver com a morte de Lyra, esposa que era conhecido por amar insanamente? Será que ao retornar dos mortos, o fez com um objetivo distorcido de vida, ou esse objetivo surgiu apenas depois que Lyra morreu? Enfim. Lanre imobilizou Selitos, e diante dos olhos do senhor de Myr Tariniel, destruiu toda a cidade. O guerreiro utilizou um exército para apagar Myr da existência, um exército cuja aproximação Selitos não foi capaz de prever. Noutras palavras, Lanre tornou-se poderoso além da imaginação. Como? O que se sabe apenas é que a morte de Lyra o destruiu tanto que, ansiando por trazê-la de volta como ela havia feito, foi atrás de conhecimentos obscuros que deveria ter deixado em paz. Isso contribuiu para enlouquecê-lo além da dor e do sofrimento que já sentia. Revoltou-se contra o mundo e quis destruí-lo. Justo. 

― Já me deste o bastante, meu velho amigo ― disse Lanre, voltando-se e pondo a mão no ombro de Selitos. ― Silanxi, eu te conecto. Em nome da pedra, imobiliza-te como pedra. Aeruh, eu comando o ar. Que haja chumbo em tua língua. Selitos, assim te nomeio. Que todos os teus poderes te faltem, exceto a visão. 
Quando indagado por Selitos sobre o motivo de ter feito o que fez, Lanre responde que "a falsidade e a traição me levaram isso, mas a morte dela (Lyra) está em minhas mãos". O que nos deixa a resposta de que ele no mínimo foi a razão de Lyra ter morrido. Masss, porém, o diálogo das páginas 178 e 179 entre Lanre e Selitos me deixaram em dúvida quanto à real maldade de Lanre/Haliax, além do fato de ele ter demonstrado compaixão por Kvothe no assassinato da trupe. Eita personagem enigmático, viu? 

― Não existe alegria! ― gritou Lanre, numa voz tenebrosa. Pedras se estilhaçaram ao som dela, e as bordas afiadas do eco voltaram para cortá-las. ― Qualquer alegria que cresça aqui é prontamente sufocada pelas ervas daninhas. Não sou um monstro que destrói por um prazer perverso. Semeio o sal porque a escolha é entre as ervas daninhas e o nada.

Selitos, após ser libertado e poder mover-se, puniu-se arrancando o próprio olho, mas também puniu Lanre, já transformado em Haliax. Uma das maldições que me chamou a atenção foi "que teu próprio nome se volte contra ti, para que não tenhas paz". Como isso poderia acontecer?


Haliax by emmgoyer7
Lanre transformando-se em Haliax. Arte de emmgoyer7.


Capítulo 27 – Olhos desvendados

O título do capítulo é bem conveniente, uma vez que é isso que de fato ocorre com Kvothe. Ele se permite relembrar da tragédia dos Edena Ruh, e associá-la à história narrada por Skarpi. É assim que assume que conheceu Haliax, que o Chandriano existe e que sua família foi morta por ter colhido histórias a respeito do Chandriano. Mas aí eu pergunto a você: se realmente os Ruh foram mortos por este motivo, por que Skarpi, que sabia em detalhes uma história que Arliden tanto queria descobrir, ainda estava vivo?
Kvothe também refletiu sobre encontrar o Chandriano e matá-los, algo que seu raciocínio prático exercitado em Tarbean sabia ser impossível. Em suas palavras, teria mais sorte se tentasse roubar a Lua. Seria muito engraçado se, no Terceiro Dia, descobrirmos que ele de fato fez isso, e que aquele baú na Marco do Percurso guarda exatamente um pedaço da Lua, como uma teoria quer nos fazer acreditar. Típico do Rothfuss? Talvez. Eis aí uma pista do que pode ter acontecido.


Capítulo 28 – O olhar vigilante de Tehlu

Como Kvothe chega um pouco atrasado à Meio Mastro, não dá para ter certeza sobre a história que Skarpi começou a narrar. Porém, no momento em que o garoto começa a ouvi-la, o contador de histórias está falando sobre Selitos encontrando-se com Aleph. O mesmo Aleph que no começo da narração de Kote sobre sua vida, ele referiu-se como sendo o criador de Temerant. O que nos leva a crer, então, que Aleph está acima de Selitos, pois na história este último pede permissão ao primeiro para destruir Haliax/Lanre e o Chandriano.

De qualquer forma, esta história que Skarpi narra conta a criação dos
Amyr. O "idealizador"? Selitos, que reuniu Ruaches (?) indignados com a destruição de Myr Tariniel para dedicar suas vidas a combater e perseguir Lanre e seus asseclas (o Chandriano). Tehlu também está ali, com Selitos e Aleph, mas seguindo essa história, Tehlu, que é visto como Deus no livro, na realidade é apenas mais um Amyr, embora o mais poderoso deles. Outros membros dos Amyr são: Kirel, Deah, Enlas, Geisa, Lecelte, Imet, Ordal e Andan. Todos foram tocados por Aleph, e neste momento receberam asas ("Asas de fogo e sombra. Asas de ferro e cristal. Asas de pedra e sangue."). Enfim, tornaram-se essa espécie "elitizada" de anjos criada para se opor ao Chandriano, e só podem ser vistos pelos "mais poderosos".
A criação do Amyr, porém, não é o que há de mais interessante no capítulo, e sim o fato de Skarpi saber o nome de Kvothe e conhecer tão bem seu estimado esconderijo, sem que o garoto nunca tenha revelado nada disso para absolutamente ninguém em Tarbean (nem mesmo para Trapis). Quando é pego por um guarda e por um juiz tehliniano após ser acusado de heresia, pois contou uma história em que Tehlu ocupava posição de anjo, não de deus, Skarpi aconselha a Kvothe, nomeando-o e sem olhar para o garoto, que vá embora para seu esconderijo nos telhados.
Aqui peço que você retorne à página 182. Lembra quando Kvothe diz que seu pai dizia a mesma coisa que Skarpi lhe diz? "É preciso ser um pouquinho mentiroso para contar uma história direito. O excesso de verdade confunde os fatos. O excesso de franqueza nos faz soar insinceros". Será que é literalmente a mesma coisa? Será que Skarpi conheceu Arliden? Aprendeu a frase com o pai de Kvothe ou vice-versa? Será que Skarpi não está ali por algum outro motivo que ignoramos? Por que, quando Kvothe se despede e afirma que irá voltar, o contador de histórias diz já saber?


Capítulo 29 – As portas da minha mente

É quando Kvothe começa a retomar seu antigo eu sem sentir toda aquela dor que o rasgava de dentro para fora. Foi necessário o encontro com Skarpi e três anos para que permitisse que isso acontecesse. É quando você vê vislumbres do mesmo garoto que andava na trupe dos Edena Ruh, cheio de curiosidade e muito sagaz.
Kvothe também se põe a refletir sobre tudo o que ouviu nos últimos dias, novamente sobre a chacina dos Edena Ruh, e também sobre coisas que havia aprendido no passado distante. Na história de Skarpi, quem criou os Amyr foi Selitos; porém, na história "real", havia aprendido que o grupo surgiu com o Império Aturense e morreu quando do declínio deste, há trezentos anos. Entretanto, rememorando a situação do assassinato da trupe, recorda quando Haliax perguntou a Gris quem o mantinha protegido dos Amyr, como se o grupo fosse atual. Ou seja, altas contradições. Kvothe também acaba por se perguntar a mesma coisa que eu questionei acima: por que matar os Edena Ruh por investigar a história do Chandriano e de Lanre quando existia alguém perfeitamente vivo que a conhecia em riqueza de detalhes? Não consigo acreditar que o assassinato dos Ruh tenha acontecido tão somente pela canção. Já havia falado isso antes, apenas reafirmando.
E é no final do curto capítulo que Kvothe toma uma das decisões mais importantes da sua vida: ir para a Universidade, pois é só lá que pode encontrar as respostas para tantas perguntas que surgiram envolvendo o Chandriano, os Amyr e a morte de sua família.


Capítulo 30 – Restauração

Kvothe começa as preparações para tentar ingressar na Universidade, iniciando por "penhorar" seu precioso exemplar de Retórica e Lógica presenteado por Ben em troca de dois talentos de prata, podendo recomprá-lo dentro de vinte dias. É a primeira atitude que de fato toma, e a primeira vez que sai da inércia após três anos de uma vida medíocre na mendicância.



Em termos de teoria, estes capítulos me fizeram refletir muito além da conta. Fiquei com vontade de criar uma postagem especial para cada possibilidade levantada na postagem, pois há muito o que explorar. Eu até faria isso, se não estivesse sendo castigada na faculdade e não precisasse ter uma vida fora do blog 😆 Confesso a vocês que pensei, durante algumas vezes, porque "perdia" tanto tempo fazendo essas postagens que não me trarão muito acréscimo na vida adulta - mas notei que é simplesmente incrível fazê-las, reler o livro e discutir teoria com vocês, porque é algo que eu estou fazendo por hobby e prazer, e sinto que eu tenho que aproveitar enquanto posso. Então vamos aproveitar pra caramba, porque há coisa demais a ser investigada na história de Kvothe! 💓


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#RelendoKvothe || Releitura de O Nome do Vento – Parte 4

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Esta semana, em termos de leitura, foi bem intensa. A história passou a ficar tão interessante que por volta de quinta-feira, eu já havia lido os dez capítulos estipulados para a semana. Segurar-me para não prosseguir e ler o livro até o final foi quase impossível – elevei minha força de vontade ao nível supremo. E isso porque estive em uma semana particularmente difícil na faculdade, com atividades acumuladas para entregar e matéria para estudar para as duas provas que fiz hoje pela manhã. Nenhuma dessas coisas obstou a leitura, nem a atrasou; muito pelo contrário. Em comparação, ainda prefiro os capítulos da parte III, pelo tanto de fascínio que tenho com eles, mas os capítulos dessa parte IV não ficam muito atrás (embora careçam de material para teorias). Aqui é onde as aventuras começam, depois de tanto tempo de desgraça.

Vamos à análise?

Capítulo 31 – A natureza da nobreza


Kvothe
definitivamente está de volta. Se antes a gente tinha uma leve sensação de que sim, em A natureza da nobreza o retorno do antigo garoto da trupe, porém mais maduro, é oficial. Após deixar seu querido exemplar de Retórica e Lógica na Restauração em troca de dois talentos, Kvothe utilizou-se de sua perspicácia para passar de mendigo em um trapo ambulante para filho da nobreza arrogante num piscar de olhos. Exercitando seu dom teatral e aproveitando as práticas com a trupe, lembranças que se permitiu retomar com carinho, aparece ao final do capítulo trajado como um verdadeiro nobre.

Os filhos dos nobres são uma das grandes forças destrutivas da natureza, como as inundações ou os tornados. Ao ser atingido por uma dessas catástrofes, a única coisa que o homem comum pode fazer é ranger os dentes e tentar minimizar os estragos. 

O capítulo não se resumiu tão somente a isso, claro. Depois de estar devidamente limpo e vestido, o garoto volta à estalagem da Beira-Mar na qual havia comido uma refeição e tomado banho, ainda ciente do acordo que fizera com o estalajadeiro sobre lavar os pratos em troca de poder se limpar. E é ali, lavando os pratos, que vemos o cerne da existência da Marco do Percurso: consigo mesmo, Kvothe pensa que talvez gostaria de ter uma estalagem. Ao se despedir do dono, ele afirma:

— Você tem aqui uma estalagem encantadora. Eu me considerarei um homem de sorte se tiver uma tão charmosa quanto ela, quando crescer. — E lhe entreguei o vitém.
Ele abriu um sorriso largo e me devolveu a moeda.
— Com elogios tão gentis, volte quando quiser.”
Em termos de teoria, nada muito alarmante no capítulo. Exceto a pequena pista nesse final que me deixou pensando se Kvothe realmente não voltará a Tarbean em Doors of Stone. O que se conecta ligeiramente à minha teoria com Trapis, se ele de fato for um anjo, e por qualquer motivo que seja Kvothe tiver de matá-lo.


Capítulo 32 – Cobres, calçados e coletividades

Quem aparece neste capítulo? Exatamente! Meu terror particular: Denna. Certo, estou exagerando, mas eu realmente não consigo gostar da personagem.

Após a sua primeira terrível experiência na Serrania, quando foi espancado por um guarda e salvo por Gerrick, o “Encanis”, Kvothe não imaginava retornar àquela parte de Tarbean, e muito menos que se voltasse, não seria incomodado. Mas foi o que aconteceu. A partir do momento em que se lavou, escovou os cabelos e trocou de roupa, o mundo passou a ignorá-lo ainda mais do que quando era um mendigo. Maltrapilho, era geralmente hostilizado pelas pessoas; bem vestido, elas simplesmente ignoravam sua presença. É engraçado o quanto esse paralelo se reflete na nossa vida, na vida real.

Enfim. Denna aparece pela primeira vez quando Kvothe pega carona com uma caravana. Após acertar os termos e o pagamento para seguir com o grupo até Imre, a cidade mais próxima de seu objetivo (a Universidade), Kvothe a repara em companhia da esposa do carroceiro.



Ela usava uma roupa prática para viajar, calças e blusa, e ainda tinha a dose exata de meninice para que isso não parecesse impróprio. Seu porte era tal que, fosse ela um ano mais velha, eu seria obrigado a vê-la como uma dama. Nesse momento, ao conversar com Rita, ela oscilava entre uma graça refinada e uma exuberância infantil. Tinha cabelos negros e compridos e...  
Dito em termos simples, era linda. Fazia muito tempo que eu não via algo de belo.

Aqui já fica evidente o início de uma paixão platônica infantil. Depois de viver nas ruas e encarar tanta desgraça, não podemos culpar Kvothe por isso.
Não nos esqueçamos de mais duas figuras que se fizeram presentes no capítulo: o sapateiro da Serrania, que gentilmente deu um par de sapatos usados a Kvothe sem cobrar nada, embora o garoto tenha deixado discretamente um pagamento no balcão; e Trapis, que sequer precisou erguer os olhos para saber que aquele menino ruivo, tão bem vestido e com porte nobre, era o mesmo que três anos antes havia chegado maltrapilho e à beira da morte nas escadas do porão. O alívio de Kvothe ao ser reconhecido foi tão grande que se alguém fosse falar comigo no momento em que eu lia esse trecho, talvez me ouvisse responder com a voz levemente embargada. Como não acreditar que Trapis é uma figura de outro mundo? Um anjo? Uma pessoa sublime demais pra existir na imundície de Tarbean, mas ao mesmo tempo necessária?

Senti um nó me apertar a garganta de repente. Ele me reconhecera. Não tenho nem a esperança de explicar a você o alívio que foi isso. Trapis era o que eu tinha de mais próximo de uma família. A ideia de que não me reconhecesse fora apavorante.


Capítulo 33 – Um mar de estrelas

Aqui tem início a jornada física de Kvothe rumo à Universidade. É quando, com a caravana de Roent(o carroceiro), ele começa a percorrer a estrada que o levará até Imre. É também a ocasião em que começa a se aproximar de Denna. O primeiro diálogo deles, aliás, é esse aqui, após ela flagrá-lo observando-a com atenção:

— Uma moedinha por seus pensamentos — disse, afastando uma mecha errante do cabelo.
— Estava pensando no que faz aqui — respondi, apenas meio sincero.
Spoiler neste parágrafo. Para lê-lo, selecione o texto.Necessário se faz aqui observar um pequeno errinho de revisão. Mais tarde, ainda em O Nome do Vento, há um momento em que Denna afirma que existem sete palavras que fazem uma mulher se apaixonar. Segundo ela, as de Kvothe foram: “estava pensando no que você faz aqui”. Um errinho bobo, mas como é a primeira frase dirigida dele para a garota, e como Denna a menciona mais tarde, a gente não consegue deixar passar, né?Para quem entende sobre, porém, e quiser dar uma lida, há um fórum no Reddit que identificou o mesmo "erro"e se dedica a argumentar sobre.


— Tenho minhas desconfianças. Neste momento, estou pensando em Anilen — ela respondeu. Elevou-se na ponta dos pés e tornou a baixa-los. — Mas já me enganei antes.
Caiu um silêncio sobre nossa conversa. Denna baixo os olhos para as mãos, remexendo e girando um anel que tinha no dedo. Vislumbrei prata e uma pedra azul-clara.
Acho bom a gente se atentar para a menção ao anel. E ao fato de que a vida de Denna já era complicada antes que sequer conhecesse Kvothe. “Mas já me enganei antes”? Rothfuss, por favor, uma explicação sobre isso, sim?
O capítulo finaliza com os dois passando a noite juntos, conversando até de madrugada, evidentemente encantados um pelo outro – pelo menos o Kvothe temos certeza de que assim está. E aí começa toda a reverência que, mesmo após adulto, o ruivo nutre por Denna.


À beira da água havia um par de marcos de percurso cujas superfícies prateavam-se contra o negrume do céu e o negrume da água. Um deles era vertical: um dedo apontando para o céu. O outro estava deitado, estendendo-se para dentro d’água como um píer curto de pedra.
Nenhum sopro de vento perturbava a superfície da água. Por isso, ao subirmos na pedra caída, as estrelas reluziam duplamente, tanto no alto quanto em seu reflexo abaixo. Foi como se nos sentássemos em meio a um mar de estrelas.
Há muita coisa sobre a Denna que eu sinto vontade de comentar aqui e agora. Muitas lembranças até da leitura de O Temor do Sábio. Todas as minhas convicções que me deixam certa de que a garota tem, de alguma forma, conexão com o Chandriano. Tento não condená-la tanto, pois tenho quase certeza de que algo chocante sobre a personagem será revelado no terceiro livro, e talvez eu passe a nutrir alguma simpatia. Quem sabe? O que me irrita mesmo é o quanto Kvothe a endeusa, como aquele amigo apaixonado que não para de falar em tempo integral o quanto seu amado é maravilhoso. Até mesmo Bastparece possuir certa irritação pelo modo que Kote fala sobre a garota. Pura birra? Duvido. Bast deve saber algo sobre Denna que nós não sabemos, e que até o próprio hospedeiro não saiba.


Capítulo 34 – Ainda por aprender

No trigésimo quarto capítulo, Kvothe ainda viaja com Roent. Então surge Josn. Ninguém muito importante, aparentemente – mas vai saber, né? Ele parece ser apenas mais um passageiro que acompanhará a caravana até Anilen, o mesmo destino de Denna. E fica muito próximo à garota, o que deixa Kvothe muito enciumado e isolado de todos, remoendo suas mágoas, pois esperava que após quase terem madrugado juntos, que as coisas fossem diferentes entre ele e Denna.
O garoto esquece tudo isso mais tarde, porém. À noite, durante uma pausa na estrada antes de dormir, Josn puxa do estojo um alaúde prateado e começa a entoar umas cantigas conhecidas com sua voz mediana e habilidades razoáveis. Algo acende dentro de Kvothe. Seu passado volta com força e ele não é capaz de deter a si mesmo de pedir emprestado, quase implorando, o alaúde de Josn.

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Era lindo. Era a coisa mais bela que eu já vira em três anos. Mais bela que a visão de um campo primaveril após três anos vivendo numa cidade pestilenta como uma lixeira. Mais bela do que Denna. Quase.
Posso dizer com franqueza que, na verdade, eu ainda não era eu mesmo. Fazia apenas quatro dias que deixara de viver nas ruas. Não era a mesma pessoa que tinha sido nos tempos da trupe, mas também ainda não era a pessoa de quem se ouve falar nas histórias. Havia mudado, por causa de Tarbean. Aprendera muitas coisas sem as quais seria mais fácil viver.
Mas, sentado junto à fogueira, debruçado sobre o alaúde, senti quebrarem-se em mim as partes duras e desagradáveis que eu havia adquirido em Tarbean. Como um molde de barro em volta de um pedaço de ferro já resfriado, elas caíram, deixando surgir algo limpo e sólido.

E então, após afinar ligeiramente as cordas, Kvothe começou a tocar. Todas aquelas músicas que compôs e aprendeu sozinho na floresta logo após a morte da trupe, todos os movimentos da natureza que aprendeu a sintetizar em forma de canções. Enquanto tocava, também fez novas composições – “soou como três anos de Beira-Mar em Tarbean, com um vazio por dentro e mãos doendo de frio intenso”.
O impacto nas pessoas ao redor foi perceptível. Todos ficaram calados e de olhos arregalados. Denna chorou. Josn ficou pálido. Entre todas as coisas que Kvothe enaltece e mente sobre si mesmo, eu com certeza não acredito que sua habilidade com o alaúde seja uma delas.

E foi assim que Kvothe passou sua última noite antes de chegar à Universidade, com sua capa a lhe servir de cobertor e cama. Quando se deitou, havia atrás dele um círculo de fogo e, à frente, sombras reunidas como um manto. Seus olhos estavam abertos, isso é certo, mas quem de nós pode dizer que sabe o que ele estava vendo? 
Em vez disso, olhemos para trás dele, para o círculo de luz criado pela fogueira, e deixemos Kvothe sozinho por enquanto. Todos merecem um ou dois momentos de solidão, quando a desejam. E, se por acaso tiver havido lágrimas, vamos perdoá-lo. Afinal, ele era apenas uma criança e ainda estava por aprender o que era tristeza de verdade.


Capítulo 35 – Separação de caminhos

Ainda em sua jornada rumo à Universidade, é aqui que Kvothe se separa da caravana de Roent. É o capítulo em que dá adeus à Denna. Pense um pouco sobre a sua primeira leitura desse livro. Pense quando encontrou Denna. Eu ainda acho bastante curioso o fato de personagens que pareceram, num primeiro momento, tão passageiros, na realidade tornaram-se os mais presentes. Por exemplo, sempre imaginei que Trapis e Abenthy apareceriam muito mais na história. Em minha mente, achava que Denna havia sido apenas mais uma pessoa qualquer com quem o garoto topara em seu caminho. Num primeiro momento, Skarpi soou um personagem de extrema importância, mas quando finalmente entendi que ele havia sido apenas parte do cenário, ressurgiu com grande importância no enredo como um todo. É um livro cheio de pegadinhas. Você, quando lê pela primeira vez, não sabe se a pessoa que Kvothe encontra na esquina é apenas um transeunte qualquer, ou alguém que faz parte do quebra-cabeças da vida do garoto. Se você está lendo pela primeira vez, preste atenção nisso e entenderá o que estou falando.
Enfim. Do capítulo, eu destacaria o seguinte diálogo, que só comprova que Kvothe tem conclusões tão precipitadas quanto as minhas:
Nós, os Ruh, somos viajantes. Nossa vida é feita de encontros e despedidas, com breves e luminosos contatos entre uma coisa e outra. Por isso eu sabia a verdade. Podia senti-la, pesada e certeira, na boca do estômago: eu nunca mais tornaria a ver Denna.
Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ela deu uma olhadela nervosa para trás.
― Melhor eu ir andando. Procure por mim ― disse. Abriu seu sorriso travesso mais uma vez, antes de me virar as costas e se afastar. 
― Procurarei — gritei-lhe. — Verei você onde as estradas se encontram. 

Capítulo 36 – Menos talentos

O nome do capítulo, claro, é uma referência à inédita taxa escolar de Kvothe ao adentrar na Universidade com apenas quinze anos de idade. Mas isso a gente revisita melhor daqui a pouco.
Kvothe enfim chega a Imre, cheio de esperanças quanto a seus objetivos de pesquisar e descobrir mais sobre o Chandriano e os Amyr. Após tanto tempo vivendo em uma cidade miserável, a cidadezinha que cresceu ao redor da Universidade o surpreende. E, como um ímã, o garoto é logo atraído pelo Arquivo antes mesmo de atravessar a ponte sob o rio Omethi. Destaque para as palavras que ficam nas portas de pedra do Arquivo: “Vorfelan Rhinata Morie”. Se ele não sabe o que significa, cê imagina eu, mas achei interessante colocar aqui.



No capítulo 36 muitos personagens importantes são introduzidos, e o primeiro deles é um jovem com aparência de um cealdo puro, nas palavras de Kvothe, que descobrimos depois tratar-se de Willem. O ruivo o conhece após se dirigir ao Arquivo na intenção de entrar, até ser avisado gentilmente de que precisaria ser um estudante para tanto. E que se quisesse de fato ser, os exames de admissão já estão quase acabando. 
É assim que, correndo, Kvothe chega ao Cavus e no momento seguinte já estamos a acompanha-lo durante o seu próprio exame de admissão.
Os professores são bem peculiares. Se você leu Harry Potter, é impossível não traçar alguns paralelos em razão das personalidades. Por exemplo, o Reitor seria Dumbledore, apesar de não ter mais de quarenta anos; Hemme seria Snape; Brandeur seria Argo Filch; Lorren seria Minerva, porém com zero de afeto por nada, exceto seus livros; Kilvin, sorridente, com sua aparência de urso, bem podia ser Hagrid... E assim em diante. Para mim, tão fã de Harry Potter, foi impossível não estabelecer as comparações.


Masters of the University by Belegilgalad
Da esquerda para a direita: Elxa Dal (Simpatista-Mor); Brandeur (Aritmético-Mor); Hemme (Retórico-Mor); Elodin (Nomeador-Mor); Reitor Herma (Linguista-Mor); Lorren (Arquivista-Mor); Mandrag (Alquimista-Mor); Arwyl (Fisiopata-Mor); e Kilvin (Artífice-Mor).

Enfim. Kvothe se posta ali, diante deles, e precisa convencê-los de que merece estudar na Universidade, ainda que não tenha uma carta de recomendação de algum arcanista. Explica que Abenthy o ensinou muitas coisas sobre tudo, e que não as esqueceu. Não é momento para ser humilde, portanto o garoto exalta muito a si mesmo e suas habilidades com perfeição. Quando o Reitor cede e ordena que os professores questionem Kvothe dentro de suas especialidades, ele só fica em dúvida em uma das perguntas. As demais, responde e recita como se a resposta tivesse surgido facilmente à mente. 
Esse, é claro, é o primeiro momento em que Kvothe desmitifica a si mesmo durante sua narração ao Cronista. Sim, ele era inteligente, mas também esperto. Assistiu escondido vários dos exames anteriores e se atentou às perguntas que mais eram feitas e em suas respostas corretas. Como ele mesmo diz, precisava impressioná-los de verdade. Com apenas dois viténs no bolso, esse valor não era dez por cento da menor taxa escolar que o Reitor fixara para os entrevistados anteriormente. Precisava impressionar – e assim o fez. Sua taxa? Menos três talentos, pois o garoto conseguiu convencê-los de que se lhe dessem esse valor, seria um aluno inesquecível na história da Universidade. Quem pode negar que essa promessa se concretizou?
Curiosidade: Lorren conhece o pai de Kvothe como Arliden, o bardo. Eu queria que houvesse mais referências de como os dois se conheceram, ou como Lorren tomou consciência da existência do cantor dos Edena Ruh. Será que a trupe de Kvothe era mais famosa do que ele sequer imaginava? Ou Arliden, em algum momento durante seus dois anos de busca sobre o Chandriano, consultou Lorren? Ainda vou retomar um pouquinho essa discussão mais adiante.

Capítulo 37 – De olhos brilhantes

Mestre Lorren acompanha Kvothe para que o garoto “pague” (ou seja, receba) sua taxa escolar sem maiores confusões. No caminho, acaba por conhecer outro personagem importante para a história: o estudante Simmon, designado por Lorren para apresentar a Universidade a Kvothe e ajudá-lo a se inscrever nas aulas. Assim, uma nova amizade se inicia e, com o auxílio de Simmon, Kvothe garante para si uma cama para dormir e três refeições por dia durante todo o bimestre por um talento. Uma semana atrás, isso era tudo o que o garoto mais desejava, e também o que lhe parecia mais distante de alcançar.
Além de suas novas instalações, Kvothe também conhece os amigos de Simmon, que logo se tornam seus: Manet, com cinquenta anos de idade e ainda simples E’lir; Wilem, o mesmo que encontrara mais cedo no Arquivo; e Sovoy, excêntrico filho da nobreza que está num dia particularmente ruim após ter recebido uma taxa de matrícula alta. Destaque para Wil e Sim, que se tornam os melhores amigos que Kvothe poderia pedir na Universidade. Para atiçar sua curiosidade, direi aqui que há uma teoria que aponta que o anjo que Kvothe mata, conforme mencionado pelo Cronista, é na realidade Simmon. Há ainda outra que diz que Sim se torna rei de Vintas, e é ele quem Kvothe assassina com a Insensatez, recebendo assim o título de Matador do Rei, e deflagrando uma guerra civil entre Vintas e Atur. Eu particularmente acredito que há possibilidade de Kvothe tê-lo matado na frente da Eólica, cujas marcas nas pedras continuam tanto tempo depois.


Enfim. No meio da conversa, enquanto jantam, Manet aposta dois iotas contra Wilem que Kvothe entrará no Arcanum em menos de três períodos. Alguém aí se saiu bem, não? Ainda interessado no garoto, Manet pergunta o que Kvothe pretende estudar, e ele responde que começará pelo Chandriano. Afinal, este foi sempre seu objetivo, e ninguém mais do que o ruivo sabe o quanto o grupo tido como lenda é real. Mas é aí que Kvothe vê também o primeiro obstáculo para concentrar-se nesse fim: todos veem o Chandriano e os Amyr como contos de fadas. A não ser que diga que está estudando o folclore com alguma outra finalidade, que é o que de fato faz, será visto como um amalucado qualquer.
Mais tarde, ainda no mesmo capítulo, Kvothe conhece uma das pessoas mais desprezíveis de toda Temerant: Ambrose. Nariz empinado, arrogante, décimo sexto na linha de sucessão de Vintas e com uma presunção que mal cabe dentro de si, Ambrose humilha Kvothe já no primeiro contato entre ambos ao impedi-lo de entrar no Arquivo, pois seu nome não está nos registros. Só faltou alguém avisar a Ambrose que ao comprar a inimizade de Kvothe tão gratuitamente, cometeu um grande erro.
Talvez você pense que esse contato me deixou desanimado. Talvez ache que me senti traído, que meus sonhos infantis com a Universidade foram cruelmente destroçados.
Pelo contrário. Aquilo me tranquilizou. Eu vinha me sentindo muito fora do meu elemento até Ambrose me mostrar, à sua maneira especial, que não havia muita diferença entre a Universidade e as ruas de Tarbean. Não importa onde se esteja, as pessoas são basicamente iguais.

Além disso, a raiva é capaz de nos manter aquecidos durante a noite, e o orgulho ferido pode instigar um homem a fazer coisas maravilhosas. 
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O arrogante Ambrose Dazno.

Capítulo 38 – Simpatia no Magno

Antes de adentrar na primeira aula de Kvothe, que foi desnecessária, destaquemos um cantinho especial que o garoto menciona existir no Magno. Tenho certeza que você vai recordar desse lugar por conta de sua importância mais adiante.

(...) Pelo menos um dos pátios fora completamente isolado e só se podia ter acesso a ele pulando uma janela. Diziam os boatos que havia salas totalmente emparedadas, algumas ainda com estudantes lá dentro. Seus fantasmas, segundo os rumores, andavam pelos corredores de madrugada, lamentando sua sorte e reclamando da comida do Rancho. 
Agora prossigamos para a aula. A primeira foi de Simpatia com Mestre Hemme, o que me soou incoerente, pois o Simpatista-Mor é Elxa Dal (se você tiver uma explicação para isso, pelo amor de Deus, deixe abaixo). Depois de seu aprendizado com Abenthy, o assunto lecionado parece irrisório e muito distante da verdadeira amplitude das coisas que o próprio Kvothe aprendeu. Hemme humilha alguns alunos pelo atraso, mostrando a que veio, e prossegue em seu infindável falatório desnecessário, ao menos para Kvothe. O que o garoto faz? Aguarda a aula acabar e diz para o professor que as coisas estão sendo “bem explicadas”, mas é apenas o básico do básico que já conhece de cor, além de que há mais sobre o que aprofundar. Hemme não dá muita atenção – ou pelo menos finge não dar.
Na sequência do capítulo, temos outro personagem importante na vida de Kvothe sendo apresentado: trata-se de Feila, estudante da Universidade que está na entrada do Arquivo controlando os alunos que entram e saem. É ela que diz a verdade para Kvothe: não é porque estuda ali agora que tem acesso ilimitado a todos os milhares de livros do Acervo. Para tanto, não basta ser um simples estudante, mas um arcanista.

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Feila, segundo o jogo de cartas oficial de A Crônica do Matador do Rei.

Feila orienta Kvothe sobre as regras básicas do Acervo e como solicitar algum livro específico que queira consultar. Kvothe, sedento por saber mais sobre o Chandriano e os Amyr, pede por algum livro que fale sobre eles. O que lhe é entregue, porém, é apenas um pequeno exemplar que aborda contos de fadas. Decepcionado, o garoto cede à leitura de Os hábitos de acasalamento do Dracus comum– sim, o livro do Cronista. Não muito tempo depois, Lorren surge e o chama para conversar numa das salas reservadas do Arquivo. Mais um desencorajamento a prosseguir com sua pesquisa sobre o Chandriano. Não é engraçado que Kvothe pareça estar sempre sendo desmotivado a ir atrás de mais informações sobre o grupo e os Amyr?


― Tenho enorme respeito pela curiosidade ― repetiu. ― Mas outros não pensam como eu. E eu não gostaria de ver o seu primeiro período letivo desnecessariamente complicado por coisas desse tipo. Imagino que a situação já lhe será bastante difícil sem essa preocupação adicional. 

Retornando um pouquinho, você lembra que eu falei sobre o fato de Lorren parecer ter conhecido Arliden? Então. Esse final do capítulo 38, em que o Arquivista-Mor repreende tão duramente Kvothe por estar atrás do Chandriano, me fez pensar se Lorren e Arliden realmente não conversaram, mesmo que por cartas, sobre o grupo. Pergunto-me se Lorren já não sabe o destino que tiveram os Edena Ruh, e se por algum acaso ele não teria conhecimento de que todos foram mortos em virtude da pesquisa de Arliden sobre o Chandriano. Foi tão insistente e tão "destruidor de sonhos" ao conversar com Kvothe... Será que quer poupá-lo de algo? Ou quer impedi-lo de saber mais por ter qualquer tipo de ligação com um dos grupos?
Algum leitor, porém, perguntou a Rothfuss sobre o motivo de Lorren conhecer Arliden. O autor foi categórico em dar uma resposta que descarta qualquer teoria mais conspiratoriazinha. Mas eu gosto de pensar que se fosse algo importante envolvendo os dois, especialmente a aparecer no terceiro livro, Patrick com certeza não entregaria assim de bandeja. Mas caso você esteja curioso, essa foi a resposta:

Nós escrevemos muitas músicas, e muitas delas foram gravadas e atribuídas a ele [Arliden]. Mas há muitas canções nos arquivos que foram coletadas e não são atribuídas a ninguém. Lorren estava indo pedir para que Kvothe o auxiliasse para catalogá-las, antes que Kvothe tivesse seu ataque ao final do capítulo 36 [quando pensa que sua taxa de matrícula era de três talentos, por não ter prestado atenção que na realidade constava como menos três talentos].
Você quer acreditar nisso? Mesmo que meu bom senso diga que é muito provável que seja apenas o que Patrick afirmou e pronto, eu me recuso. Tudo por conta da minha teimosia em deixar as coisas mais interessantes, especialmente em se tratando de A Crônica do Matador do Rei. Ah, aliás, você confere a entrevista de Rothfuss nesse link, em que ele responde outras perguntas relacionadas ao exame de admissão de Kvothe.
Curiosidade: nesta mesma entrevista, Rothfuss diz que não pode dizer muito sobre as várias religiões mortas que fazem parte do universo dos livros porque quer aproveitá-las em futuras histórias. Mais tarde, quando perguntam se ele está planejando MAIS LIVROS (no plural, e isso com O Nome do Vento e O Temor do Sábio já publicados), ele responde que SIM. Indícios de que teremos mais que Doors of Stone? Com certeza! #EuAcredito.


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Capítulo 39 – Corda suficiente

Penso que este título do capítulo tem três interpretações distintas. Para mim, paraense, que estou habituada a ouvir a expressão "pegar corda" semelhante à "se chatear/ser provocado", penso que Corda suficiente traduz que Kvothe foi provocado para fazer o que fez. Por outro lado, numa interpretação mais ampla, também pode querer dizer corda suficiente para se enforcar. Com o resultado final no próximo capítulo, nós vemos que de fato houve corda suficiente para que Kvothe e Hemme se enforcassem, cada um ao seu modo.
Enfim, deixando essas reflexões de lado, vamos ao capítulo em si. Após ter dito a Hemme no capítulo anterior que dominava as Simpatias e conhecia muita coisa que o professor sequer abordara, e mesmo que o mestre tenha fingido não se importar, Kvothe é “retaliado” na aula seguinte quando Hemme diz para os estudantes que é ele quem dará o conteúdo. O garoto aceita o desafio, e dispondo de alguns materiais limitados, leciona a melhor aula de Simpatia possível. Ele não faz apenas uma conexão, mas duas – lembra do Alar que Abenthy lhe ensinou? Da “convicção de rebenque”? E assim, com um pouco de vela derretida, um fio de cabelo de Hemme e fogo, Kvothe envergonha o professor em frente de toda a turma enquanto ensina, de uma só vez, os princípios básicos da Simpatia.
Palmas para ele? Sim, de certa forma. Mas é perigoso ter um professor como inimigo, como o próprio garoto vem a descobrir mais tarde. Especialmente se você, através de uma conexão de simpatia, queima as pernas dele.
Aproveitando a vitória para cima de Hemme, Kvothe se curva diante da plateia de alunos como se estivesse no final da apresentação de uma peça dos Edena Ruh. Claro que é ovacionado, pois nenhum daqueles alunos (com motivos) parece gostar de Hemme e meio que se sentem vingados. A arrogância de Kvothe, porém, não é benéfica. Percebo que é aqui que o garoto começa a inflar o próprio ego. Como a gente bem sabe, muita coisa acontece em decorrência disso, muitas perdas e decepções. Não obstante, a humildade em excesso, como aquela que consumiu Kote, o hospedeiro, também não é boa coisa. O que falta tanto a Kvothe quanto a Kote é o equilíbrio entre arrogância e humildade.


Capítulo 40 – No chifre

E Kvothe vai para o Chifre. Mal pôde saborear sua vitória (e o jantar): ainda no mesmo dia, porém pela noite, o garoto é convocado à sala dos professores. A notícia do que fizera com Hemme percorrera toda a Universidade, mas a admiração dos estudantes não seria capaz de poupá-lo de uma punição. Assim, logo após o jantar (pois Kvothe se recusa a deixar a refeição pela metade, após tantos anos passando fome em Tarbean), o garoto se encontra diante dos mestres da Universidade.



Após a "chamada" dos mestres, para atestar que todos estão presentes, o Reitor declara as infrações cometidas por Kvothe e suas respectivas penas. Tendo ouvido tão somente Hemme e sua versão tendenciosa dos fatos, a acusações são as seguintes: uso não autorizado de simpatia (com pena de no mínimo 02 açoites e no máximo, 10) e violação das normas (no mínimo 04 chicotadas e no máximo 15, além de expulsão da Universidade). Como Hemme foi o ofendido, ele escolhe quantas chicotadas serão aplicadas: treze. Se Kvothe não houvesse, após o choque, recordado as palavras de Abenthy e erguido o Coração de Pedra ao seu redor, essa de fato seria sua punição, além da expulsão. 

Essas palavras mexeram com alguma coisa dentro de mim. Eram as mesmas que Ben havia usado centenas de vezes, ao me questionar incessantemente numa discussão. Suas palavras me voltaram à lembrança, numa admoestação: Como? Nenhuma defesa? Qualquer aluno meu deve ser capaz de defender suas idéias contra um ataque. Não importa como você leve sua vida, sua inteligência o defenderá melhor do que uma espada. Trate de mantê-la afiada!
Tornei a respirar fundo, fechei os olhos e me concentrei. Após um longo momento, senti a fria impassibilidade do Coração de Pedra me envolver. Meu tremor cessou.
E então Kvothe começa a argumentação para salvar a própria pele. Com toda a turma tendo presenciado os fatos e podendo corroborar o que está dizendo, ele afirma que foi Hemme quem lhe chamou para dar a aula, e autorizou-o a usar simpatia. Aliás, foi o próprio mestre quem cedeu um fim de cabelo, deixando claro, com essa atitude, que não se importava em ser usado como exemplo na aula improvisada. Após certo debate, por maioria de votos chega-se à decisão de retirar as acusações anteriores e substitui-las por uso temerário da simpatia, cuja pena Hemme escolhe como três chicotadas. Kvothe, ainda envolvido pelo Coração de Pedra, não reage muito a essa informação.
Aproveitando a ocasião, o garoto relembra o Reitor da condição que este impôs em seu exame de admissão para que entrasse no Arcanum: assim seria tão somente se Kvothe comprovasse o domínio dos princípios básicos da simpatia. Impressionou até mesmo Kilvin, o Simpatista-Mor, pois fez uma conexão dupla, coisa que muitos membros antigos do Arcanum sequer eram capazes de fazer.
Em suma, corda suficiente. Corda suficiente para Kvothe enforcar a si mesmo, uma vez que ainda assim recebeu punição pelo que fez, e corda suficiente para Hemme enforcar-se, pois embora tenha conseguido prejudicar Kvothe, assegurou também que o garoto entrasse no Arcanum em seu primeiro período.
O resto do capítulo mostra Kvothe sendo recepcionado no quarto andar do Cercado, cumprimentado por todos os demais alunos do primeiro período, felizes por sua primeira conquista. Não muito depois, surgiu um encarregado do terceiro andar (onde ficam os membros do Arcanum) avisando que Kvothe deveria passar a dormir lá, o que o garoto faz após arrumar os parcos pertences. A diferença entre os ambientes é gritante: nenhum sorriso ou recepção animada. Os membros antigos do Arcanum estão ressentidos com aquele garoto que mal chegou à Universidade e já está ali, com eles.
De qualquer forma, pode-se afirmar que as aventuras de Kvothe oficialmente acabaram de começar.


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Caí na ressaca literária. E agora?

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Como evitar e se livrar da temível ressaca literária

Ela é o pior pesadelo de qualquer leitor. Tentamos fugir, mas eventualmente vamos cair em suas garras. A ressaca literária nos pega de jeito e não há muito que possamos fazer. Hoje, portanto, quero lhe mostrar alguns meios de amenizá-la.



Resolvi falar sobre este tema porque sei que muitos de meus amigos leitores acabam se aborrecendo com o fato de que, infelizmente, não há remédio para a ressaca literária. Eu mesmo já passei por ela algumas vezes. A última foi nas férias de verão. Li, no fim de janeiro, toda a saga Maze Runner (James Dashner). Tal leitura me deixou exausto, e não consegui sequer pensar em ler outra obra até ontem, quando iniciei 1984 (George Orwell). Mas em que consiste a ressaca literária, afinal?
Ela vem, principalmente, de duas maneiras: logo após você ler um livro tão bom que não consegue aceitar seu fim, ou quando lê muitas obras de um mesmo gênero em sequência. Imagine, por exemplo, que você leu David Copperfield (Charles Dickens), que é, em minha opinião, um livro excelente. Como iniciar outra leitura depois de ter lido algo tão magnífico? Ou então, imagine que fez como eu: em uma semana, leu uma saga inteirinha e o tema ficou saturado. Então você pensa: “caí na ressaca literária. E agora?”
Mas tenha calma, amigo. Estou aqui para lhe ajudar. Listei algumas formas de evitar a ressaca literária. Seguindo estes passos, você dificilmente se deparará com ela.

  • Leia diferentes gêneros. Assim, sua mente não ficará tão cansada de um determinado assunto. Se hoje você terminar um suspense, amanhã comece uma fantasia épica. Depois, vá para um juvenil e, mais tarde, uma ficção científica. Essa rotação vai lhe ajudar a conhecer outras obras, além de não permitir que você fique cansado de um tema específico.
  • Entenda que abandonar um livro não é o fim do mundo. Eu sei, é difícil. Você vê uma resenha, se empolga, vai à livraria e gasta 30 ou 40 reais em um livro que pode não ser empolgante. Depois de tanto hype e de certa quantia de dinheiro ter sido gasta, pensar em abandonar a leitura machuca o coração. Mas você não precisa se desfazer do livro. Deixe-o na estante por mais um ano ou dois. Talvez, com o passar do tempo, seu interesse por aquele tema se intensifique e a leitura possa, enfim, ser concluída.
  • Não se pressione. Se o livro não está bom, deixe-o de lado e comece outro. Quando a leitura não é feita por prazer, mas por pressão, não há motivo para mantê-la. Colocar metas do tipo “volto a ler em uma semana” não funcionará, acredite. Vá com calma e não exija muito de si. Estabeleça um ritmo de acordo com sua capacidade de leitura e só o aumente quando sentir-se pronto para isso. Até lá, pegue seu chá, enrole-se na coberta e leia como se não houvesse amanhã.

Agora imaginemos que você já tenha caído na ressaca. Há cura? Não. Apenas o tempo fará com que você volte a criar interesse pela leitura. No entanto, há como aliviar o problema.

  • Pule para o próximo da fila. Como citei anteriormente, não há motivo para dar continuidade a uma leitura se nela não há prazer. Portanto, gostaria de encorajá-lo a seguir em frente. Dê preferência a livros menores, com temas mais leves. Uma compilação de contos ou crônicas poderia lhe ajudar. Além disso, blogs literários ou sobre qualquer outro assunto podem ser de grande utilidade. No geral, blogs costumam ter textos menores, facilitando a leitura.
  • Dê tempo a si mesmo. Pode demorar, mas você vai voltar a ler. Enquanto isso, coloque seu cronograma de séries em dia, dê aquele gás nos estudos e faça uma bela faxina em casa. Atividades assim lhe ajudarão a esfriar a cabeça.
  • Faça uma releitura. Pegue seu livro favorito, ou algum que traga boas memórias, e comece de novo. Essa nostalgia vai fazer com que, aos poucos, você crie novo interesse pela leitura.

A ressaca pode ser vencida (posso ouvir um “amém”?). Quando voltar a ler, você vai sentir-se arrepiado, entusiasmado, como se estivesse lendo seu primeiro livro. E essa, nós sabemos, é a segunda melhor sensação que existe (porque a primeira é cheirar livros novos).



O artigo “Caí na ressaca literária. E agora?” foi escrito por Lucas Bitencourt.

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Novidade || Caveirinha no mundo dos quadrinhos

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Sim, nós já sabíamos! Conforme divulgado aqui, a DarkSide Books já havia confirmado o lançamento do selo #TokyoTerror desde o ano passado. Porém, provavelmente por gostar de nos ver sofrer de ansiedade, não falou muito mais sobre o assunto desde então. Eis que hoje, sem aviso prévio, vem a bomba: a Caveirinha não apenas se fará presente no mundo dos mangás, mas das graphic novel como um todo também! Através de um release liberado aos parceiros, a Dark confirmou o lançamento de Fragments of Horror, que já aguardávamos, bem como de outros títulos, como Meu Amigo Dahmer e Wytches. Segundo o material oficial divulgado, as edições virão em capa dura, como sempre, e poderão fazer parte das outras linhas da editora, como por exemplo DarkLove e Crime Scene. Enfim, vamos conhecer um pouquinho dos lançamentos?


Meu amigo Dahmer
Estudando com um serial killer
Previsão de lançamento: 28 de junho 
Número de páginas: 288
Autor: Derf Backderf

Será possível identificar os traços de personalidade de um assassino antes mesmo que ele comece a matar? Imagine descobrir que um amigo seu de escola acabou se transformando num dos mais temidos serial killers do século? Essa é a história real que o quadrinista Derf Backderf relata na graphic novel Meu Amigo Dahmer.
Meu Amigo Dahmer traz o perfil do psicopata Jeff Dahmer quando este ainda era um aluno do ensino médio. O autor do livro foi seu colega de turma nos anos 1970, e conviveu com o futuro “canibal de Milwaukee” com uma intimidade que Dahmer talvez só viesse a compartilhar novamente com suas vítimas. Juntos, Derf e Dahmer estudaram para provas, mataram aula, jogaram basquete.


Os dois tomaram rumos diferentes, e Derf só voltaria a saber do amigo pelo noticiário, anos depois. Em 1991, os crimes de Jeffrey Dahmer vieram à tona: necrofilia, canibalismo e uma lista de pelo menos 17 mortos, entre homens adultos e garotos. O primeiro assassinato teria acontecido meses após a formatura no colégio.
Além de remexer nos seus velhos cadernos e álbuns de fotografia, Derf consultou seus amigos de adolescência, antigos professores, os arquivos do FBI e a cobertura da mídia após a descoberta de seus crimes antes de roteirizar Meu Amigo Dahmer. Muitos tinham histórias do garoto que costumava fingir surtos epilépticos, que exagerava na bebida antes mesmo de ir para a aula e que parecia ter uma fixação em dissecar os animais atropelados que encontrava perto de casa. Mas quem realmente poderia prever os caminhos sombrios pelos quais ele seguiria? Seria possível evitar tamanha tragédia? Leia e tente tirar suas próprias conclusões.
Meu Amigo Dahmer, a história (em quadrinhos) antes da história, foi premiada no Festival de Angoulême, França, em 2014, e incluída pela revista Time como um dos cinco melhores livros de não ficção de 2012. A primeira HQ da coleção Crime Scene inaugura a publicação de histórias em quadrinhos, graphic novels e mangás pela DarkSide® Graphic Novel.



Fragmentos do Horror
do mestre do terror japonês Junji Ito
Previsão de lançamento: 26 de julho
Número de páginas: 224
Autor: Junji Ito

Kowai! É assim que se diz “assustador” em japonês. E poucas coisas podem ser mais kowai do que um mangá assinado por Junji Ito. Mestre do terror em quadrinhos, Ito combina o surrealismo e o escatológico em suas histórias. O resultado é sempre bizarro, mas ainda assim — ou quem sabe até por isso mesmo — belo.
Se você tem coragem (e estômago), não pode perder Fragmentos do Horror, primeiro livro de mangá publicado pela DarkSide® Books.


Fragmentos do Horror é uma coleção de histórias curtas, perfeitas para quem quer experimentar o que essa mente tão delirante é capaz de produzir. Ito-san oferece ao leitor nove encontros com o desconhecido. Cada quadrinho pode ser fatal, cuidado! Entre as histórias da coletânea, temos uma mansão velha de madeira que gira sobre seus habitantes. Uma turma de dissecação com um assunto nada comum. Um funeral em que os mortos definitivamente não são postos para descansar. Variando do aterrorizante ao cômico, do erótico para o repugnante, essas histórias apresentam o retorno de Junji Ito há muito aguardado para o mundo do horror.
Fragmentos do Horror faz parte da nova coleção DarkSide® Graphic Novel Tokyo Terror e, como todos os títulos da Caveirinha, vem numa caprichosa edição em capa dura. A tradução foi feita diretamente do japonês e a publicação segue a orientação original, da direita para a esquerda — como tem que ser.
Para quem curte quadrinhos, terror e cultura oriental, Fragmentos do Horror é uma grande pedida. E para quem é fã de mangá, não tem nem o que discutir: mestre Junji Ito é obrigatório. Kowai desu.


Wytches
“Eu não acredito em bruxas; mas que elas existem, existem.”
Previsão de lançamento: 26 de julho
Número de páginas: 192

Autor: Scott Snyder e Jock
Esqueça tudo o que você já ouviu falar sobre bruxas; quase todas as informações devem estar erradas, de qualquer forma. Aquilo que você aprendeu na escola — que, por séculos, centenas de pessoas foram queimadas, torturadas, perseguidas e assassinadas por bruxaria — é um fato. O que ninguém contou para você é que essas pessoas morreram para proteger uma terrível realidade escondida dos meros mortais: bruxas, bruxas de verdade, existem e estão por aí. Elas são criaturas muito mais perversas e diabólicas do que você poderia pensar — e, portanto, muito mais assustadoras. Ver uma é coisa rara; sobreviver a elas é mais raro ainda.
É por isso que quando a família Rook se muda para Litchfield, uma remota cidadezinha de New Hampshire, tentando escapar de uma experiência horrível ao recomeçar do zero, eles não entendem que algo sinistro vive nas florestas ao redor da cidade. Algo que os observa, esperando apenas por uma oportunidade. Algo muito antigo... e voraz. Você até pode conseguir feitiços e milagres delas, mas, para isso, vai precisar pagar o preço. Pai e filha vão descobrir que recomeçar pode ser bem mais difícil quando há uma conspiração secular que envolve a sua família em curso.


Com reviravoltas chocantes e uma arte de arregalar os olhos, capaz de combinar medo e beleza, esta é uma obra sobre bruxas que deve ser levada a sério. Scott Snyder já provou suas habilidades como roteirista durante seu tempo escrevendo as HQs do Batman, uma das fases do herói mais aclamadas pela crítica e pelo público nos últimos tempos. Para esta série, ele chama o desenhista Jock, que além de também ter trabalhado em Batman, fez artes conceituais para Star Wars — Os Últimos Jedi e o filme ganhador do Oscar Ex-Machina: Instinto Artificial. Com isso, Wytches extrapola a mitologia das bruxas em algo muito mais profundo e amedrontador do que os leitores estão acostumados. Esqueça as escolas de magia, as casas de doces e as maçãs envenenadas; aqui, as bruxas são realmente perigosas e quando você é jurado para elas... bem, tudo que a Caveira pode dizer é que as coisas não terminam muito bem.
Com todos os materiais extras presentes na edição original — rabiscos, esboços, processos de colorização e textos do autor que explicam a origem do conceito de Wytches — essa é uma edição para ninguém botar defeito. Além disso, como os fãs são os únicos e exclusivos donos do coração da Caveirinha, ela chamou Érico Assis para fazer com que essa história chegasse da melhor maneira para o público brasileiro. Agora, só resta uma questão, querido fã... você jura que está preparado para Wytches?


E aí, o que vocês acharam? Eu só sei que fiquei extremamente curiosa/ansiosa por cada um dos títulos. Pode mandar mais mangá e graphic novel, Caveirinha! Com o selo DarkSide de qualidade sempre 💗 Fiquem agora com imagens em alta definição das capas:





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#RelendoKvothe || Releitura de O Nome do Vento – Parte 5

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Certo, mais um atraso. Mas você vai me perdoar depois dessa semana um tanto quanto agitada. Dessa vez não foram apenas provas (que felizmente acabam na próxima sexta), mas também uma cirurgia de emergência que meu irmão precisou fazer e cancelamento de planos de viagem para o Rio de Janeiro, onde eu estava planejando encontrar alguns leitores. Some isso à indisposição após uma gripe adquirida no sábado. Mas tudo bem, vida que segue, certo?
Conhecemos Elodin e Devi, e acho que esses simples fatos valeram a pena a leitura de todos os dez capítulos (que, aliás, foram interessantes, embora não tenham sido os mais interessantes até agora). Vamos à análise?

Capítulo 41 – Sangue de amigo


Quadragésimo primeiro capítulo. O tempo passa voando, não? Kvothe, em tão pouco tempo na Universidade, estabeleceu um recorde: conseguiu entrar no Arcanum no primeiro bimestre. Por outro lado, também será açoitado em público pelo ocorrido com Hemme– o que, aliás, é culpa dos dois: talvez se odeiem por serem tão parecidos, ambos presunçosos e orgulhosos.
Este capítulo traz a punição de Kvothe. E mais uma vez, como eu já havia comentado anteriormente, ele desmitifica algo que o acompanha até mesmo enquanto Kote, anos depois: o título “Sem-Sangue”. Antes de ser açoitado, ele revela que tomou nahlruta, o que provocou efeitos como redução de dor e uma espécie de estancamento do sangue. Ou seja, Kvothe não sangrou conforme o esperado ao levar as três chicotadas diante de centenas de alunos da Universidade. Por um lado, isso foi uma vitória particular, já que pareceu forte diante de todas aquelas pessoas e não sofreu como o Mestre Hemme esperava. Por outro... Bem, existe o karma. E eu acredito que ele aja fortemente nesse livro.

Depois disso, ignorando a queimação nas costas, pus os pés no banco e soltei os dedos que agarravam a argola de ferro. Um rapaz deu um pulo à frente, como se esperasse ter que me segurar. Lancei-lhe um olhar sarcástico e ele recuou. Peguei a camisa e a capa, coloquei-as cuidadosamente sobre um dos braços e me retirei do pátio, ignorando a multidão silenciosa que me cercava. 

Ah, no capítulo 41 temos uma menção bem rápida ao Marionetista, a figura curiosa e misteriosa até mesmo para quem já seguiu com a leitura de O Temor do Sábio. Teorias sobre esse personagem? Eu até tenho algumas, e a menos bizarra é aquela que diz que é filho de Lorren. Essa, porém, é um pouco racional demais – e me desculpe, mas aqui não trabalhamos com coisas racionais. Se não for teoria louca e que exploda minha cabeça com um fundo de lógica, estou fora.

As cicatrizes do açoitamento de Kvothe. Arte de emmgoyer7.


Capítulo 42 – Sem Sangue

Kvothe se encaminha à Iátrica com Mestre Arwyl para ser costurado, como o professor havia orientado anteriormente. Arwyl se surpreende com a limpeza do corte e o fato de não ter saído tanto sangue. Mas, é claro, se ele não descobrisse que Kvothe ingeriu nahlruta, eu teria desconfiado muito de suas habilidades como fisiopata. Porém, mesmo sendo um professor e desaprovando a atitude, Arwyl compreende. E deixa uma lição que muitos adultos parecem ter esquecido hoje em dia, afinal de contas.

(...) Quem pensa que os meninos são meigos e inocentes nunca foi menino, ou já se esqueceu como é. E quem pensa que os homens não são ferinos e cruéis de vez em quando provavelmente não sai muito de casa e com certeza nunca foi fisiopata. Nós vemos os efeitos da crueldade mais do que qualquer outra pessoa.  


O capítulo é curto, mas antes que termine conhecemos mais uma peça no quebra-cabeças que a Universidade foi para Kvothe: a Re’lar Moula, aprendiz de Arwyl (cujo nome no inglês, a título de curiosidade, é Mola, então acho que dá para perdoar terem trocado na tradução).

Mola by PetaloMaM
Moula por PetaloMaM.


Capítulo 43 – O caminho bruxuleante

O caminho bruxuleante para fora do Arquivo para sempre, talvez?
Este capítulo é o karma agindo. Veja bem, o dia ainda não havia terminado. Foi uma sequência de: punição com açoites → Iátrica  Arquivo. Kvothe ainda estava sob os efeitos da nahlruta, que reduziam seus reflexos e deixavam-no sem aquele escudo de desconfiança que havia adquirido em Tarbean e costumava protegê-lo do mundo exterior. Após flagrar Ambrose tentando uma investida contra Feila na entrada do Arquivo, Kvothe não apenas o enfrentou, mas também acabou por humilhá-lo na presença da estudante. O que se mostrou um erro no mesmo momento, mas o garoto não notou em razão da nahlruta
Enfim. Após uma breve troca de farpas, e Feila ter encontrado uma oportunidade para fugir, Ambrose pareceu se resignar e permitir que Kvothe entrasse no Acervo. Cobrou a Taxa do Acervo – inexistente, na realidade, mas Kvothe foi tapeado e deu um talento inteiro, que era metade das economias que possuía. Ambrose cedeu-lhe uma vela também, como um gesto de gentileza, já que os caminhos do Acervo eram escuros demais e não havia luz suficiente lá dentro. O raciocínio é simples: sabe-se que Lorrené neurótico com seus livros, certo? Então com certeza a última coisa que iria querer perto deles é uma vela. E foi exatamente o que Kvothe, ludibriado por Ambrose, levou consigo.


Kvothe in the Archives by killer-umbrella
Kvothe em seus últimos minutos no Acervo antes de ser banido dos Arquivos. Arte de killer-umbrella.
Antes de o novo estudante do Arcanum ser flagrado e levado até Lorren, porém, ele vê as portas de pedra. Sim, as famosas e especulativas portas de pedra do Acervo.

Uma arte de capa fake feita por Eric Summers para Doors of Stone, que mostra Kvothe e Denna diante da porta de pedra com quatro chapas de metal do Acervo.

Era de um pedaço sólido de pedra cinzenta, da mesma cor das paredes circundantes. O umbral tinha 20 centímetros de largura, também cinzento e também feito de uma única peça inteiriça de pedra. A porta e o umbral tinham encaixes tão justos que seria impossível enfiar um alfinete em suas frestas.
Sem dobradiças. Sem maçaneta. Sem janela ou painel corrediço. Sua única característica eram quatro chapas duras de cobre. Ficavam grudadas na lâmina da porta, que se nivelava com a frente da moldura, a qual era nivelada com a parede ao redor. Podia-se passar a mão de um lado ao outro da porta praticamente sem notar qualquer divisão.
Apesar dessas ausências notáveis, aquela vastidão de pedra cinzenta era sem dúvida uma porta. Cada chapa de cobre tinha um furo no centro e, mesmo não sendo do formato convencional, certamente se tratava de fechaduras. Lá estava ela, imóvel como uma montanha, serena e indiferente como o mar num dia sem vento. Não era uma porta para ser aberta. Era uma porta para permanecer fechada.
No centro dela, entre as chapas imaculadas de cobre, se via uma palavra gravada na pedra, em baixo-relevo: VALARITAS.

E aqui o sinal das teorias acende e apita enlouquecidamente. O que poderia ser?! Suponhamos que Valaritas esteja escrito em têmico, o idioma do universo de Patrick Rothfuss que parece se aproximar bastante do latim. Se você jogar no Google pela tradução do termo, obviamente não irá encontrá-lo. Por outro lado, em latim temos a palavra Veritas, que significa Verdade. Será que poderia ser essa a tradução? Alguns usuários do Reddit acham que sim. Considerando que seja de fato Verdade, poderíamos esperar o que atrás das portas de pedra? A Verdade sobre a Vida, o Universo e Tudo Mais? Livros sobre o Chandriano e o Amyr, assuntos sobre os quais Lorren desencoraja fortemente Kvothe a ir atrás? O túmulo de um rei morto? Segredos sobre a mesma magia que Lanre aprendeu antes de se tornar Haliax? Os Nomes de Todas as Coisas? Será que são a essas portas de pedra que o título do próximo livro se refere? Façam suas apostas.

Enfim, logo Kvothe é encontrado por dois estudantes e levado até Lorren. O mestre, como era de se esperar, fica fora de si, mas daquele seu jeito bem medonho. A sentença: Ambrose, cínico e colocando toda a culpa em Kvothe, está detido por negligência no cumprimento de seu dever. Kvothe, por outro lado, incapaz de contra-argumentar e provar que foi ludibriado por Ambrose, foi banido do Arquivo.

Posso soltar aqueles devaneios loucos durante os comentários sobre os capítulos? Posso. Como por exemplo: será que Lorren baniu Kvothe porque ele estava portando vela no Arquivo, ou porque ao ouvir que ele estava perto da “escada sudeste”, sabia que era próximo às portas de pedra, e resolveu bani-lo para que o garoto nunca mais se aproximasse das quatro chapas de metal e da Valaritas – Verdade que se esconde por trás delas (quem sabe tudo sobre o Chandriano e os Amyr)? Sei, forçação de barra. Mas possível.

Antes que alguém pudesse dizer mais alguma coisa, Lorren irrompeu cômodo adentro. Sua expressão, normalmente plácida, mostrava-se feroz e dura. Comecei a suar frio e pensei no que Teccam escrevera em sua Teofania: Há três coisas que todo homem sensato deve temer: o mar durante a borrasca, as noites sem lua e a ira de um homem gentil

― Intenção? Pouco me importam as suas intenções, E’lir Kvothe, equivocadas ou não. A única coisa que importa é a realidade dos seus atos. Sua mão segurou o fogo. A culpa é sua. Esta é a lição que todos os adultos devem aprender.


Banido do Arquivo e de volta ao Rancho, Kvothe encontra Simmon e Manet. A multidão de alunos o vê e o burburinho começa, recordando seu açoite público pela manhã e o fato de o garoto não ter sangrado. Assim se cria uma lenda, certo? Tendo Kvothe gostado ou não de ser o centro das atenções naquele momento, é algo a que o garoto terá de se acostumar.
De toda a conversa entre os três, apreendemos algumas coisas: Ambrose e Kvothe não são pessoas que você gostaria de ter como inimigos; o primeiro é herdeiro primogênito e está na sucessão do trono de Vintas; o segundo está determinado a ter sua vingança. Peço que você relembre a noção de vingança de Kvothe, e o que ele fez com
Pike deliberadamente e de forma cruel.


Capítulo 44 – O vidro ardente

Utilizando novamente Harry Potter como comparação, se eu fosse escolher uma relação semelhante para comparar a que se estabelece entre Kilvin e Kvothe, certamente seria Hagrid e Harry. Além da semelhança física que comentei na parte IV – ambos são grandes e peludos como ursos –, a gente percebe no capítulo 44 que uma relação de confiança está timidamente sendo construída. Mais tarde, quando Willem, Simmon, Sovoy e Kvothe estão na Ankers comemorando a primeira onzena completa de Kvothe no Arcanum, e tocam no assunto de patrono, fica bem evidente quem poderia ser o mestre-patrono do ruivo: Kilvin. Até que Elodiné mencionado na conversa.
O que sabemos sobre Elodin? Que é um personagem fascinante, com certeza. Um pouco maluco, ele recorda muito outra pessoa que quem já leu os livros conhece muito bem – Auri. Nomeador-Mor, um dia também foi Reitor, o que deixa Kvothe genuinamente surpreso. Wil e Sim comentam que Elodin já foi mantido preso no Aluadouro quando enlouqueceu (a palavra não lembra um pouquinho abatedouro?), e que fugiu de lá, apesar de ser extremamente improvável até mesmo para um professor conseguir fugir dos quartos do lugar. A conexão de Kvothe à história do Grande Taborlin foi imediata, com especial atenção ao fato de Elodin ser nomeador, o que recordou as narrativas contadas por Skarpi. Ou seja, é previsível quem será o novo alvo de Kvothe na Universidade.

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Mestre Kilvin, também conhecido como melhor pessoa por mim. Arte de Shane Tyree.


Capítulo 45 – Interlúdio: Uma história de taberna

Aqui Kote retorna ao presente. Mas há uma ligeira diferença. Ele não está mais sendo chamado de Kote pelo narrador. Tínhamos aprendido a fazer uma ligeira distinção entre Kvothe, o das aventuras, e Kote, o dono da Marco do Percurso (que aqui é mencionada como Marco do Caminho, o que imagino ter sido mero erro de revisão). Ambos eram a mesma pessoa, mas ao mesmo tempo, extremamente diferentes. Ali, entretanto, naquele interlúdio das páginas 296/297, Kote foi chamado de Kvothe o tempo inteiro. O ruivo recontar sua história talvez tenha causado efeitos muito maiores do que ele mesmo imagina. Será que, aos poucos, Kvothe retomou seu lugar ali dentro? Isso tudo pode soar insignificante... A não ser que, como eu, você imagine que há algum motivo que o obrigou a alterar o nome. Por exemplo, como se ele tivesse perdido o direito ou a capacidade de usar seu nome. Se você pensa em algo parecido, as coisas tomam um significado muito mais robusto nesse capítulo.
O interlúdio é, afinal, a introdução perfeita a Elodin. Kvothe explica porque não fez como nas histórias: pais mortos, criança sozinha e sofrendo, encontro com o eremita louco que ensina o nome do vento, criança que vira homem e decide cumprir sua promessa de vingança, homem que vai atrás do Chandriano e os mata. Não, as coisas não são assim, conforme Kvothe afirma.
― É claro ― disse Kvothe, com ar pomposo. ― Limpo, rápido e fácil como mentir. Sabemos como termina praticamente antes de começar. É por isso que as histórias nos atraem. Elas nos dão a clareza e a simplicidade que faltam à vida real. 
Kvothe inclinou-se para a frente: 
― Se esta fosse uma história de taberna, toda feita de meias verdades e aventuras absurdas, eu lhes contaria que o meu tempo na Universidade foi gasto numa dedicação pura. Eu teria aprendido o nome eternamente mutável do vento, partiria a galope e me vingaria do Chandriano. ― Estalou os dedos com força. ― Simples assim. Mas, embora isso pudesse render uma história divertida, não seria a verdade. A verdade é esta: fazia três anos que eu vivia o luto pela morte de meus pais, e o sofrimento daquilo tinha-se esmaecido numa dor surda e contínua. 

Kvothe continua, afirmando que nem sempre foi fácil, e que as cenas que presenciava entre pais e filhos faziam uma raiva arder no fundo do seu coração. Porém, sendo racional, o Chandriano não havia nunca mais aparecido na sua vida até aquele momento. Não era essa a coisa mais importante em sua mente. Ele chegara na Universidade, e embora tenha ido com o objetivo de descobrir o nome do vento, matar o Chandriano e encontrar os Amyr, tinha outras coisas mais imediatas com as quais se preocupar. Por exemplo, sobreviver. Inimigos dentro da própria Universidade que eram mais perigosos, naquele momento, do que o Chandriano.
Ainda assim...

― Mas, apesar disso tudo, ainda podemos ver que até a história mais fantasiosa contém um fragmento de verdade, porque de fato encontrei algo muito próximo do eremita louco da floresta. (...) E eu estava decidido a aprender. 


Capítulo 46 – O vento eternamente mutável

Você quer ter uma noção exata de quem é Elodin? O primeiro parágrafo do capítulo 46 é perfeito para isso:
Elodin revelou-se um homem difícil de achar. Tinha um gabinete no Cavus, mas nunca parecia usá-lo. Quando visitei a seção de Registros e Listas, descobri que ele só lecionava uma matéria: Matemática Improvável. Mas isso não chegou a ser útil para encontrá-lo, porque, de acordo com o registro, o horário da aula era “agora” e o local era “todos os lugares”. 

Elodin by OfTheRiot
Elodin. Arte por OffTheRiot.

Elodin é louco e extremamente e abstrato. Retruca Kvothe quando ele afirma que tinha a esperança de falar com o professor, afirmando que um aluno deveria ter aspirações maiores; quando o ruivo diz, então, que gostaria de aprender a arte da nomeação, Elodin alega que é uma meta alta demais. O que temos para agora, então? Foi ordenado que Kvothe buscasse três pinhas com algumas especificidades. E o garoto foi atrás delas. Quando voltou, onde Elodin estava? Em lugar algum. 
Enfim, este capítulo não deixa de ser fascinante. Mostra, pela segunda vez na história, alguém literalmente nomeando algo. Kvothe descobre que não estava tão errado ao associar o que ouvira na Ankers sobre Elodin com a história do Grande Taborlin. Por fim, deixa evidente o quanto o Nomeador-Mor é insano. Mas todos os homens brilhantes o são, não?
Em O vento eternamente mutável Kvothe também conhece Alder Whin, um antigo guildeiro de Elodin. O homem simplesmente enlouqueceu. O mestre parece ter uma afeição especial por Whin, deixando que tenha seu livre-arbítrio ainda que esteja internado no Aluadouro. Whin é o exemplo perfeito dos efeitos que aprender nomeação pode deixar nas pessoas. Elodin dá a entender, de modo geral, que todas as pessoas que estão internadas no manicômio da Universidade estão ali por terem tentado aprender essa arte, afirmando que “a trigonometria e a lógica diagramática não fazem isso”. Talvez por esse motivo Elodin tenha levado Kvothe até ali: para que veja com os próprios olhos e entenda os riscos do que deseja fazer. Em seguida, após se despedir de Whin, Elodin decide visitar o antigo quarto em que ele mesmo foi mantido por dois anos. E é lá que ocorre o que tanto surpreende Kvothe.

― Ora! ― exclamou Elodin, de repente, rindo. ― Foi quase esperto por parte deles! ― comentou, recuando dois passos da parede. ― CYAERBASALIEN.
Vi a parede mover-se. Ondulou-se como um tapete pendurado e sovado com um pau. Depois simplesmente... ruiu. Feito água suja derramada de um balde, toneladas de areia cinzenta se espalharam pelo chão num jorro súbito, enterrando os pés de Elodin até as canelas.
A luz do sol e o canto dos pássaros inundaram o quarto. Onde antes houvera 30 centímetros de sólida rocha cinzenta havia agora um enorme buraco, tão grande que uma carroça poderia cruzá-lo. 

Fico imaginando se Elodin não disse apenas “Quebre!” para a parede, como na história do Grande Taborlin que o próprio professor narrara instantes antes, quando Kvothe pergunta sobre como ele conseguiu fugir da primeira vez. Então o garoto, por algum motivo que eu desconheço, ouviu o verdadeiro nome do que quer que seja o material daquelas paredes.
O final é um contraste hilário com a história do Grande Taborlin. Elodin desafia Kvothe a pular do telhado. O garoto, recordando o desfecho de Taborlin e com a certeza de que Elodin deveria saber o nome do vento, apostou suas fichas que o mestre apararia sua queda antes que chegasse ao chão. Isso, claro, não aconteceu. Kvothe teve uma concussão, costelas quebradas e um ombro deslocado. Mas nem mesmo este acontecimento o fez desistir de Elodin: não tivesse o professor descartado o garoto em razão de sua loucura de ter aceitado o desafio, provavelmente Kvothe teria pedido para Elodin ser seu patrono, e não Kilvin.



Capítulo 47 – Alfinetadas

Aqui Kvothe discorre brevemente sobre seu primeiro período letivo. Após o começo turbulento, as coisas foram bem. A amizade com Wil e Sim foi fortalecida, bem como o ódio entre Kvothe e Ambrose. Durante este mesmo período que o ruivo adquiriu o hábito de engrandecer os boatos que existiam sobre si, assim como inventou alguns outros e espalhou-os pela Universidade.

(...) Cheguei até a desencadear alguns boatos que eram um absurdo completo, mentiras tão escandalosas que as pessoas viriam fatalmente a repeti-las, a despeito de serem obviamente falsas: eu tinha sangue de demônio; conseguia enxergar no escuro; só dormia uma hora por noite; na lua cheia, falava durante o sono, numa língua estranha que ninguém conseguia entender.
Basil, meu ex-companheiro nos beliches do Cercado, ajudou-me a deflagrar esses boatos. Eu inventava as histórias, ele as contava a algumas pessoas e depois, juntos, nós as víamos espalhar-se como fogo na campina. Era um passatempo divertido.

Mas, entre todas as coisas que Kvothe menciona no capítulo, talvez a mais curiosa seja a observação que faz sobre Ambrose. Enfim a gente percebe que as coisas estão para ficar bem sérias entre os dois, e Kvothe entende porque tantas pessoas se admiram diante de sua atitude de enfrentar o estudante.

As pessoas notavam e, no fim do período letivo, eu já tinha a fama de uma bravura inconseqüente. Mas a verdade é que eu era apenas destemido.Há uma diferença, sabe? Em Tarbean, eu aprendera a conhecer o verdadeiro medo. Temia a fome, a pneumonia, os guardas com pregos de ferro nas botas, os garotos maiores com facas de vidro de garrafa. Enfrentar Ambrose não exigia nenhuma valentia real de minha parte. Eu simplesmente não conseguia sentir o menor medo dele. Para mim, ele era um palhaço empolado. Eu o considerava inofensivo. Fui um idiota.


Capítulo 48 – Interlúdio: um tipo diferente de silêncio

O título deste interlúdio revela o único temor de Bast. O capítulo 48 vê as coisas sob seu ponto de vista, e descobrimos que ele teme o silêncio que costuma envolver Kvothe às vezes. O trecho abaixo reafirma o que a gente já sabe – os dois estão juntos há apenas um ano – e evidencia, mais uma vez, o carinho que Bast nutre por Kvothe. É algo que vai além da relação mestre-aprendiz, e eu só fico mais curiosa para saber como isso tudo começou.

Do mesmo modo, Bast havia adquirido um novo medo nos últimos tempos. Um ano antes, era tão destemido quanto qualquer homem sensato poderia ter a esperança de ser, mas agora Bast temia o silêncio. Não o silêncio comum que vinha da simples ausência de coisas se movimentando e fazendo barulho. Ele temia o silêncio profundo e cansado que às vezes envolvia seu amo como uma mortalha invisível. 

Kvothe introduz uma personagem que já havíamos conhecendo neste mesmo interlúdio. Sim, Denna. Ou de Devi. Sério, eu fiquei perdida. Ele fala de uma mulher como se fosse a última maravilha do mundo, extremamente delicada e digna de contemplação. Minha experiência no relacionamento entre Denna e Kvothe aponta que ele provavelmente estaria falando dela, mas quem surge logo em seguida é Devi. Assim você complica minha vida, rapaz. Porém, levando em conta que em algum momento do futuro Bast faz uma afirmação que nos induz a pensar que já viu Denna, então só pode ser Devi, pois Kvothe afirma que ambos os ouvintes ali nunca a viram.

― Deixe-me dizer uma coisa antes de começar. Já contei histórias no passado, pintei quadros com palavras, contei mentiras terríveis e verdades ainda piores. Certa vez toquei as cores para um cego. Passei sete horas tocando, mas, no fim, ele disse que conseguia vê-las: o verde, o vermelho e o dourado. Acho que aquilo foi mais fácil do que isto. Tentar fazer com que vocês a entendam, sem nada além de palavras. Vocês nunca a viram, nunca ouviram sua voz. Não têm como saber.


Capítulo 49 – A natureza das coisas selvagens

(...) Então, com lento cuidado, e não de maneira furtiva, devemos abordar o tema de uma certa mulher. Tamanha é sua impetuosidade que temo abordá-la apressadamente, mesmo numa história. Se agir com precipitação, posso assustar até mesmo a ideia dela, impelindo-a a uma fuga repentina.

Além dos parágrafos iniciais, com uma profundidade poética, o capítulo 49 mostra as razões que levaram Kvothe a procurar um “raspa-gusas”, ou um usurário. Mais precisamente uma usurária. A descrição apaixonada me levou a pensar que Kvothe estava falando de Denna, mas, pelo motivo que já expus, tenho quase certeza que é sobre Devi mesmo, também chamada de Devi Demônio. Vamos conhecê-la?


Capítulo 50 – Negociações

Devi é tudo o que Kvothe menos espera quando a encontra. Uma usurária pequena, de aparência angelical, com um sorriso descontraído. Quando ele a procura em Imre, após tanto tempo evitando a cidade conhecida como acolhedora de músicos e admiradores das artes, Kvothe se surpreende. A surpresa não se limita à aparência física da garota, mas também às suas condições de empréstimo: para concretizá-lo, é obrigado a dar três gotas do próprio sangue como garantia para a ex-membro do Arcanum.

Devi. Arte por geying.

O antigo Kvothe, aquele lá de Tarbean, tem uma desconfiança apurada de tudo e todos ao seu redor. Perfeitamente ciente das coisas que Devi poderia fazer de posse de seu sangue, ele se recusa veementemente a cumprir a condição. Claro, isso é perfeitamente racional.
Porém, depois que sai do apartamento de Devi, o garoto encontra uma loja com um alaúde velho em exposição. Qualquer traço racional que pudesse estar em sua mente é varrido para longe. Kvothe tem apenas dois talentos e dois iotas no bolso, quantia reservada para a sua taxa escolar do novo bimestre da Universidade. E é esse mesmo valor que ele induz o lojista a lhe vender o alaúde. Eu confesso que o compreendi.

Na aparência, eu segurava o alaúde com ar desprendido, descuidado. Mas, no fundo do coração, agarrava-o com uma ferocidade de branquear os nós dos dedos. Não espero que você compreenda. Quando mataram minha trupe, os membros do Chandriano destruíram cada pedaço de família e lar que eu havia conhecido. Mas, em certos aspectos, tinha sido pior quando o alaúde de meu pai fora quebrado em Tarbean. Tinha sido como perder um membro, um olho, um órgão vital. Sem minha música, eu passara anos vagando por Tarbean, semimorto, como um veterano aleijado ou uma alma penada.

Logo, Kvothe é obrigado a retornar a Devi e concretizar o empréstimo. Assim, o garoto deixa Imre e volta à Universidade com um alaúde para chamar de seu, quatro talentos inteiros que garantirão a taxa escolar e um beliche no Cercado, e menos três gotas de sangue, que agora estão na mão de uma garota conhecida, com certeza não muito carinhosamente, como Devi Demônio. Quanta merda pode acontecer, hein?
Falando um pouco sobre Devi, eu simplesmente amo essa personagem. Em muitos aspectos, ela me faz lembrar o próprio Kvothe, incluindo na aparência. Tão impetuosa e destemida quanto o ruivo, Devi é cativante ao seu modo, e uma competente ex-Arcanum e simpatista. Aposto que seu papel, já relevante desde O Nome do Vento, se mostrará ainda mais importante em As Portas de Pedra.


O que você achou desses dez capítulos? Quais suas teorias sobre Elodin, Devi e Ambrose? Será que a morte sobre a qual o Cronista fala quando reconhece Kvothe é a de Ambrose, diante da Eólica, em Imre?



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Resenha || As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell

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Querido leitor, antes de mais nada preciso avisar que farei uma análise da trilogia completa e não apenas de um único livro. Tentarei não entrar em detalhes da trama para evitar spoilers e focarei nas sensações que os livros passam, assim como seus pontos positivos e negativos.
Bernard Cornwell atualmente é mais conhecido por suas As Crônicas Saxônicas. Para quem acompanha a saga de Uhtred (assim como eu), o primeiro passo para adentrar na história arturiana é compreender que As Crônicas de Artur foram escritas antes de As Crônicas Saxônicas e, portanto, não é justo cobrar da primeira a mesma maturidade literária apresentada na segunda.
As Crônicas de Artur são uma trilogia que retrata uma das mais famosas histórias do Ocidente, que já foi narrada em músicas, filmes, séries, jogos e livros. Mas, se já existem tantas publicações em torno do mito arturiano, por que se aventurar mais nesse? Por causa da assinatura do autor, claro. Cornwell é um especialista em ficção histórica.


Entre os séculos IV e VI d.C., existiu um Artur na Britânia (atual Reino Unido) e teve um papel importante na luta contra os saxões, provavelmente também existiu um Merlin e uma Morgana, assim como outros nomes famosos. A cultura dos bretões não transmitia sua história através da escrita e sim da oralidade, criando um verdadeiro telefone sem fio e nos impossibilitando de chegar perto dos reais acontecimentos daqueles personagens. Cornwell fez uma pesquisa histórica sobre o cenário do século V e das principais fontes históricas que cercam Artur Pendragon, e o resultado é uma boa ambientação, mas com falhas que podem incomodar algumas pessoas. De forma geral o mito e história se entrelaçam nos livros.
O primeiro livro, O Rei do Inverno, irá mostrar a ascensão de Artur. O segundo livro, O Inimigo de Deus, nos apresenta o comandante da Britânia enfrentando as dificuldades de governar. O terceiro livro, Excalibur, mostrará as maiores conquistas e os piores pesadelos da vida de Artur.
A história é narrada em primeira pessoa e o protagonista é Derfel Cadarn. Sim, aqui pode residir o primeiro impacto negativo da leitura. O mais lógico seria esperar uma narrativa pelo ponto de vista do próprio Artur, saber como que a sua mente genial trabalhava, conhecer os medos e sonhos do maior herói bretão. Confesso que demorei um pouco para me acostumar com o protagonista, mas durante o desenvolvimento da leitura a sensação de que faltava algo foi diminuindo e no final do terceiro volume pouco me importava o que Artur estaria pensando.

Derfel Cadarn.

Derfel é um saxão que quando criança viu sua vila ser invadida por britânicos. O druida Tanaburns o jogou no poço da morte, mas Derfel sobreviveu. Merlin viu nisso um sinal de que ele era um favorito dos deuses e o adotou. Circunstâncias infelizes fizeram-no se encontrar com Artur. Acompanhamos Derfel desde que era uma criança até se tornar um idoso e é através dos olhos dele que descobrimos quem foi Artur, Merlin, Morgana, Lancelot, Guinevere, entre outros.
A história começa com Derfel velho, morando em um mosteiro e sem uma das mãos. A pedido da rainha Ingraine, o protagonista irá escrever a história real por trás da lenda de Artur. Ingraine representa os leitores que até então conheciam as histórias arturianas moldadas pelo romantismo e ideais de cavalaria. Logo no início ficam duas perguntas no ar: a primeira é comoDerfel perdeu a mão e a segunda é como ele foi terminar seus dias em um mosteiro. No conflito religioso entre os deuses antigos e o cristianismo, Derfel odeia a igreja e ama os deuses.
No Rei do Inverno a narrativa sofre oscilações; o protagonista ainda não se faz muito interessante e fica longe dos principais acontecimentos. Passamos por momentos de devorar as páginas e de senti-las pesadas, a leitura fica arrastada. Durante O Inimigo de Deus a balança se equilibra, a leitura torna-se mais dinâmica e o protagonista mais interessante, começamos a torcer por Derfel e a compartilhar suas angústias e seus sonhos. E em Excalibur? Fica praticamente impossível pararmos a leitura. Os defeitos do primeiro livro não se fazem mais presentes, personagens pouco explorados nos livros anteriores ganham um destaque perfeito e a trama adquire ares de suspense em sua metade final.


E aquelas falhas históricas que citei anteriormente? Elas ficam por conta da concepção em torno dos druidas que Cornwell criou. Os registros históricos que temos mostra um equilíbrio social entre druidas e druidesas e muitas das ações de Merlin não faziam parte do cotidiano dos druidas. Eu sei que que a obra é baseada em fatos históricos e que ela deve ser preenchida pela criatividade do autor, mas é que nesse caso especifico o acontecimento não incrementa a narrativa e até causa um certo mal-estar se pararmos para pensar o que Merlin realmente fazia. O bom é que só se fez presente no primeiro livro.
Ao longo de toda trilogia somos presenteados com batalhas épicas e viscerais. As famosas paredes de escudos se fazem presentes e as palavras do autor nos transportam até elas. É quase possível sentir o hálito de cerveja do inimigo que nos ataca.

Vale a pena ler as Crônicas de Artur? Se você gosta de ficção histórica, das lendas arturianas, de histórias medievais e/ou dos pontos positivos que levantei, a resposta é sim.



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  Título da Série: As Crônicas de Artur - Trilogia Completa
  Autor: Bernard Cornwell
  Editora/Tradução: Grupo Editorial Record/Alves Calado
  Páginas: 546/496/532.
  Onde Comprar: Amazon || Submarino || Saraiva 





Esta resenha foi escrita por Alex Almeida da Silva.

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